Dados da 8ª edição do Raio X do Investidor Brasileiro, que vieram a público no fim de maio, indicam que os mais jovens seguem impulsionando o mercado de criptoativos no país.
Afinal, as moedas digitais são um objeto de investimento para 4,1% dos entrevistados, no recorte geral. Por outro lado, esse número sobe para 9,4% quando se leva em conta a Geração Z — no caso, quem tem entre 16 e 28 anos.
A pesquisa, uma iniciativa da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA) e da Folha de São Paulo, ainda traz outras informações relevantes. Por exemplo, o uso da poupança caiu de 25% para 23% no intervalo de um ano.
Ou seja, apesar de a poupança ainda liderar em preferência, as novas gerações parecem cada vez mais dispostas a experimentar.
Para entender melhor essa relação dos jovens investidores com os criptoativos, conversamos com Sarah Uska, analista de criptoativos do Bitybank.
Busca por independência financeira impulsiona os jovens
Sarah Uska, analista de criptoativos do Bitybank.
CoinSpeaker — Dados recentes indicam uma queda no uso da caderneta de poupança entre os brasileiros. Isso pode ser um efeito da subida dos juros no país. No entanto, também vemos um interesse maior dos jovens por moedas digitais. A que você credita o sucesso das novas criptomoedas junto a esse perfil de investidor?
Sarah Uska — Cada vez mais, investidores jovens, geralmente entre 20 e 50 anos, buscam proteção contra a inflação e a desvalorização da moeda fiduciária. A diversificação tem se tornado uma tendência.
Antes havia receio em sair da poupança. Mas hoje as instituições, inclusive as tradicionais, têm facilitado o acesso a outros investimentos. Isso tem dado mais segurança e incentivado a diversificação. As criptomoedas, apesar do alto risco, passaram a fazer parte desse movimento.
Além disso, os investidores mais jovens têm maior familiaridade com a tecnologia, o que os aproxima naturalmente do universo cripto.
Você acredita que a busca por independência financeira e descentralização entre os jovens pode ser também uma questão ideológica, inclusive devido a uma crescente desconfiança nas instituições?
A busca por independência financeira, impulsionada pela desconfiança na previdência tradicional e nos sistemas financeiros brasileiros, é majoritariamente prática e não ideológica.
Apesar da ideologia da descentralização presente nas criptomoedas, a maioria dos usuários ainda precisa interagir com instituições financeiras (exchanges, bancos) durante a jornada. A fuga completa dessas instituições, através de trocas P2P, é mais difícil e menos segura.
Apelo especulativo e novidade tecnológica
Muitos jovens já começam sua jornada financeira com stablecoins e tokens de plataformas DeFi sem antes ter investido em ações tradicionais. Como isso pode moldar o futuro do ecossistema financeiro?
A falta de educação financeira ainda é um entrave tanto para o sistema tradicional quanto para a criptoeconomia. O problema é investir sem entender no que se está aplicando, seja em ações, criptomoedas ou plataformas. Apesar disso, vejo um avanço: instituições tradicionais e de cripto têm investido bastante em conteúdo educacional.
Como a escola ainda não aborda o tema, o papel das exchanges e plataformas privadas tem sido essencial. Hoje é possível encontrar informação de qualidade em blogs, redes sociais, YouTube, TikTok e podcasts. Não sei se estamos melhores ou piores do que antes, mas o acesso à informação cresceu muito.
Essa disseminação de conteúdo pode transformar a forma como lidamos com dinheiro. Sobre as stablecoins, muitos investidores começam por elas justamente por apresentarem menor risco e volatilidade, o que torna a entrada no universo cripto mais segura.
A educação financeira costuma ser vista como um desafio, no Brasil, para que mais pessoas tenham o hábito de investir. No entanto, os criptoativos, normalmente vistos como mais complexos que instrumentos financeiros tradicionais, vêm ganhando espaço. Por que isso ocorre?
Os criptoativos podem ser difíceis de entender tecnicamente, mas têm um forte apelo especulativo. Há a possibilidade de lucro comprando altcoins na baixa e vendendo na alta, e muitos ficaram milionários com o Bitcoin, no início, pela valorização rápida. Isso atrai tanto pelo potencial de ganho quanto pela novidade tecnológica.
Além disso, as instituições de cripto e blockchain têm investido muito em educação financeira, pois entender o ativo é essencial para que o investidor confie e se sinta seguro. Essa disseminação de conteúdo começa, aos poucos, a gerar efeito.
Regulamentação dá mais segurança
Os investidores jovens estão preparados para investir no mercado cripto?
É difícil afirmar se os investidores jovens estão totalmente preparados para o mercado cripto, já que há muitos perfis diferentes. No entanto, vejo que estão mais interessados em diversificar suas carteiras e buscando aprender sobre o setor.
Talvez ainda não estejam completamente prontos, mas à medida que o Brasil avança na regulamentação e estabelece regras claras para os provedores de serviços com criptoativos, esses investidores devem se sentir mais seguros e confiantes para investir.
Como uma empresa como o Bitybank faz para chegar até esse público? Quais características o diferenciam de um público-alvo mais amadurecido?
No BitBank, usamos diversos canais para disseminar conhecimento, como blog, redes sociais, YouTube e e-mails informativos com notícias de mercado e explicações sobre tecnologia. Nosso foco é a educação, mas também desenvolvemos o produto pensando na familiaridade do usuário.
O aplicativo foi criado para se parecer com uma plataforma bancária tradicional, tornando o uso mais intuitivo. Com poucos cliques, é possível comprar criptoativos de forma simples, com uma linguagem acessível e um design amigável. Assim, buscamos facilitar o acesso ao universo cripto.
Em relação ao comportamento dos investidores, há uma diferença marcante em relação à tomada de decisão dos mais jovens? Por exemplo, existe uma preferência maior por certo tipo de ativos, na comparação com investidores mais maduros?
Não temos esse dado para te falar aqui, de cruzar nossos usuários por um filtro de idade, mais jovens e mais maduros, ou pelo perfil de investimento versus o tipo de criptoativo que ele compra.
Jovens são público ‘menos conservador e mais destemido’
Quais métricas não convencionais — como atividade on-chain, participação em DAOs ou staking em plataformas — vocês usam para avaliar o perfil e a maturidade dos investidores jovens no Brasil?
Não temos métricas fora do convencional, mas é possível identificar alguns perfis entre os investidores cripto. Há quem invista apenas em stablecoins, quem foque só em Bitcoin, quem diversifique com várias altcoins, quem faça hold ou prefira vender rapidamente. O perfil é bastante variado, mas essas categorias ajudam a entender melhor o comportamento dos investidores.
Ainda sobre o comportamento dos investidores, o investidor mais jovem apresenta uma impulsividade maior na hora de comprar ou vender ativos? Ou essa é uma visão ultrapassada?
Não sei se podemos afirmar que o investidor jovem age com impulsividade, até porque não tenho dados para embasar essa ideia. O que percebo é que ele tem buscado mais conhecimento e tende a ser menos conservador e mais destemido do que o investidor mais velho. Ainda assim, não sei se essa é uma visão que já podemos afirmar com certeza.
Como você vê a influência dos jogos baseados em blockchain (play-to-earn) na formação de uma nova cultura de investimento entre os nativos digitais? Isso é uma tendência sustentável ou apenas uma fase?
Os jogos Play to Earn já passaram. Foi uma tendência que fez sucesso por um tempo, mas hoje quase ninguém mais fala ou joga. Atualmente, eles têm pouca ou nenhuma influência no mercado.
Os resultados da 8ª edição do Raio X do Investidor Brasileiro podem ser encontrados neste link.
Flavio Aguilar é jornalista e economista formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atua há mais de 15 anos como repórter e editor em jornais e portais de notícias no Brasil. No momento, está cursando o mestrado em estudos literários da Universidade do Porto.
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