Bancos dos EUA fazem lobby contra stablecoins

Bancos americanos tentam bloquear juros em stablecoins, temendo uma fuga de trilhões em depósitos.

Marta Stephens By Marta Stephens Flavio Aguilar Edited by Flavio Aguilar Atualizado em 6 mins read
Bancos dos EUA fazem lobby contra stablecoins

Resumo da notícia

  • Bancos dos EUA pressionam para fechar 'brecha' em lei que permite juros em stablecoins.
  • Temor de perda de US$ 6,6 trilhões em depósitos afeta liquidez e crédito.
  • Indústria acusa bancos de limitar competição e escolha do consumidor.
  • Administração Trump apoia integração de criptomoedas ao sistema financeiro.

O setor financeiro dos Estados Unidos está mergulhado em uma batalha crescente entre bancos tradicionais e a indústria de criptomoedas, mais especificamente stablecoins, como revelou uma reportagem do Financial Times.

Grandes associações bancárias, incluindo a American Bankers Association, o Bank Policy Institute e a Consumer Bankers Association, intensificaram a pressão sobre legisladores para fechar uma suposta ‘brecha’ na regulamentação de stablecoins.

Os bancos temem que a permissão de pagamento de juros a detentores de moedas digitais possa desencadear uma saída de trilhões de dólares em depósitos.

Com o Bitcoin e outras criptomoedas ganhando terreno, essa movimentação sublinha a tensão entre Wall Street e o setor cripto, que conta com o apoio crescente da Casa Branca.

Stablecoins crescem nos EUA e ameaçam bancos

As stablecoins, tokens digitais lastreados em ativos do mundo real como o dólar americano (como USDT e USDC), têm crescido exponencialmente. Os ativos em questão já atingiram um mercado global de US$ 288 bilhões. Ou seja, além de as melhores criptomoedas expressarem um crescimento expressivo, as stablecoins também apresentam um potencial substancial.

O Genius Act, aprovado pelo Congresso em julho de 2025, buscou regular esse setor, proibindo que emissores de stablecoins paguem juros diretamente a clientes.

No entanto, a legislação permite que exchanges de criptomoedas, como Coinbase, ofereçam indiretamente recompensas ou juros sobre stablecoins emitidas por terceiros, como Circle e Tether.

Portanto, essa distinção teria criado um cenário desigual, segundo os bancos. Eles temem perder competitividade e ver uma migração massiva de depósitos para plataformas cripto.

Temores de fuga de depósitos e impactos econômicos

Os bancos alertam que essa brecha pode levar a uma fuga de até US$ 6,6 trilhões em depósitos, conforme estimativas de um relatório do Tesouro dos EUA de abril deste ano, citado pelo Financial Times.

Essa saída de capital seria particularmente crítica em momentos de estresse econômico, prejudicando a capacidade dos bancos de criar crédito.

As associações bancárias advertem que isso poderia resultar em ‘taxas de juros mais altas, menos empréstimos e custos aumentados para empresas e famílias da Main Street’, afetando diretamente a economia real.

Ronit Ghose, chefe do think-tank Future of Finance do Citi, comparou o risco ao surgimento dos fundos do mercado monetário nos anos 1980, que ofereceram taxas mais atraentes que as contas correntes tradicionais, drenando depósitos bancários.

A pressão dos bancos reflete uma preocupação com a erosão de sua base de financiamento, que depende em grande medida de depósitos de baixo custo.

Se os consumidores optarem por stablecoins com yields em exchanges cripto, os bancos terão que buscar fontes alternativas, como mercados de atacado, elevando os custos de financiamento.

Sean Viergutz, líder de consultoria em banking e mercados de capitais da PwC, destacou que isso poderia encarecer o crédito para lares e negócios, amplificando o impacto econômico.

Resposta da indústria cripto e apoio político

A indústria cripto não ficou calada. Em uma carta enviada a senadores no dia 19 de agosto, o Crypto Council for Innovation e a Blockchain Association acusaram os bancos de tentar criar um ‘ambiente de stablecoins de pagamento não competitivo’.

Portanto, eles estariam protegendo suas posições em detrimento do crescimento da indústria, da competição e da escolha do consumidor.

Eles argumentaram que atender às demandas bancárias:

Inclinaria o campo a favor de instituições legadas. Especialmente os grandes bancos, que frequentemente falham em oferecer retornos competitivos e privam os consumidores de escolhas significativas.

Paul Grewal, chief legal officer da Coinbase, reforçou essa postura em um post no X, afirmando:

Isso não foi uma brecha e vocês sabem disso.

Ele destacou que a maioria dos legisladores e até mesmo o presidente rejeitaram os esforços dos bancos para evitar a competição. Por isso, sugere que é hora de seguir em frente.

O apoio da administração Trump, que busca integrar ativos digitais ao sistema financeiro tradicional, adiciona peso à narrativa cripto. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, já sinalizou a Wall Street que espera que stablecoins se tornem uma fonte importante de demanda por títulos do governo dos EUA, conforme relatado anteriormente pelo Financial Times.

Tensões entre Wall Street e criptomoedas

A disputa reflete uma guerra mais ampla entre Wall Street e o setor cripto. Os bancos veem as stablecoins como uma ameaça direta, especialmente com o Bitcoin se consolidando como reserva de valor e as stablecoins oferecendo estabilidade com potencial de rendimento.

A administração Trump tem promovido uma abordagem pró-cripto, contrastando com a postura mais cautelosa de governos anteriores. Essa mudança política pode influenciar a resistência dos bancos. Mas também aumenta a pressão para equilibrar inovação com proteção ao consumidor, um ponto que a SEC continua a priorizar.

Implicações futuras e riscos

Se os bancos conseguirem fechar a ‘brecha’, as exchanges cripto podem perder uma vantagem competitiva, desacelerando o crescimento das stablecoins.

Isso beneficiaria instituições tradicionais no curto prazo, mas arriscaria alienar uma base de investidores jovens e tecnicamente adeptos. Por outro lado, se a indústria cripto prevalecer, o mercado de stablecoins pode explodir, desafiando ainda mais o modelo bancário convencional.

Os riscos incluem volatilidade e falta de regulamentação robusta, que poderiam expor investidores a fraudes.

No entanto, o potencial de stablecoins como alternativa financeira é inegável, especialmente com o apoio institucional crescente. A batalha legislativa deve se intensificar nos próximos meses, com o Congresso e a Casa Branca desempenhando papéis cruciais.

O lobby dos bancos dos EUA para bloquear juros em stablecoins revela um confronto crítico entre Wall Street e a indústria cripto, com trilhões de dólares em jogo.

Apoiada por temores de fuga de depósitos, a pressão bancária enfrenta resistência feroz de players como a Coinbase e apoio político da administração Trump.

À medida que 2025 avança, o resultado dessa disputa moldará o futuro das finanças digitais, equilibrando inovação e estabilidade em um mercado em transformação. Para investidores e observadores, o momento é de acompanhar de perto, enquanto o sistema financeiro global redefine seus contornos.

Disclaimer: Coinspeaker está comprometido em fornecer reportagens imparciais e transparentes. Este artigo tem como objetivo fornecer informações precisas e oportunas. Mas não deve ser considerado como conselho financeiro ou de investimento. Como as condições do mercado podem mudar rapidamente, recomendamos que você verifique as informações por conta própria. E consulte um profissional antes de tomar qualquer decisão com base neste conteúdo.

Notícias de Criptomoedas
Marta Stephens

Marta Barbosa Stephens é escritora e jornalista formada pela Universidade Católica de Pernambuco, com mestrado na PUC São Paulo e pós-graduação em edição na Universidade de Barcelona. Trabalhou em diversas redações de jornais e revistas no Brasil. Foi repórter de economia no Jornal da Tarde, do grupo O Estado de São Paulo e editora-adjunta de finanças pessoais na revista IstoÉ Dinheiro. Atuou no mercado de edição de livros de finanças em São Paulo e foi, por seis anos, redatora-chefe da revista Prazeres da Mesa (https://www.prazeresdamesa.com.br/), antes de se mudar para Inglaterra. No Reino Unido, foi editora do jornal Notícias em Português, voltado à comunidade lusófona na Inglaterra. Escreve e edita sobre o mercado de criptomoedas e tecnologia blockchain desde 2022.