Prova de reserva: as criptomoedas mudaram após o colapso da FTX?

O que começou como uma reação emergencial virou uma disputa aberta pela confiança dos usuários.

Flavio Aguilar By Flavio Aguilar Marta Stephens Editor Marta Stephens Atualizado em 4 mins read
Prova de reserva: as criptomoedas mudaram após o colapso da FTX?

Resumo da notícia:

  • Exchanges como KuCoin, OKX e Kraken elevaram a transparência após o colapso da FTX.
  • A prova de reserva não identifica dívidas fora da blockchain ou passivos ocultos.
  • Verificações criptográficas são um avanço, mas não eliminam todos os riscos.

No mundo cripto, a confiança é tudo, goste-se disso ou não. E anúncios recentes sobre prova de reserva, ou Proof of Reserves (PoR), apontam para uma mudança profunda na indústria.

As novidades vieram de exchanges como a KuCoin e a CoinEx, no dia 10 de julho, e pela OKX, em 9 de julho. Além disso, as transformações aparecem em relatórios de pioneiras como a Kraken.

O que mudou com a prova de reservas?

Essa onda de transparência surge como resposta direta à confiança no setor após o colapso da FTX, em meio a muitos ICOs de criptomoedas. Portanto, levanta uma pergunta central: o setor realmente mudou?

A resposta é um ‘sim’ com ressalvas. A adoção do PoR representa um avanço em relação à antiga opacidade. No entanto, essa prática está longe de ser uma solução mágica.

Aliás, alguns especialistas do setor já chegaram a chamá-la de uma ‘má ideia’. Ela já recebeu críticas de Michael Saylor, por exemplo.

A mudança para o PoR foi moldada por uma crise. Antes de novembro de 2022, esse conceito era praticamente ignorado. Então, a queda da FTX — causada pelo uso indevido de bilhões em fundos de clientes — gerou uma crise de confiança que forçou o mercado a adotar um novo padrão.

Em seguida, quase todas as grandes exchanges correram para implementar seus próprios sistemas de PoR. Afinal, elas tentam provar solvência e evitar a fuga massiva de ativos para carteiras de autocustódia.

Como as exchanges disputam em transparência

O que começou como uma reação emergencial virou uma disputa aberta pela confiança dos usuários. Agora, as exchanges tentam se destacar pela qualidade e rigor de suas auditorias. No entanto, o mercado segue fragmentado — e o que cada empresa chama de ‘prova’ pode variar bastante.

  • A KuCoin foca na consistência. Ela concluiu sua 32ª auditoria mensal consecutiva, reforçando sua narrativa de confiabilidade a longo prazo.
  • Por outro lado, a OKX aposta na tecnologia, utilizando provas zk-STARK que prometem mais segurança e privacidade. Além disso, a empresa conquistou recentemente a certificação SOC 1 Tipo 2.
  • A Kraken, que iniciou seu programa de PoR em 2014, se destaca pelo nível de granularidade. Além disso, ela inclui passivos relacionados a negociações de margem e futuros. Então, oferece uma visão mais completa da saúde financeira da plataforma.
  • Por fim, a CoinEx reforça sua proporção 1:1 de reservas com o ‘CoinEx Shield Fund’. Com isso, aloca 10% das taxas de negociação para proteção adicional dos usuários.

Mas é essencial entender o que os relatórios PoR não mostram. Trata-se de uma ferramenta limitada, que não garante a saúde completa de uma exchange.

PoR ainda é uma solução parcial

Por isso, é importante destacar que essas auditorias funcionam como fotografias de um único momento — não como análises financeiras abrangentes.

Elas não expõem passivos fora da blockchain, como dívidas corporativas, que podem levar uma empresa à falência. Isso pode gerar uma falsa sensação de segurança, desviando a atenção de riscos mais amplos.

O setor cripto evoluiu, sem dúvida. A possibilidade de verificar reservas com tecnologia criptográfica é um avanço relevante. No entanto, o PoR ainda é uma solução parcial. 

Também é importante que os usuários encarem esses relatórios como ponto de partida para suas próprias análises. Afinal, somente as carteiras de autocustódia eliminam completamente o risco de contraparte.

Disclaimer: Coinspeaker está comprometido em fornecer reportagens imparciais e transparentes. Este artigo tem como objetivo fornecer informações precisas e oportunas. Mas não deve ser considerado como conselho financeiro ou de investimento. Como as condições do mercado podem mudar rapidamente, recomendamos que você verifique as informações por conta própria. E consulte um profissional antes de tomar qualquer decisão com base neste conteúdo.

Notícias de Blockchain
Flavio Aguilar

Flavio Aguilar é jornalista e economista formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atua há mais de 15 anos como repórter e editor em jornais e portais de notícias no Brasil. No momento, está cursando o mestrado em estudos literários da Universidade do Porto.