Brasileiros furtaram R$ 14 milhões (US$ 2,6 milhões) em criptomoedas de uma exchange nos EUA.
O crime envolveu hacking e lavagem de dinheiro via carteiras anônimas e DEXs, dificultando o rastreamento.
FBI e Polícia Federal colaboram para identificar suspeitos em São Paulo, Rio e Minas Gerais.
A Polícia Federal (PF) deflagrou nesta terça-feira (26/8) a Operação Decrypted, com o objetivo de desmantelar uma associação criminosa responsável por fraudes eletrônicas em carteiras de criptoativos e lavagem de dinheiro transnacional.
Uma investigação internacional desvendou que um grupo de brasileiros conseguiu roubar R$ 14 milhões (equivalente a aproximadamente US$ 2,6 milhões) em criptomoedas de uma exchange sediada nos Estados Unidos.
Autoridades americanas e brasileiras estão colaborando para identificar e prender os responsáveis, enquanto o caso destaca os desafios da regulação transnacional.
Como a ‘casa caiu’
O roubo foi descoberto após uma série de transações suspeitas detectadas pela exchange, cuja identidade não foi divulgada publicamente para proteger as investigações em curso.
Fontes indicam que os hackers brasileiros exploraram uma falha de segurança na infraestrutura da plataforma. Possivelmente, estava relacionada a credenciais comprometidas ou a phishing direcionado.
Após o acesso não autorizado, os criminosos transferiram os ativos, que incluíam Bitcoin (BTC), Ethereum (ETH) e outras das melhores criptomoedas do mercado. Os valores, estimados em US$ 1,8 milhão e US$ 800 mil, passaram por diversas carteiras digitais.
Segundo um comunicado da PF, tudo aponta para a participação de uma organização criminosa experiente no uso de tecnologias blockchain. Em seguida ao furto, os suspeitos iniciaram um processo complexo de lavagem de dinheiro para ocultar a origem ilícita dos fundos.
Fundos foram parar em DeXes
Segundo a investigação, os criptoativos passaram por diversas carteiras anônimas e exchanges descentralizadas (DEXs), como Uniswap e PancakeSwap. Essas movimentações ocorreram antes da conversão dos fundos em stablecoins como Tether (USDT) e, posteriormente, em moedas fiduciárias.
Exchanges descentralizadas são muito usadas por investidores, mas também podem servir de ferramenta para atos ilícitos.
Parte dos recursos foi parar em contas bancárias em paraísos fiscais. Mas uma porção delas foi reinvestida em outras criptomoedas para dificultar o rastreamento.
Especialistas em blockchain, incluindo analistas da Chainalysis, receberam convocações para mapear as transações. Então, utilizaram ferramentas de análise on-chain que identificaram padrões consistentes com atividades criminosas anteriores.
A escala do roubo, equivalente a R$ 14 milhões, reflete o volume crescente de ativos digitais movimentados no Brasil e no mundo.
Em 2025, o mercado cripto brasileiro atingiu um valor estimado de R$ 150 bilhões, impulsionado por uma base de 20 milhões de investidores, segundo dados da Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABCripto).
Esse crescimento tem atraído a atenção de grupos criminosos, que veem as criptomoedas como alvos lucrativos devido à sua natureza pseudônima e à relativa falta de regulamentação em algumas jurisdições.
Colaboração Internacional
A investigação está sendo conduzida em conjunto pelo FBI nos EUA e pela PF no Brasil, com apoio da Interpol.
As autoridades identificaram que os suspeitos operam a partir de pelo menos três estados brasileiros: São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Além disso, teriam utilizado uma infraestrutura digital sofisticada para coordenar o ataque.
A PF já emitiu mandados de busca e apreensão, enquanto o FBI rastreia os fluxos financeiros internacionais, incluindo transferências para contas em Cingapura e Dubai.
O caso também envolve a Receita Federal do Brasil, que monitora possíveis crimes de sonegação fiscal com a conversão das criptomoedas em reais.
Com a Lei 14.478/2022, que regula criptoativos no Brasil, as exchanges precisam reportar transações acima de R$ 30.000. No entanto, a natureza transfronteiriça do crime complica a fiscalização.
Autoridades estimam que os suspeitos possam ter lucrado até R$ 10 milhões líquidos após a lavagem, destacando a urgência de cooperação internacional.
Implicações para o mercado brasileiro
O roubo tem implicações significativas para o mercado cripto brasileiro, que experimentou um boom nos últimos anos. Em 2024, o volume de negociação de criptomoedas no país atingiu R$ 120 bilhões, segundo a B3, e a tendência se intensificou em 2025 com a popularização de stablecoins e DeFi.
No entanto, incidentes como esse podem minar a confiança dos investidores. Aliás, 15 milhões de brasileiros entraram no mercado desde 2023, muitos deles novatos — sem experiência em segurança digital.
A ABCripto já se pronunciou, pedindo maior regulamentação e conscientização. A associação sugere a implementação de padrões obrigatórios de segurança para exchanges e a criação de um fundo de proteção ao investidor, semelhante aos mecanismos de garantia de depósitos bancários.
Enquanto isso, o Banco Central (BC) monitora o caso, avaliando se novas diretrizes serão necessárias para mitigar riscos sistêmicos.
Não é novidade
O furto de R$ 14 milhões não é primeiro. Em 2023, o hack da exchange brasileira Mercado Bitcoin resultou na perda de R$ 8 milhões. Em seguida, em 2024, um golpe de phishing no exterior drenou US$ 3 bilhões da FTX.
Esses incidentes revelam uma tendência crescente de cibercrimes transnacionais, com o Brasil emergindo como um hub tanto para investidores quanto para criminosos.
A lavagem de dinheiro via cripto, como vista neste caso, é facilitada pela falta de uniformidade regulatória global, permitindo que fundos sejam distribuídos por meio de DEXs e misturadores (mixers) como o Tornado Cash.
Analistas da Elliptic estimam que os crimes com criptomoedas movimentaram US$ 20 bilhões em 2024, com uma projeção de crescimento para US$ 30 bilhões em 2025. O caso brasileiro reforça a necessidade de colaboração internacional.
Disclaimer: Coinspeaker está comprometido em fornecer reportagens imparciais e transparentes. Este artigo tem como objetivo fornecer informações precisas e oportunas. Mas não deve ser considerado como conselho financeiro ou de investimento. Como as condições do mercado podem mudar rapidamente, recomendamos que você verifique as informações por conta própria. E consulte um profissional antes de tomar qualquer decisão com base neste conteúdo.
Marta Barbosa Stephens é escritora e jornalista formada pela Universidade Católica de Pernambuco, com mestrado na PUC São Paulo e pós-graduação em edição na Universidade de Barcelona.
Trabalhou em diversas redações de jornais e revistas no Brasil. Foi repórter de economia no Jornal da Tarde, do grupo O Estado de São Paulo e editora-adjunta de finanças pessoais na revista IstoÉ Dinheiro. Atuou no mercado de edição de livros de finanças em São Paulo e foi, por seis anos, redatora-chefe da revista Prazeres da Mesa (https://www.prazeresdamesa.com.br/), antes de se mudar para Inglaterra.
No Reino Unido, foi editora do jornal Notícias em Português, voltado à comunidade lusófona na Inglaterra.
Escreve e edita sobre o mercado de criptomoedas e tecnologia blockchain desde 2022.
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