A Operação Xeque-Mate revelou como o Comando Vermelho utilizava uma fintech própria e ativos digitais para movimentar milhões de reais.
A Polícia Federal (PF) deu um passo significativo no combate ao crime organizado com a deflagração da Operação Xeque-Mate. A ação expôs um complexo esquema de lavagem de dinheiro com criptomoedas movimentando R$ 122 milhões para a facção Comando Vermelho no estado do Amazonas.
A operação, realizada em 6 de outubro, cumpriu mandados de prisão e busca e apreensão em Manaus (AM) e Guarujá (SP), revelando como a tecnologia de ativos digitais e fintechs são cooptadas para financiar o tráfico internacional de drogas.
Operação Xeque-Mate: um duro golpe no crime organizado
A Operação Xeque-Mate é o resultado de meses de investigação e um desdobramento de ações anteriores, como as operações Torre 1, 2, 3 e 4. A investigação aprofundou-se após a apreensão de mais de duas toneladas de drogas em setembro de 2024. A carga foi atribuída a Alan Sérgio Martins Batista, conhecido como ‘Alan Índio’, apontado como chefe da facção no Amazonas.
Segundo as autoridades, ele comanda as atividades criminosas da Colômbia, utilizando uma identidade falsa para se manter foragido.
Durante a ação, a PF prendeu três pessoas. Entre elas está Cristina Nascimento, esposa de ‘Alan Índio’. Os outros dois operadores ocupavam posições estratégicas na estrutura financeira. Além das prisões, a Justiça determinou o sequestro de R$ 122 milhões em bens que incluem veículos e artigos de luxo. A operação foi uma ação conjunta da FICCO/AM. Também contou com apoio da SEAI/AM e de autoridades colombianas.
Como funcionava a lavagem de dinheiro com cripto
O esquema desarticulado pela PF era notavelmente sofisticado. A facção operava uma rede financeira paralela que utilizava uma fintech própria, apelidada de ‘Carto’ em alusão a ‘cartel’, para processar os pagamentos e ocultar a origem ilícita dos fundos.
Essa estrutura contava ainda com empresas de fachada e aplicativos de pagamento que dificultavam o rastreamento pelas instituições financeiras tradicionais, mesclando transações lícitas e ilícitas para infiltrar o dinheiro do tráfico no sistema formal.
O superintendente da PF no Amazonas, João Paulo Garrido Pimentel, explicou o fluxo dos pagamentos em uma coletiva:
‘Os indícios são no sentido de que os traficantes colombianos enviavam a droga aqui para o Amazonas e recebiam o pagamento por meio de criptoativos. Esses criptoativos também eram operados por essa pessoa que era responsável pela fintech’
Parte dos R$ 122 milhões movimentados virava criptoativos. Posteriormente, o grupo enviava esses valores para carteiras no exterior. O destino principal era a Colômbia. Assim, quitavam a compra de novas remessas de drogas.
A conexão internacional e o financiamento do tráfico
A utilização de novos criptoativos para pagamentos internacionais evidencia uma tendência. Facções brasileiras estão cada vez mais globalizadas. Atualmente, os ativos digitais permitem transferir grandes valores rapidamente.
Além disso, oferecem relativo anonimato. Por isso, tornam-se uma ferramenta atrativa para o crime organizado. A cooperação com as autoridades colombianas foi fundamental. Através dela, a PF rastreou o líder da facção e as contas vinculadas, demonstrando a necessidade de uma abordagem transnacional contra esse tipo de crime.
As investigações também revelaram o estilo de vida luxuoso dos líderes. O grupo adquiria veículos importados e artigos de grife. Alguns membros até realizaram cirurgias plásticas com o objetivo era dificultar a identificação.
Consequentemente, os bens apreendidos durante a operação reforçam a dimensão dos lucros que vinham do tráfico e da lavagem de dinheiro.
Material apreendido na operação – Foto: Divulgação/PF
O crescente desafio para as autoridades
A Operação Xeque-Mate não é um caso isolado. Organizações criminosas em todo o mundo estão se adaptando ao explorar as novas tecnologias financeiras para seus próprios fins. Assim, o caso no Amazonas serve como um alerta. Evidencia a necessidade de maior regulação sobre as transações, especialmente aquelas envolvendo fintechs e criptoativos no Brasil.
Para as autoridades, o desafio é duplo. Por um lado, é preciso aprimorar as técnicas de investigação e melhorar o rastreamento de transações em blockchain. Por outro lado, é necessário criar um ambiente regulatório adequado inibindo o uso ilícito dos ativos digitais. Entretanto, não pode sufocar a inovação tecnológica.
Assim, a colaboração entre polícias, agências de inteligência e reguladores financeiros torna-se indispensável. Essa colaboração precisa ocorrer ao nível nacional e internacional. Somente assim será possível enfrentar essa nova fronteira do crime financeiro.
Disclaimer: Coinspeaker está comprometido em fornecer reportagens imparciais e transparentes. Este artigo tem como objetivo fornecer informações precisas e oportunas. Mas não deve ser considerado como conselho financeiro ou de investimento. Como as condições do mercado podem mudar rapidamente, recomendamos que você verifique as informações por conta própria. E consulte um profissional antes de tomar qualquer decisão com base neste conteúdo.
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