Nova regra do BCB extingue contas que reúnem recursos de terceiros sem identificação.
Objetivo é reforçar rastreabilidade, segurança e governança financeira.
A partir de primeiro de dezembro, fintechs e exchanges terão de operar com contas individualizadas.
A tendência é consolidação do mercado e avanço do modelo KYT (Know Your Transaction).
O Banco Central do Brasil (BCB) avança mais alguns passos rumo à regulação concreta do mercado cripto. Com a publicação da Resolução nº 5.261/2025, a autoridade monetária determinou o encerramento imediato das chamadas contas-bolsão.
Ou seja, estruturas usadas por exchanges de criptomoedas, fintechs e intermediários de pagamento para concentrar recursos de diversos clientes em uma única conta bancária.
A partir de agora, cada usuário precisará ter uma conta individualizada, vinculada ao seu CPF ou CNPJ, o que representa uma transformação profunda na forma como empresas operam e gerenciam a liquidez de clientes.
Entre os especialistas que analisam o impacto da medida, Georgia Sanches, Lead of Business da Sumsub Brasil.
O novo modelo promete mais rastreabilidade, transparência e segurança, mas impõe custos operacionais elevados e mudanças significativas em infraestrutura, governança e compliance. Espera-se que novas normas sobre exchanges saiam nos próximos dias.
Mudança poderá facilitar análises comportamentais, diz executiva da Sumsub
Georgia destacou ao Coinspeaker que o fim das contas-bolsão pode trazer dados comportamentais valiosos sobre os clientes.
Segundo dados internos da Sumsub, 70% das fraudes ocorrem na fase transacional, e não no cadastro inicial.
Muitas pessoas têm a sensação de que o Know Your Client acontece somente no onboarding e termina. Na realidade, você vai conhecer o seu cliente depois, no comportamento dele, no dia a dia.
Georgia destaca que a individualização das contas, exigida pela nova norma, facilita essa leitura. Quando você individualiza, consegue enxergar como cada pessoa transaciona, quanto movimenta, de onde vêm e para onde vão os recursos.
Isso melhora a qualidade da análise de risco e permite tomar decisões mais assertivas, segundo a executiva.
O que muda com a Resolução 5.261/2025
O modelo de contas-bolsão, muito utilizado desde o início da digitalização financeira no país, funcionava como uma espécie de conta coletiva.
Diversos clientes depositavam recursos em uma mesma conta bancária de titularidade da plataforma, cabendo à empresa o controle interno dos saldos individuais.
Esse arranjo simplificava a operação entre as melhores criptomoedas, mas criava uma zona de opacidade regulatória. Ou seja, dificultava a rastreabilidade, o bloqueio judicial e a verificação de origem e destino dos recursos.
Com a nova regra, o Banco Central passa a exigir que toda movimentação seja associada a uma conta individual identificada, eliminando a figura da ‘conta coletiva’.
Cada cliente terá uma subconta própria, segregada do caixa da empresa, o que reforça a proteção patrimonial e o cumprimento das normas de prevenção à lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo.
Para Georgia Sanches, o impacto é amplo. A medida muda a lógica de operação e a relação das plataformas com o sistema financeiro. A individualização dos saldos também cria novas possibilidades de análise e controle.
Quando a gente individualiza as contas, a gente consegue entender melhor o comportamento de cada um dos usuários. Isso pode ser uma oportunidade.
Da verificação estática ao monitoramento contínuo
Um dos efeitos mais significativos da resolução é o fortalecimento da abordagem KYT (Know Your Transaction) — um avanço do tradicional KYC (Know Your Customer).
Ao invés de limitar a verificação à etapa de cadastro, as empresas deverão implementar sistemas de acompanhamento dinâmico, capazes de detectar comportamentos atípicos e fluxos irregulares em tempo real.
No novo cenário, a individualização das contas permitirá que cada movimentação seja monitorada de forma granular, com métricas de comportamento, frequência e volume.
Com a eliminação das contas-bolsão, cada transação passa a ter rastro digital completo, conectando dados de identificação e histórico financeiro.
Essa visibilidade favorece tanto as empresas, que podem reagir com mais rapidez, quanto os reguladores, que passam a contar com um sistema mais auditável e estruturado.
Custos, integração e o desafio tecnológico
A transição para o novo modelo traz desafios técnicos relevantes. As plataformas precisarão abrir centenas ou milhares de contas individualizadas, o que exige integração direta com instituições de pagamento (IPs) ou com provedores de Banking as a Service (BaaS).
Além disso, será necessário reforçar o monitoramento transacional, adequar APIs e estabelecer camadas de segurança e governança compatíveis com a exigência regulatória.
A implementação de novos sistemas de KYC/KYT e o acompanhamento de dados em tempo real transformarão o compliance em uma função central das empresas.
Além disso, a executiva adiciona que o mercado de compliance especificamente para o mercado de criptoativos ainda tem muito para evoluir. Isso porque trata-se de uma área extremamente nova.
‘Quando falamos de compliance de cripto ainda existe um desconhecimento. O mercado cripto é muito novo. Há 15 anos que a gente está começando a falar sobre esse assunto, e a cada ano muda muita coisa. Eu atuo em cripto há 5 anos aqui no Brasil’
Consolidação e profissionalização do mercado
A expectativa é que a Resolução 5.261 provoque um movimento de consolidação no mercado cripto brasileiro. Contudo, no longo prazo, o efeito tende a ser benéfico.
O aumento da rastreabilidade e da segurança operacional reforça a confiança de investidores institucionais e atrai novos fluxos de capital regulado, impulsionando o amadurecimento do ecossistema brasileiro de ativos digitais.
Por fim, um ponto de destaque trazido por Georgia Sanches durante painel é a relação entre blockchain e conformidade regulatória.
Ao contrário da percepção de que as criptomoedas favorecem o anonimato, a especialista lembra que a transparência da blockchain é um recurso poderoso para auditorias e investigações.
Em resumo, a integração entre o monitoramento on-chain e os controles off-chain, agora fortalecidos pela individualização das contas, cria um ambiente de compliance mais eficaz.
Isso consolida uma nova etapa de sinergia entre tecnologia e regulação, mostrando que a descentralização pode coexistir com padrões rigorosos de controle.
Disclaimer: Coinspeaker está comprometido em fornecer reportagens imparciais e transparentes. Este artigo tem como objetivo fornecer informações precisas e oportunas. Mas não deve ser considerado como conselho financeiro ou de investimento. Como as condições do mercado podem mudar rapidamente, recomendamos que você verifique as informações por conta própria. E consulte um profissional antes de tomar qualquer decisão com base neste conteúdo.
Leonardo Cavalcanti é jornalista especializado em criptomoedas, blockchain e finanças digitais. Além de tocar projetos próprios como o podcast BlockHistory. Também trabalha em desenvolvimento de negócios no ecossistema cripto como parceiro comercial Azify, com foco em parcerias estratégicas, tokenização e soluções de infraestrutura financeira.
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