A SEC, via Hester Peirce, propõe ajustar regras para permitir cripto em contas 401(k), buscando "acesso mais cedo ao crescimento" para investidores de varejo.
A inclusão pode injetar bilhões no mercado, legitimando cripto como classe de ativo, mas enfrenta desafios de risco e volatilidade.
A notícia gerou otimismo e ceticismo, com debates sobre princípios descentralizados e execução regulatória.
Analistas veem potencial para novos recordes no Bitcoin, mas alertam para volatilidade inicial, com a SEC possivelmente limitando alocações a 5%.
Em um desenvolvimento que pode marcar um ponto de inflexão para o mercado de criptomoedas, a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC) está considerando ajustar suas regulamentações para permitir que contas de aposentadoria, como os planos 401(k), invistam em ativos privados, incluindo criptomoedas.
Essa proposta foi abordada em uma entrevista na última terça-feira (12/8). A mudança abriria as portas para uma nova era de inclusão de cripto em portfólios de longo prazo.
O contexto da proposta
Hester Peirce respondeu a perguntas sobre uma ordem executiva que instrui o Departamento do Trabalho e a SEC a revisar suas regras para permitir investimentos em ativos privados em contas de aposentadoria.
‘Estamos procurando uma maneira de os investidores de varejo terem acesso mais cedo ao crescimento, de forma diversificada e profissionalmente gerenciada, consistente com seus horizontes de investimento.
A proposta surge em um momento em que o mercado de criptomoedas enfrenta um equilíbrio delicado entre inovação e regulação. Desde a aprovação de ETFs de Bitcoin em 2024, os ativos digitais têm ganhado tração entre investidores institucionais. No entanto, a inclusão das melhores criptomoedas em contas de aposentadoria representaria um passo ainda mais significativo.
A menção de ‘acesso mais cedo ao crescimento’ sugere que a SEC está considerando como cripto pode ser integrado de maneira responsável, mitigando riscos para investidores de longo prazo.
Mercado de criptomoedas pode se beneficiar
A possibilidade de que contas 401(k) possam alocar fundos para cripto tem várias implicações potenciais. Entre elas, o possível aumento da demanda institucional.
Por exemplo, contas de aposentadoria gerenciam trilhões de dólares nos EUA. Então, mesmo uma alocação modesta em criptos poderia injetar bilhões no mercado.
Seria algo semelhante aos efeitos da aprovação de ETFs. Afinal, a entrada de capital institucional influenciou significativamente a oferta circulante de Bitcoin.
Além disso, a inclusão em planos de aposentadoria sinalizaria que os criptoativos são vistos como um ativo viável para investimentos de longo prazo, não apenas especulativos. Isso poderia atrair uma nova onda de investidores, incluindo aqueles que anteriormente hesitavam devido à volatilidade percebida nesse mercado.
No entanto, a proposta não está isenta de controvérsias. A entrevista menciona preocupações sobre ‘ativos arriscados em contas de aposentadoria’. Portanto, reflete debates sobre a adequação de criptos a investidores de varejo.
Por isso, a SEC teria que estabelecer salvaguardas, como limites de alocação e requisitos de diversificação, para mitigar riscos.
Mercado reage à proposta
A entrevista gerou uma enxurrada de reações no X, variando do otimismo ao ceticismo.
Alguns analistas afirmaram que o ‘cripto foi feita para o varejo’, sugerindo que a proposta apenas formaliza um acesso que já existe informalmente.
Outros expressaram esperança, mas com uma pitada de humor:
‘Finalmente, boas notícias para investidores de varejo! Vamos torcer para que não tropecem na fita vermelha no caminho.’
Críticas também emergiram, com um usuário dizendo que não se trata de ‘acesso ao varejo’, mas sim de onde o maior pool de capital do país está permitido ir’. Portanto, ficou em destaque a dimensão institucional da proposta.
Ou seja, fica nítido que as respostas no X refletem um debate mais amplo sobre a natureza do Bitcoin e das criptomoedas. Enquanto alguns veem a proposta como uma validação de sua utilidade, outros temem que a entrada de capital institucional dilua os princípios de descentralização.
A entrada de capital de aposentadoria poderia ser um catalisador para novos recordes de preço. O CoinGecko projeta que, se 1% dos US$ 7 trilhões em contas 401(k) fosse alocado para Bitcoin, representaria cerca de 70 milhões de BTC. Ou seja, equivaleria a 350% da oferta circulante atual, sugerindo um impacto significativo na demanda.
No entanto, a volatilidade inicial é uma preocupação. Especialistas alertam que, embora cortes de taxas historicamente beneficiem os criptoativos, reações de curto prazo podem ser erráticas.
A menção a liquidações de US$ 300 milhões após comentários dovish do Federal Reserve (Fed), em agosto de 2025, aborda esse risco. Para mitigar o problema, a SEC pode implementar limites, como uma alocação máxima de 5% para cripto, conforme sugerido por Hester Peirce na entrevista.
O papel de Hester Peirce
Hester Peirce, conhecida como ‘Crypto Mom’ por sua postura pró-inovação, tem sido uma voz consistente a favor de uma abordagem equilibrada para regular as criptomoedas.
Sua participação na entrevista reforça a narrativa de que a SEC está pronta para engajar com inovadores e explorar frameworks que fomentem o crescimento responsável.
As menções a ‘gerenciamento profissional’ e a ‘diversificação’ indicam que a proposta não é um endosso indiscriminado, mas sim uma tentativa de integrar criptos de maneira estruturada.
Peirce também abordou riscos, reconhecendo que ‘as preocupações são legítimas’ e que o mercado público é dominado por poucas empresas. Portanto, sugeriu que a inclusão de criptos em 401(k) poderia oferecer acesso a crescimento para investidores de varejo.
Essa visão contrasta com críticas de colunistas como Allison Schrager, da Bloomberg. Ela alertou que a volatilidade das criptomoedas pode ser inadequada para savings de longo prazo sem salvaguardas rigorosas.
Brasil pode se beneficiar
No Brasil, onde o mercado de cripto tem crescido rapidamente, a proposta da SEC pode ter um efeito indireto. Com o real frequentemente pressionado por fatores externos, um aumento na demanda global por Bitcoin poderia beneficiar investidores locais.
A adoção de stablecoins como USDT já é significativa no país, e a legitimação de criptos nos EUA pode acelerar projetos brasileiros de blockchain. No entanto, a volatilidade e a falta de clareza regulatória doméstica continuam sendo desafios.
A proposta da SEC de abrir contas de aposentadoria para investimentos em criptos é um desenvolvimento que pode redefinir o landscape das finanças pessoais e institucionais. Portanto, essa ‘abertura das comportas’ pode ser iminente.
No entanto, a execução será crucial. Com trilhões de dólares em jogo, a decisão da SEC terá ramificações globais, potencialmente consolidando os ativos digitais como uma classe de ativo mainstream.
Para investidores, o momento exige vigilância. Acompanhar as deliberações da SEC, as reações do mercado e os desenvolvimentos regulatórios será essencial. Quando as regras mudarem, não parecerá um big bang. Parecerá que a porta sempre esteve lá.
Se Hester Peirce e seus colegas na SEC conseguirem equilibrar inovação e proteção, 2025 pode ser lembrado como o ano em que as criptomoedas entraram definitivamente na sala de estar dos investidores de varejo.
Disclaimer: Coinspeaker está comprometido em fornecer reportagens imparciais e transparentes. Este artigo tem como objetivo fornecer informações precisas e oportunas. Mas não deve ser considerado como conselho financeiro ou de investimento. Como as condições do mercado podem mudar rapidamente, recomendamos que você verifique as informações por conta própria. E consulte um profissional antes de tomar qualquer decisão com base neste conteúdo.
Marta Barbosa Stephens é escritora e jornalista formada pela Universidade Católica de Pernambuco, com mestrado na PUC São Paulo e pós-graduação em edição na Universidade de Barcelona.
Trabalhou em diversas redações de jornais e revistas no Brasil. Foi repórter de economia no Jornal da Tarde, do grupo O Estado de São Paulo e editora-adjunta de finanças pessoais na revista IstoÉ Dinheiro. Atuou no mercado de edição de livros de finanças em São Paulo e foi, por seis anos, redatora-chefe da revista Prazeres da Mesa (https://www.prazeresdamesa.com.br/), antes de se mudar para Inglaterra.
No Reino Unido, foi editora do jornal Notícias em Português, voltado à comunidade lusófona na Inglaterra.
Escreve e edita sobre o mercado de criptomoedas e tecnologia blockchain desde 2022.
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