O Cazaquistão anunciou uma reserva nacional de Bitcoin por ordem presidencial, começando com 5.000 BTC confiscados.
O plano visa adquirir 10.000-20.000 BTC, usando impostos de mineração e protegendo o tenge contra instabilidade.
O Cazaquistão foi o primeiro país da Ásia Central a lançar um ETF de Bitcoin, em agosto deste ano.
O cenário global de reservas nacionais em Bitcoin (BTC) ganhou um novo capítulo nesta segunda-feira (8/9) com o anúncio de que o Cazaquistão estabelecerá sua própria reserva por ordem presidencial.
Quem deu a notícia foi ninguém menos que o presidente do país, Kassym-Jomart Tokayev, via Telegram. O anúncio marca uma decisão histórica que posiciona o país da Ásia Central como pioneiro na integração de criptoativos à sua estratégia financeira soberana.
No entanto, vale dizer que essa não é a primeira vez que o país faz acenos ao mercado de criptomoedas. Afinal, o Cazaquistão foi o primeiro país da Ásia Central a lançar um ETF de Bitcoin, em agosto deste ano.
Cazaquistão quer comprar Bitcoin
Com uma economia que depende fortemente de exportações de petróleo e mineração, o Cazaquistão busca diversificar seus ativos e fortalecer sua posição no mercado global de criptomoedas.
Portanto, esse movimento é alinhado a planos anteriores do banco central do país para explorar exposições a Bitcoin. Para além disso, reflete uma tendência crescente entre nações que veem a criptomoeda como um hedge contra a inflação e a instabilidade econômica.
A ordem presidencial estabelece que o governo começará a acumular Bitcoin como parte de suas reservas estrangeiras. Inicialmente, alocará recursos de seu fundo soberano, que detém US$ 62 bilhões em ativos, incluindo ouro e moedas fortes.
O Banco Nacional do Cazaquistão, liderado por Timur Suleimenov, planeja usar ativos confiscados de atividades ilícitas de cripto, estimados em 5.000 BTC (US$ 565 milhões ao preço atual de US$ 113.000), como base inicial. Após usar esses fundos, o plano é fazer aquisições adicionais financiadas por impostos sobre mineração.
Por que o Cazaquistão quer comprar BTC?
A decisão do Cazaquistão ocorre em um contexto de transformação econômica e geopolítica. Com uma economia que gera US$ 200 bilhões anuais, majoritariamente de petróleo e gás, o país enfrenta desafios. Por exemplo, houve uma queda de 15% nos preços do barril em 2025. Além disso, o país enfrenta sanções indiretas devido às suas relações próximas com a Rússia.
A mineração de Bitcoin, que já responde por 18% do hashrate global segundo a Cambridge Bitcoin Electricity Consumption Index, tornou-se um pilar econômico, com mais de 100 fazendas de mineração consumindo 2 GW de energia, muitas delas alimentadas por fontes renováveis, como hidroelétricas.
A reserva nacional pode alavancar essa infraestrutura, convertendo energia barata em ativos digitais valiosos, uma estratégia que o presidente destaca como fundamentada na ‘regulação avançada de cripto’ no país.
Presidente Cazaque Bitcoiner
Em comunicado, o presidente informou que, para o lançamento bem-sucedido de um novo ciclo de investimentos, é preciso envolver de forma mais ativa os bancos de segundo nível no financiamento do setor real. Essa questão já vem sendo discutida há muito tempo, segundo ele. Portanto, ‘chegou a hora de tomar decisões concretas’. Tokayev pediu a colaboração dos deputados:
O governo, em conjunto com a Agência de Regulação do Mercado Financeiro, deve trabalhar de forma abrangente neste projeto de lei. Peço aos deputados que o aprovem até o fim do ano.
A iniciativa pode acelerar a formação de um ecossistema completo de ativos digitais no país. Isso já é facilitado pela introdução do tenge digital, que já é utilizado no financiamento de projetos do Fundo Nacional. Agora, o uso do tenge digital pode se estender ao âmbito do orçamento nacional, dos orçamentos locais e também dos orçamentos de holdings estatais.
Tendo em conta as realidades atuais, é necessário concentrar-se nos criptoativos. Com base na corporação de investimentos do Banco Nacional, deve surgir um Fundo Estatal de Ativos Digitais. Por sua fez, o fundo acumulará uma reserva estratégica de criptomoedas composta pelas criptomoedas mais promissoras do novo sistema financeiro digital.
A iniciativa segue os passos de nações como El Salvador, que detém 6.000 BTC como reserva legal desde 2021. Também reflete uma abordagem inspirada por propostas como a de Michael Saylor da Strategy, que acumula a criptomoeda desde 2020.
Reserva tem base sólida
Em entrevista ao gerente geral da Binance no Cazaquistão, Nurkhat Kushimov, em março deste ano, Tokayev expressou confiança em uma ‘base sólida’ para a reserva do país, devido à infraestrutura de mineração e regulamentação.
O Banco Nacional planeja transferir os 5.000 BTC confiscados para uma entidade centralizada para supervisão e gestão de riscos, com aquisições adicionais financiadas por uma taxação de 10% sobre os US$ 500 milhões anuais em lucros de mineração, conforme estimativas do governo.
Especialistas acreditam ser possível que o movimento do Cazaquistão desencadeie uma ‘corrida às reservas’ entre os países. Suíça e Polônia consideram realizar referendos sobre a adoção do Bitcoin como ativo de reserva, conforme reportagem da Forbes em janeiro.
Analistas da Chainalysis acreditam que a demanda global por BTC pode aumentar em 20% até o final de 2026. Desse modo, elevaria o preço potencial do ativo a US$ 130.000.
A longo prazo, o Cazaquistão pode se tornar um hub cripto, atraindo mineradores e investidores. Ou seja, a ordem presidencial do Cazaquistão para criar uma reserva nacional de Bitcoin posiciona o país como líder de um movimento com muitos desenvolvimentos potenciais.
O movimento também reforça a narrativa do Bitcoin como ativo soberano, impulsionando o mercado global de US$ 2,7 trilhões e redefinindo a economia cazaque.
Disclaimer: Coinspeaker está comprometido em fornecer reportagens imparciais e transparentes. Este artigo tem como objetivo fornecer informações precisas e oportunas. Mas não deve ser considerado como conselho financeiro ou de investimento. Como as condições do mercado podem mudar rapidamente, recomendamos que você verifique as informações por conta própria. E consulte um profissional antes de tomar qualquer decisão com base neste conteúdo.
Marta Barbosa Stephens é escritora e jornalista formada pela Universidade Católica de Pernambuco, com mestrado na PUC São Paulo e pós-graduação em edição na Universidade de Barcelona.
Trabalhou em diversas redações de jornais e revistas no Brasil. Foi repórter de economia no Jornal da Tarde, do grupo O Estado de São Paulo e editora-adjunta de finanças pessoais na revista IstoÉ Dinheiro. Atuou no mercado de edição de livros de finanças em São Paulo e foi, por seis anos, redatora-chefe da revista Prazeres da Mesa (https://www.prazeresdamesa.com.br/), antes de se mudar para Inglaterra.
No Reino Unido, foi editora do jornal Notícias em Português, voltado à comunidade lusófona na Inglaterra.
Escreve e edita sobre o mercado de criptomoedas e tecnologia blockchain desde 2022.
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