Euro Digital deve ser lançado até 2029, projeta membro do BCE

O projeto exige de 2,5 a 3 anos após a lei para implementação.

Marta Stephens By Marta Stephens Flavio Aguilar Edited by Flavio Aguilar Atualizado em 5 mins read
Euro Digital deve ser lançado até 2029, projeta membro do BCE

Resumo da notícia

  • Euro Digital deve ser lançado até 2029, segundo Piero Cipollone, do Banco Central Europeu.
  • Limites de saldo em carteiras digitais foram acordados entre autoridades financeiras da zona do euro.
  • Após aprovação da legislação, estima-se que a implementação levará 2,5-3 anos.

O Banco Central Europeu (BCE) confirmou que o Euro Digital pode ser lançado até 2029, segundo Piero Cipollone, membro do conselho da instituição.

A declaração foi feita após um avanço considerado decisivo entre os ministros das Finanças da zona do euro, que chegaram a um consenso sobre os limites de saldo que os cidadãos poderão manter em suas carteiras digitais.

Esses limites são vistos como peça central para garantir que o Euro Digital seja usado prioritariamente como meio de pagamento e não como instrumento de investimento, o que poderia desestabilizar o sistema bancário tradicional.

O que falta para o Euro Digital sair do papel

No setor cripto, o movimento é observado com cautela. Embora o Euro Digital não concorra diretamente com ativos como Bitcoin, Ethereum ou as demais melhores criptomoedas, sua introdução tende a afetar o espaço ocupado por stablecoins privadas.

Estas, por sua vez, poderão enfrentar maior pressão regulatória ou precisar se adaptar a padrões de interoperabilidade e transparência exigidos pelas autoridades.

O cronograma traçado pelo BCE prevê que, até maio de 2026, o Parlamento Europeu, o Conselho da União Europeia e a Comissão Europeia alinhem suas posições políticas. Em seguida, devem iniciar o trabalho legislativo formal.

Após a aprovação da lei, será necessário um período de dois anos e meio a três anos para concluir toda a implementação técnica e operacional do sistema, o que coloca a expectativa de lançamento do Euro Digital entre 2028 e 2029.

O projeto busca modernizar a infraestrutura financeira da região e criar uma versão digital do euro que funcione de maneira integrada ao sistema monetário já existente.

O BCE já adiantou algumas das principais características do Euro Digital.

  • Funcionamento online e offline, garantindo pagamentos mesmo em locais com conectividade limitada;
  • Privacidade semelhante à do dinheiro físico em transações com baixo valor, mas respeitando as regras de combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo;
  • Ausência de remuneração, já que a moeda digital não pagará juros e não terá caráter de investimento;
  • Custódia realizada por bancos e prestadores de serviços de pagamento autorizados, sempre dentro de um ecossistema supervisionado e regulado.

Esses pontos foram pensados para mitigar riscos de fuga de depósitos dos bancos comerciais e, ao mesmo tempo, ampliar a conveniência para os cidadãos. Afinal, eles terão à disposição uma forma de pagamento segura, supervisionada e com potencial de reduzir custos em transações digitais.

Competição com as stablecoins?

A introdução do Euro Digital também levanta debates sobre privacidade, confiança pública e competitividade das stablecoins privadas.

Por um lado, as autoridades europeias afirmam que o desenho do sistema será capaz de equilibrar segurança e privacidade. Desse modo, o objetivo é oferecer anonimato parcial em operações pequenas, mas garantir rastreabilidade quando necessário.

Por outro lado, organizações civis e especialistas alertam para o risco de vigilância excessiva e para a necessidade de mecanismos claros que assegurem o direito à privacidade dos cidadãos.

Outro desafio será a aceitação do público, já que muita gente ainda não está familiarizada com a ideia de uma moeda digital emitida por um banco central. A confiança no BCE, a clareza na comunicação das regras e a facilidade de uso da tecnologia serão fatores decisivos para garantir a adesão em larga escala.

Do ponto de vista político, a aprovação legislativa representa um obstáculo relevante. Os 27 estados-membros da União Europeia terão de alinhar suas visões sobre pontos sensíveis, como a governança do sistema, a proteção de dados e a soberania monetária.

Divergências internas podem atrasar ou alterar o desenho final do projeto. Além disso, há um esforço técnico considerável pela frente.

Testes necessários

A infraestrutura do Euro Digital precisará passar por testes em escala continental. Isso inclui a integração entre bancos, sistemas de pagamento já existentes e garantias robustas contra ataques cibernéticos. O BCE afirma estar preparado para enfrentar esse desafio, mas reconhece que a implementação será complexa.

No cenário internacional, o anúncio do BCE coloca a Europa em sintonia com um movimento global em direção às moedas digitais de bancos centrais (CBDCs).

China, Brasil e Índia já avançam em testes ou implementações de suas próprias versões, enquanto os Estados Unidos proibiram iniciativas do tipo.

A adoção de um Euro Digital fortalece a posição da União Europeia na corrida tecnológica global e pode aumentar a relevância do euro como moeda de reserva. Ao mesmo tempo, pressiona outros blocos econômicos a acelerar seus próprios projetos de moedas digitais.

Euro Digital avança, mas ainda tem um longo caminho

No curto prazo, a principal novidade é que o projeto do Euro Digital avançou para uma fase concreta. Agora, a tecnologia conta com prazos definidos e respaldo político para continuar. Se o cronograma for cumprido, os cidadãos europeus poderão contar com uma nova forma de dinheiro até o final da década.

Portanto, o avanço reflete a tentativa da Europa de modernizar seu sistema financeiro. Além disso, os países europeus visam proteger sua soberania monetária e oferecer um meio de pagamento digital que combine inovação tecnológica, segurança e estabilidade.

Ainda assim, o sucesso da iniciativa do Euro Digital dependerá da capacidade de alinhar interesses políticos, superar barreiras técnicas e conquistar a confiança da população.

Disclaimer: Coinspeaker está comprometido em fornecer reportagens imparciais e transparentes. Este artigo tem como objetivo fornecer informações precisas e oportunas. Mas não deve ser considerado como conselho financeiro ou de investimento. Como as condições do mercado podem mudar rapidamente, recomendamos que você verifique as informações por conta própria. E consulte um profissional antes de tomar qualquer decisão com base neste conteúdo.

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Marta Stephens

Marta Barbosa Stephens é escritora e jornalista formada pela Universidade Católica de Pernambuco, com mestrado na PUC São Paulo e pós-graduação em edição na Universidade de Barcelona. Trabalhou em diversas redações de jornais e revistas no Brasil. Foi repórter de economia no Jornal da Tarde, do grupo O Estado de São Paulo e editora-adjunta de finanças pessoais na revista IstoÉ Dinheiro. Atuou no mercado de edição de livros de finanças em São Paulo e foi, por seis anos, redatora-chefe da revista Prazeres da Mesa (https://www.prazeresdamesa.com.br/), antes de se mudar para Inglaterra. No Reino Unido, foi editora do jornal Notícias em Português, voltado à comunidade lusófona na Inglaterra. Escreve e edita sobre o mercado de criptomoedas e tecnologia blockchain desde 2022.