Euro Digital deve ser lançado até 2029, segundo Piero Cipollone, do Banco Central Europeu.
Limites de saldo em carteiras digitais foram acordados entre autoridades financeiras da zona do euro.
Após aprovação da legislação, estima-se que a implementação levará 2,5-3 anos.
O Banco Central Europeu (BCE) confirmou que o Euro Digital pode ser lançado até 2029, segundo Piero Cipollone, membro do conselho da instituição.
A declaração foi feita após um avanço considerado decisivo entre os ministros das Finanças da zona do euro, que chegaram a um consenso sobre os limites de saldo que os cidadãos poderão manter em suas carteiras digitais.
Esses limites são vistos como peça central para garantir que o Euro Digital seja usado prioritariamente como meio de pagamento e não como instrumento de investimento, o que poderia desestabilizar o sistema bancário tradicional.
O que falta para o Euro Digital sair do papel
No setor cripto, o movimento é observado com cautela. Embora o Euro Digital não concorra diretamente com ativos como Bitcoin, Ethereum ou as demais melhores criptomoedas, sua introdução tende a afetar o espaço ocupado por stablecoins privadas.
Estas, por sua vez, poderão enfrentar maior pressão regulatória ou precisar se adaptar a padrões de interoperabilidade e transparência exigidos pelas autoridades.
O cronograma traçado pelo BCE prevê que, até maio de 2026, o Parlamento Europeu, o Conselho da União Europeia e a Comissão Europeia alinhem suas posições políticas. Em seguida, devem iniciar o trabalho legislativo formal.
Após a aprovação da lei, será necessário um período de dois anos e meio a três anos para concluir toda a implementação técnica e operacional do sistema, o que coloca a expectativa de lançamento do Euro Digital entre 2028 e 2029.
O projeto busca modernizar a infraestrutura financeira da região e criar uma versão digital do euro que funcione de maneira integrada ao sistema monetário já existente.
O BCE já adiantou algumas das principais características do Euro Digital.
Funcionamento online e offline, garantindo pagamentos mesmo em locais com conectividade limitada;
Privacidade semelhante à do dinheiro físico em transações com baixo valor, mas respeitando as regras de combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo;
Ausência de remuneração, já que a moeda digital não pagará juros e não terá caráter de investimento;
Custódia realizada por bancos e prestadores de serviços de pagamento autorizados, sempre dentro de um ecossistema supervisionado e regulado.
Esses pontos foram pensados para mitigar riscos de fuga de depósitos dos bancos comerciais e, ao mesmo tempo, ampliar a conveniência para os cidadãos. Afinal, eles terão à disposição uma forma de pagamento segura, supervisionada e com potencial de reduzir custos em transações digitais.
Competição com as stablecoins?
A introdução do Euro Digital também levanta debates sobre privacidade, confiança pública e competitividade das stablecoins privadas.
Por um lado, as autoridades europeias afirmam que o desenho do sistema será capaz de equilibrar segurança e privacidade. Desse modo, o objetivo é oferecer anonimato parcial em operações pequenas, mas garantir rastreabilidade quando necessário.
Por outro lado, organizações civis e especialistas alertam para o risco de vigilância excessiva e para a necessidade de mecanismos claros que assegurem o direito à privacidade dos cidadãos.
Outro desafio será a aceitação do público, já que muita gente ainda não está familiarizada com a ideia de uma moeda digital emitida por um banco central. A confiança no BCE, a clareza na comunicação das regras e a facilidade de uso da tecnologia serão fatores decisivos para garantir a adesão em larga escala.
Do ponto de vista político, a aprovação legislativa representa um obstáculo relevante. Os 27 estados-membros da União Europeia terão de alinhar suas visões sobre pontos sensíveis, como a governança do sistema, a proteção de dados e a soberania monetária.
Divergências internas podem atrasar ou alterar o desenho final do projeto. Além disso, há um esforço técnico considerável pela frente.
Testes necessários
A infraestrutura do Euro Digital precisará passar por testes em escala continental. Isso inclui a integração entre bancos, sistemas de pagamento já existentes e garantias robustas contra ataques cibernéticos. O BCE afirma estar preparado para enfrentar esse desafio, mas reconhece que a implementação será complexa.
No cenário internacional, o anúncio do BCE coloca a Europa em sintonia com um movimento global em direção às moedas digitais de bancos centrais (CBDCs).
China, Brasil e Índia já avançam em testes ou implementações de suas próprias versões, enquanto os Estados Unidos proibiram iniciativas do tipo.
A adoção de um Euro Digital fortalece a posição da União Europeia na corrida tecnológica global e pode aumentar a relevância do euro como moeda de reserva. Ao mesmo tempo, pressiona outros blocos econômicos a acelerar seus próprios projetos de moedas digitais.
Euro Digital avança, mas ainda tem um longo caminho
No curto prazo, a principal novidade é que o projeto do Euro Digital avançou para uma fase concreta. Agora, a tecnologia conta com prazos definidos e respaldo político para continuar. Se o cronograma for cumprido, os cidadãos europeus poderão contar com uma nova forma de dinheiro até o final da década.
Portanto, o avanço reflete a tentativa da Europa de modernizar seu sistema financeiro. Além disso, os países europeus visam proteger sua soberania monetária e oferecer um meio de pagamento digital que combine inovação tecnológica, segurança e estabilidade.
Ainda assim, o sucesso da iniciativa do Euro Digital dependerá da capacidade de alinhar interesses políticos, superar barreiras técnicas e conquistar a confiança da população.
Disclaimer: Coinspeaker está comprometido em fornecer reportagens imparciais e transparentes. Este artigo tem como objetivo fornecer informações precisas e oportunas. Mas não deve ser considerado como conselho financeiro ou de investimento. Como as condições do mercado podem mudar rapidamente, recomendamos que você verifique as informações por conta própria. E consulte um profissional antes de tomar qualquer decisão com base neste conteúdo.
Marta Barbosa Stephens é escritora e jornalista formada pela Universidade Católica de Pernambuco, com mestrado na PUC São Paulo e pós-graduação em edição na Universidade de Barcelona.
Trabalhou em diversas redações de jornais e revistas no Brasil. Foi repórter de economia no Jornal da Tarde, do grupo O Estado de São Paulo e editora-adjunta de finanças pessoais na revista IstoÉ Dinheiro. Atuou no mercado de edição de livros de finanças em São Paulo e foi, por seis anos, redatora-chefe da revista Prazeres da Mesa (https://www.prazeresdamesa.com.br/), antes de se mudar para Inglaterra.
No Reino Unido, foi editora do jornal Notícias em Português, voltado à comunidade lusófona na Inglaterra.
Escreve e edita sobre o mercado de criptomoedas e tecnologia blockchain desde 2022.
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