O governo dos EUA movimentou 667 BTC para um novo endereço às vésperas do discurso de Jerome Powell.
O mercado de criptomoedas viveu uma semana de apreensão com duas movimentações simultâneas que chamaram a atenção.
Em uma delas, o governo dos Estados Unidos transferiu 667 BTC (cerca de US$ 75 milhões) para um novo endereço não identificado.
Enquanto isso, o trader apelidado pela comunidade como ‘a baleia do crash de sexta-feira’, responsável por lucrar centenas de milhões de dólares minutos antes do anúncio das novas tarifas comerciais de Donald Trump, aumentou sua posição vendida para US$ 500 milhões.
Governo dos EUA movimenta BTC e baleia aumenta short
De acordo com dados da plataforma Arkham Intelligence, o portfólio total de criptoativos sob custódia governamental soma aproximadamente US$ 22,88 bilhões. Isso se distribui entre as criptomoedas mais promissoras, como Bitcoin, Ethereum, stablecoins e tokens tokenizados de BTC, como o wBTC.
O movimento de 667 BTC representa menos de 0,4% do total, mas gerou grande repercussão por ocorrer horas antes de um discurso programado do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, às 16h20 UTC, evento que tradicionalmente aumenta a volatilidade dos mercados.
Os dados on-chain mostram que a nova carteira receptora não realizou nenhuma venda ou conversão. Isso sugere que a movimentação pode estar ligada a reorganizações de custódia ou auditoria interna.
No entanto, traders e analistas interpretam a coincidência temporal entre a transação e o aumento da posição short da baleia como um possível indício de movimentos coordenados ou reações a informações antecipadas sobre o discurso de Powell.
O que dizem os analistas sobre movimentação de BTC pelo governo dos EUA?
Para Paulo Aragão, economista e apresentador do podcast Giro Bitcoin, essa movimentação parece estar relacionada a uma estratégia de gerenciamento interno de ativos, sem indicar necessariamente uma venda iminente. Segundo ele:
É importante lembrar que a criação da Reserva Estratégica Americana de Bitcoin, estabelecida por ordem executiva do presidente Donald Trump, restringe a venda desses BTC pelo governo federal dos Estados Unidos.
O analista André Franco, CEO da Boost Research, avalia que a movimentação dos EUA não é necessariamente um sinal de venda iminente, nem representa risco relevante ao mercado.
Segundo ele, apenas quando há confirmação de transferência para uma exchange, seguida de liquidação, é possível afirmar que houve alienação dos ativos.
Mesmo assim, o volume não é substancial frente ao total de reservas, e o mercado teria plena capacidade de absorver essa oferta sem impacto estrutural relevante.
Ele reforça que o episódio deve ser visto como uma ação técnica de custódia, e não um sinal de venda governamental.
A baleia do crash volta ao radar
Segundo o rastreamento feito pela Arkham, o trader anônimo que lucrou mais de US$ 190 milhões em apenas uma hora após o anúncio das tarifas comerciais entre Estados Unidos e China voltou a movimentar suas posições no domingo.
Ele aumentou seu short combinado para US$ 500 milhões. Portanto, já configura uma das maiores posições individuais abertas no mercado de derivativos de Bitcoin em 2025.
Nas últimas 48 horas, os endereços ligados ao investidor adicionaram aproximadamente US$ 46 milhões em colateral de stablecoins, reforçando a margem de segurança da operação.
A posição foi aberta em múltiplas corretoras, com alavancagem entre 15x e 20x, o que indica uma expectativa de queda acentuada no preço do BTC nas próximas sessões. Possivelmente, isso ocorreria em reação ao discurso do Fed ou a um novo episódio de tensão geopolítica.
O mesmo trader ficou conhecido após realizar um short de nove dígitos cerca de 30 minutos antes de uma coletiva de Trump na semana. Na ocasião, o presidente dos EUA anunciou tarifas de 100% sobre importações chinesas.
Em menos de uma hora, a posição gerou lucros superiores a US$ 190 milhões. Mas foi uma exceção. Afinal, esse foi um dos maiores eventos de liquidação em massa já registrados no mercado cripto.
Insider trading ou excelente leitura de mercado?
A velocidade e precisão do movimento levantaram suspeitas de uso de informação privilegiada (insider trading). Mas não houve confirmação de uma investigação oficial até o momento. Segundo Aragão:
É natural que, após o ocorrido, tenham surgido especulações sobre um possível insider trading, ou seja, o uso de informação privilegiada para obter vantagem. No entanto, apesar do timing bastante suspeito, isso por si só não constitui prova.
Ele complementa:
Vale lembrar que o mercado financeiro já especulava, desde a manhã da última sexta-feira, sobre um aumento das tensões entre os Estados Unidos e a China. Isso porque as cartas enviadas pela China restringindo exportações ligadas às terras raras já circulavam, alimentando expectativas de uma escalada. Uma intensificação repentina dessas tensões era algo que claramente teria impacto de curto prazo nos mercados globais.
Portanto, ainda que o momento da operação chame a atenção, para Aragão, é possível que tenha sido apenas o caso de um investidor que fez uma leitura correta do cenário geopolítico.
Já para André Franco, há fortes indícios de comportamento atípico que merecem apuração:
Isso é claramente passível de ação investigatória, pelo menos após o fechamento do trade. O timing é preciso demais para ser mera coincidência. E há elementos suficientes para que autoridades avaliem a possibilidade de uso de informação privilegiada.
Mercado permanece cauteloso
Mesmo assim, com o aumento de sua mão na aposta para meio bilhão de dólares, a baleia reacende temores sobre uma possível nova rodada de liquidações massivas, caso o Bitcoin perca suporte na região entre US$ 110.000 e 108.000.
Dados de derivativos da Coinglass indicam mais de US$ 2 bilhões em posições long altamente alavancadas acima dos US$ 112.000. Caso ocorra o rompimento desse nível, pode haver um efeito cascata semelhante ao do crash da semana anterior.
A coincidência entre as ações governamentais e as movimentações do trader amplifica o sentimento de desconfiança do mercado. Embora não haja evidências de ligação direta, as transferências de grandes carteiras públicas costumam ser interpretadas como potenciais sinais de liquidez ou de ajuste fiscal, provocando reações automáticas em algoritmos de negociação de alta frequência.
Volatilidade pela frente
O mercado cripto deve enfrentar forte volatilidade, segundo Aragão:
Após a recente onda de liquidações históricas, o Bitcoin parece testar zonas críticas de suporte entre 108 mil e 110 mil dólares, enquanto a resistência se mantém próxima de 123 mil. Se esses níveis forem respeitados, poderemos ver uma recuperação parcial. Mas o cenário ainda é de cautela, com possibilidade de armadilhas de preço e movimentos bruscos em altcoins.
Além disso, a chance de um acordo entre o governo dos Estados Unidos e a China surge como fator de virada para o BTC. Para Aragão, qualquer avanço diplomático pode aliviar a pressão sobre ativos de risco, enquanto um impasse tende a reforçar o clima de incerteza nos mercados.
Disclaimer: Coinspeaker está comprometido em fornecer reportagens imparciais e transparentes. Este artigo tem como objetivo fornecer informações precisas e oportunas. Mas não deve ser considerado como conselho financeiro ou de investimento. Como as condições do mercado podem mudar rapidamente, recomendamos que você verifique as informações por conta própria. E consulte um profissional antes de tomar qualquer decisão com base neste conteúdo.
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