
Resumo da notícia
- Empresas como Bit Digital e BitMine migram suas reservas de caixa para Ethereum, buscando rendimento via staking.
- O Ethereum permite estratégias mais dinâmicas que o Bitcoin, como staking, uso em DeFi e contratos inteligentes.
- No Brasil, a Méliuz já abriu precedentes ao adotar Bitcoin em sua tesouraria, e o Ethereum pode ser o próximo passo.
- A chegada da BitGo e o avanço da regulação cripto no país tornam o cenário mais favorável para empresas brasileiras adotarem ETH.
Empresas ao redor do mundo estão redesenhando suas estratégias financeiras à medida que ETH, a moeda nativa da rede Ethereum, ganha espaço como ativo de reserva de tesouraria.
Em vez de manter saldos ociosos em caixa ou títulos públicos de baixo rendimento, companhias de tecnologia, criptoativos e até de setores tradicionais estão migrando parte de seus balanços para a blockchain.
Não apenas em busca de valorização, mas para aproveitar o potencial de rendimento passivo via staking e integração com finanças descentralizadas (DeFi).
Empresas internacionais já começaram movimento
Existem já outros ativos digitais usados por empresas como reservas estratégicas. Mas entre as melhores criptomoedas para investir, uma empresa consolidada tende a recorrer às duas maiores do mercado. Entre os casos mais emblemáticos, a Bit Digital, listada na Nasdaq, anunciou recentemente que converteu toda sua reserva de caixa para Ethereum.
A empresa levantou cerca de US$ 172 milhões por meio de vendas de ações e decidiu usar os recursos para adquirir aproximadamente 100 mil ETH, tornando-se uma das maiores detentoras corporativas do ativo.
Segundo seus executivos, o objetivo não é apenas especulativo: o Ethereum oferece rendimento passivo via staking e pode ser utilizado em estratégias programáveis on-chain.
Em outras palavras, a reserva de tesouraria da Bit Digital passou a funcionar como uma espécie de fundo automatizado, rendendo diariamente enquanto preserva o valor patrimonial.
O movimento não é isolado. A BitMine Immersion Technologies, também americana, captou US$ 250 milhões em uma rodada estratégica para investir exclusivamente em Ethereum. A empresa acumulou mais de 560 mil ETH em questão de semanas.
O mercado reagiu com euforia: suas ações dispararam mais de 3.000% em julho, ainda que tenham sofrido correções nos dias seguintes.
A SharpLink Gaming, do setor de apostas esportivas, foi por um caminho semelhante, comprando cerca de 438 mil ETH para sua tesouraria. Já a BTCS Inc., que atua com infraestrutura blockchain, soma mais de 70 mil ETH em reservas.
ETH vs BTC em tesouraria
O racional por trás dessas decisões é claro: diferente do Bitcoin, que é mais utilizado como reserva de valor estática, o Ethereum oferece funcionalidades adicionais que o tornam atraente para tesourarias corporativas.
Entre elas, o staking se destaca como um mecanismo de geração de rendimento passivo, com retornos que variam entre 3% e 5% ao ano, dependendo da forma de delegação ou operação validatória adotada.
Além disso, o Ethereum é nativamente programável. Empresas podem desenvolver estratégias de gestão financeira integradas a contratos inteligentes, como aplicações em protocolos DeFi. Além disso, podem realizar alocações dinâmicas com tokens de rendimento e gestão automatizada de liquidez.
Outro fator relevante é a flexibilidade de liquidez. Mesmo em staking, com os avanços recentes do Ethereum. Especialmente após as atualizações Shanghai e Capella, os fundos podem ser desbloqueados com relativa agilidade.
E, no caso de tesourarias mais ousadas, é possível usar versões líquidas do ETH (como o stETH da Lido) para manter rendimento e ainda utilizar os ativos como colateral para outras estratégias. Essa característica amplia o leque de possibilidades e diferencia o Ethereum de ativos tradicionais ou mesmo do próprio Bitcoin.
O interesse corporativo por Ethereum também se alinha a uma tendência de maior exposição institucional aos ativos digitais. Se a MicroStrategy ficou mundialmente conhecida por acumular mais de 200 mil BTC em sua tesouraria, agora parece que o Ethereum começa a trilhar caminho semelhante, só que com uma proposta diferente.
Mais do que reserva de valor, a ideia é transformar caixa em infraestrutura digital ativa. Isso marca uma guinada de mentalidade para empresas que desejam se posicionar na fronteira da inovação financeira.
E no Brasil?
No Brasil, o movimento ainda é tímido, mas já há sinais de que pode ganhar força. A Méliuz se tornou a primeira empresa listada na B3 a adotar criptoativos na tesouraria. A decisão, aprovada em assembleia de acionistas em maio de 2025, levou a empresa a comprar mais de 320 BTC, consolidando uma estratégia inspirada na MicroStrategy.
Embora a escolha tenha recaído sobre o Bitcoin, o caso abriu o precedente legal e contábil para que empresas brasileiras considerem ativos digitais em suas reservas. O que pode facilitar futuras decisões envolvendo Ethereum.
Além disso, o ambiente regulatório no Brasil começa a oferecer mais segurança para esse tipo de operação. A chegada da BitGo ao país, com operação de custódia regulada e soluções de tesouraria institucional, é um marco relevante.
Com infraestrutura legal e operacional mais robusta, empresas que desejam adotar Ethereum agora podem contar com serviços compatíveis com as exigências da CVM e do Banco Central, minimizando os riscos legais da operação.
Outro aspecto que favorece a adoção do Ethereum como ativo de tesouraria é a crescente familiaridade do mercado corporativo com soluções Web3. Empresas nativas digitais, fintechs e até setores como varejo e logística já começaram a explorar integrações com blockchain.
Ethereum, sendo a principal plataforma de contratos inteligentes, tende a ser a escolha natural dessas corporações, tanto por seu ecossistema já estabelecido quanto pela quantidade de ferramentas de gerenciamento financeiro disponíveis.
Desafios de tesouraria com ETH no Brasil
Dentre os principais desafios para a adoção brasileira, estão a volatilidade dos criptoativos, a ausência de normatização específica para staking corporativo e a necessidade de profissionais qualificados para estruturar essas estratégias.
Ainda assim, o cenário é promissor. Principalmente agora, que a taxação de rendimentos em renda fixa pressiona os ganhos de tesourarias tradicionais. Nesse sentido, o Ethereum surge como uma alternativa viável, especialmente para companhias com apetite por inovação e foco em tecnologia.
Importante destacar que o uso de Ethereum em tesourarias não significa abdicar de políticas conservadoras. As empresas americanas que adotaram esse modelo criaram comitês internos, implementaram auditorias e estabeleceram controles rigorosos para mitigar os riscos. Esse é o modelo que deve ser seguido no Brasil: profissionalização, transparência e gestão ativa de risco.
A tese de que o Ethereum pode se tornar um ativo estrutural em tesourarias empresariais está apenas no começo. Portanto, assim como o Bitcoin pavimentou o caminho para uma nova visão de reserva de valor corporativa, o Ethereum está abrindo uma trilha inédita. Trilha esta que é mais dinâmica, interoperável e financeiramente ativa.
Com a regulação brasileira avançando, a presença crescente de serviços institucionais e o amadurecimento do setor, o Brasil pode ser o próximo a abraçar essa tendência. A questão não é mais `se`, mas `quando`.
Disclaimer: Coinspeaker está comprometido em fornecer reportagens imparciais e transparentes. Este artigo tem como objetivo fornecer informações precisas e oportunas. Mas não deve ser considerado como conselho financeiro ou de investimento. Como as condições do mercado podem mudar rapidamente, recomendamos que você verifique as informações por conta própria. E consulte um profissional antes de tomar qualquer decisão com base neste conteúdo.