Bitcoin caiu cerca de 25% desde outubro e ETFs registram US$ 3 bi em saídas.
Liquidações de US$ 20 bi em alavancagem marcaram o início da correção.
Bear market atual é técnico e macro, não estrutural.
Ethereum e Solana seguem desvalorizadas, apesar do uso crescente.
Tokenização já soma US$ 35 bi em ativos on-chain.
Em teleconferência emergencial realizada na quarta-feira (19/11), a 21Shares, maior emissora de ETFs cripto da Europa, confirmou o que muitos investidores já suspeitavam: o mercado entrou oficialmente em um bear market.
O encontro, conduzido pelo Global Head of Research, Eliézer Ndinga, e pelo VP de Estratégia de Investimento, Adrian Fritz, buscou analisar as causas da liquidação recente e avaliar se a correção atual é estrutural ou apenas cíclica.
Liquidação recorde e efeito dominó de alavancagem
A correção mais recente ocorreu no dia 10 de outubro, após o anúncio inesperado de tarifas comerciais dos EUA contra a China pelo presidente dos EUA, Donald Trump. O evento pegou os mercados globais fechados, mas atingiu em cheio os criptoativos.
Segundo Fritz, quase US$ 20 bilhões foram liquidados em posições alavancadas nas criptomoedas mais promissoras em 24 horas, no maior movimento de deleveraging da história das criptomoedas:
O maior problema foi a alavancagem no sistema. O movimento foi exacerbado por liquidações automáticas e erros de precificação em oráculos e livros de ordens. Em alguns momentos, vimos mais de US$ 500 milhões sendo liquidados em 24 horas.
Além da pressão dos derivativos, os ETFs spot de Bitcoin registraram saídas líquidas superiores a US$ 3 bilhões desde meados de outubro, conforme dados da Farside Investors.
Apesar do pânico, os executivos da 21Shares afirmam que a queda é mais macro do que estrutural: não houve hacks, colapsos de exchanges ou crises de governança. Esses problemas caracterizaram os bear markets anteriores, em 2018 e 2022.
Desalavancagem, não desastre: fundamentos seguem sólidos
Para a 21Shares, o movimento atual é de ajuste técnico e não de colapso fundamental. ‘É um retorno à normalidade’, disse Ndinga, lembrando que o setor historicamente sofre após períodos de excesso especulativo, como o boom de memecoins na Solana e o frenesi de NFTs entre 2021 e 2023.
Fritz acrescentou:
Os fatores que causaram um bear market no passado — especulação, fraudes, ataques hackers e repressões regulatórias — não estão presentes agora. A principal causa foi o excesso de alavancagem, amplificado por choques macroeconômicos.
No longo prazo, os analistas veem forças estruturais positivas sustentando o mercado. O avanço da tokenização institucional, a maturidade de projetos baseados em receita e a crescente adoção de blockchains por empresas de pagamentos e fintechs.
Bitcoin resiliente, altcoins em recuperação desigual
O Bitcoin caiu cerca de 25% desde as máximas de outubro. Mas a maior criptomoeda do mundo ainda representa 55% do valor de mercado do setor, consolidando seu papel como ativo dominante.
Já Ethereum e Solana enfrentam um cenário distinto: embora apresentem um forte crescimento em seu uso — com throughput superior a redes de pagamentos tradicionais —, seus preços seguem 70% abaixo dos recordes de 2021. Ndinga explica:
Estamos vendo uma recuperação em que o Bitcoin tende a se estabilizar mais rápido, enquanto boa parte das altcoins continuará lateral ou até em retração. É um processo de maturação: o mercado está separando projetos sólidos dos especulativos.
Segundo ele, a valorização relativa de alguns tokens não acompanha os avanços técnicos, o que cria distorções. Como exemplo, citou o price-to-sales (P/S) das principais blockchains: o Ethereum negocia a 200x, contra 40x a 50x de Solana — múltiplos próximos aos de empresas de inteligência artificial (IA) listadas em bolsa. Segundo Fritz:
O Ethereum pode estar sobrevalorizado em relação a pares mais eficientes, mesmo após a correção. Mas, no agregado, os fundamentos do setor nunca foram tão fortes.
Tokenização e adoção institucional avançam silenciosamente
Os executivos destacaram que, enquanto os preços recuam, a infraestrutura blockchain segue se expandindo. Mais de US$ 35 bilhões em ativos já foram tokenizados. Além disso, o volume de stablecoins atingiu uma nova máxima histórica, com Tether (USDT) e USDC registrando recordes de circulação e transações.
Um dos sinais de resiliência citados foi o investimento do endowment da Universidade de Harvard, que aumentou sua posição em Bitcoin. Para a 21Shares, o movimento é simbólico, pois demonstra que instituições de elite enxergam o Bitcoin como uma reserva de valor legítima, comparável ao ouro.
Perspectiva: volatilidade até 2026, mas fundamentos intactos
A 21Shares projeta que a volatilidade persistirá até o fim de 2025, com uma recuperação gradual a partir de 2026.
A incerteza em torno das taxas de juros dos EUA — com probabilidade de corte em dezembro caindo de 90% para 50% — mantém a liquidez global sob pressão. Portanto, também prolonga a correção.
Mesmo assim, os executivos enfatizaram que os fundamentos do setor permanecem inabaláveis: maior adoção institucional, tokenização em expansão e ganhos de eficiência tecnológica. Conclui Ndinga:
Nada mudou estruturalmente. Os fundamentos estão mais fortes do que nunca. O mercado precisa de tempo para se ajustar.
Disclaimer: Coinspeaker está comprometido em fornecer reportagens imparciais e transparentes. Este artigo tem como objetivo fornecer informações precisas e oportunas. Mas não deve ser considerado como conselho financeiro ou de investimento. Como as condições do mercado podem mudar rapidamente, recomendamos que você verifique as informações por conta própria. E consulte um profissional antes de tomar qualquer decisão com base neste conteúdo.
Leonardo Cavalcanti é jornalista especializado em criptomoedas, blockchain e finanças digitais. Além de tocar projetos próprios como o podcast BlockHistory. Também trabalha em desenvolvimento de negócios no ecossistema cripto como parceiro comercial Azify, com foco em parcerias estratégicas, tokenização e soluções de infraestrutura financeira.
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