James Howells encerrou oficialmente sua busca de 12 anos por um disco rígido contendo 8.000 BTC, avaliados em cerca de US$ 950 milhões.
A justiça britânica rejeitou seu pedido em janeiro deste ano.
A história agora será tema de uma série documental, transformando em ativo emocional e cultural o que foi um erro irreversível.
James Howells, engenheiro de TI galês que se tornou sinônimo de uma das mais tristemente célebres histórias sobre o mercado de Bitcoin, anunciou este mês o fim de sua batalha de 12 anos para recuperar um disco rígido descartado em 2013 contendo os 8.000 BTC que minerou nos primeiros anos da rede.
Hoje o montante é avaliado em cerca de US$ 950 milhões. A decisão final foi reforçada por uma sentença judicial em janeiro de 2025, que rejeitou seu pedido de escavar o aterro sanitarizado de Newport, na região de Docksway. A base foi a Waste Law de 1974, segundo a qual o disco agora pertence legalmente ao município e qualquer escavação implicaria risco ambiental inaceitável.
Como o pesadelo começou
A história de Howells começa em 2009, quando ele minerou entre 400 e 800 Bitcoins por noite em seu Dell XPS 15. Em 2013, durante uma limpeza em seu escritório, sua então parceira descartou um disco rígido que ele usava para armazenar sua carteira digital, incluindo a chave privada necessária para acessar os fundos em BTC.
Na época, a carteira já valia bastante — aproximadamente £4 milhões. No entanto, muitas das melhores altcoins nem existiam ainda. Ou seja, o mercado cripto ainda engatinhava. Com o tempo, a valorização massiva transformou o erro em um prejuízo astronômico. Hoje, o montante ultrapassaria US$ 950 milhões.
Seguiu-se então uma saga judicial. Howells planejou diversos métodos para recuperar o disco, incluindo o uso de drones, robôs de escavação e inteligência artificial (IA) para identificar e extrair o disco do aterro, que é composto por milhares de toneladas de lixo compactado.
Em 2021, ele chegou a levantar entre £5 e £10 milhões em capital privado e ofereceu 25% dos Bitcoins recuperados à cidade de Newport, na tentativa de viabilizar o projeto.
Mas o conselho municipal se opôs consistentemente, recusando o acesso ao local por considerar a operação ambientalmente arriscada e logisticamente inviável.
O começo do fim
A culminação legal veio em janeiro de 2025, quando o juiz Andrew Keyser KC, da Corte de Cardiff, declarou que o pedido de Howells ‘não tinha perspectivas realistas’ de sucesso.
O juiz destacou que, conforme a legislação britânica, o disco rígido descartado pertencia ao município sob o Control of Pollution Act de 1974. Também alegou que os esforços para recuperar um objeto potencialmente danificado e enterrado sob dezenas de milhares de toneladas de resíduos eram inviáveis. Assim, não haveria obrigação de permitir a escavação nem um ressarcimento monetário.
Apesar da derrota definitiva, Howells anunciou que, apesar da decisão judicial, não iria desistir. Ele ainda considerou recorrer a alternativas extremas, como comprar o terreno onde está o aterro. Também elaborou diversas tentativas de buscar o disco por conta própria.
Encerramento das buscas e fim do BTC de Howells
Contudo, a história teve um fim — infelizmente triste para o britânico. Após o arquivamento do caso na justiça, Howells anunciou que encerrará sua busca. Ele afirmou que já ‘não dormirá mais próximo daqueles caminhões de lixo’ e destacou que sua jornada, embora infrutífera financeiramente, tinha valor simbólico.
A experiência serviu como um alerta global sobre os riscos de autossoberania nos ativos digitais. Sua história é frequentemente comparada à de Stefan Thomas, outro caso popular de perda de Bitcoin por esquecimento de senha ou dispositivo. Ambos servem como lembrete de que a posse da chave privada é permanente e irreversível.
Embora a reivindicação tenha sido encerrada, a saga de Howells gerou enorme repercussão cultural. Com sua história em foco, o direito de sua história foi comprado por uma produtora dos EUA (LEBUL), que desenvolverá uma série documental. Com o nome de ‘The Buried Bitcoin: The Real‑Life Treasure Hunt of James Howells’, ela contemplará podcasts e conteúdo digital sobre sua jornada.
Vale lembrar que o britânico custodiava e minerava BTC em uma época de menos conhecimento sobre a tecnologia. Atualmente, há diversas formas de realizar a custódia de BTC, e nem sempre é necessário vincular os ativos a um hard drive.
Precedentes legais
A história de Howells também reacendeu debates regulatórios e técnicos sobre a natureza dos criptoativos como propriedade. A corte britânica reconheceu que o Bitcoin é legalmente uma propriedade, ainda que intangível e separado do disco físico. Mas negou qualquer direito de recuperação da chave por ela não ser um bem físico identificável.
Para a comunidade cripto, a desistência formal marca o fim de uma era de esperança. Nas redes, muitos usuários expressam pesar: ‘isso será uma grande série de TV um dia’, comentou um usuário do X.
Para ressaltar o tamanho da perda, há quem preveja que os Bitcoins de Howells valerão mais de US$ 8 bilhões em 2030. E especialistas no assunto reforçam que nem mesmo um enxame de programadores pode reverter tamanha negligência.
Hoje, James Howells se envolve em novos projetos, inclusive explorando a criação de tokens e NFTs baseados na lenda da sua fortuna perdida. Portanto, passou a transformar a história em um ativo cultural.
Em outubro de 2024, ele afirmou que, se não puder recuperar os Bitcoins, irá monetizar o mito. Ou seja, encontrou uma maneira poética de transformar sua tragédia financeira em herança moral e econômica.
Disclaimer: Coinspeaker está comprometido em fornecer reportagens imparciais e transparentes. Este artigo tem como objetivo fornecer informações precisas e oportunas. Mas não deve ser considerado como conselho financeiro ou de investimento. Como as condições do mercado podem mudar rapidamente, recomendamos que você verifique as informações por conta própria. E consulte um profissional antes de tomar qualquer decisão com base neste conteúdo.
Marta Barbosa Stephens é escritora e jornalista formada pela Universidade Católica de Pernambuco, com mestrado na PUC São Paulo e pós-graduação em edição na Universidade de Barcelona.
Trabalhou em diversas redações de jornais e revistas no Brasil. Foi repórter de economia no Jornal da Tarde, do grupo O Estado de São Paulo e editora-adjunta de finanças pessoais na revista IstoÉ Dinheiro. Atuou no mercado de edição de livros de finanças em São Paulo e foi, por seis anos, redatora-chefe da revista Prazeres da Mesa (https://www.prazeresdamesa.com.br/), antes de se mudar para Inglaterra.
No Reino Unido, foi editora do jornal Notícias em Português, voltado à comunidade lusófona na Inglaterra.
Escreve e edita sobre o mercado de criptomoedas e tecnologia blockchain desde 2022.
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