Supply ilíquido de Bitcoin supera 14 milhões de BTC, com apenas cerca de 5,4 milhões disponíveis para negociação.
Glassnode aponta aumento de 470 mil BTC em carteiras ilíquidas apenas em 2025, reforçando um cenário de choque de oferta.
O halving de 2024 reduziu a emissão diária, enquanto ETFs spot e investidores institucionais vêm ampliando a demanda.
Oferta restrita amplia impacto de fluxos compradores, mas choques externos ainda podem devolver liquidez ao mercado.
O supply ilíquido de Bitcoin atingiu um novo recorde em 2025, ultrapassando a marca de 14 milhões de BTC, segundo dados da Glassnode. Na prática, isso significa que mais de dois terços de todo o estoque existente está em carteiras com histórico de pouca ou nenhuma movimentação, comportamento típico de investidores de longo prazo.
Com apenas cerca de 5,4 milhões de BTC classificados como líquidos, o mercado conta com uma oferta cada vez mais restrita para atender à demanda, cenário que contribui para a pressão de alta nos preços em um momento de forte entrada de capital institucional e redução de emissão após o halving.
(Fonte: Glassnode)
Liquidez do BTC como métrica
A Glassnode classifica entidades on-chain em três grupos de liquidez. São elas: altamente líquidas, líquidas e ilíquidas. A categoria ilíquida é atribuída a endereços que retêm a maior parte dos BTC recebidos e raramente gastam. Desse modo, formam um estoque resistente a variações de curto prazo.
A métrica Illiquid Supply Shock Ratio, que compara a oferta ilíquida com a soma da líquida e altamente líquida, indica que o mercado atravessa uma das maiores pressões de escassez da história.
Em ciclos anteriores, aumentos nesse indicador estiveram associados a fases de alta mais acentuada, refletindo a saída de BTC de circulação ativa. Entre o início de 2025 e o fim de junho, o supply ilíquido aumentou cerca de 470 mil BTC. Portanto, os investidores estão travando posições e reduzindo a rotação de moedas.
Esse movimento cria um descompasso entre uma base de compradores em expansão e a quantidade disponível para negociação, um típico choque de oferta. O contexto macro reforça essa dinâmica: a emissão diária de BTC caiu com o halving de 2024, e a demanda é fortalecida por instrumentos que simplificam a exposição de investidores tradicionais, como ETFs spot.
Moedas antigas importam
Além disso, a chamada oferta antiga — moedas que não se movem há anos — passou a ter peso maior que a emissão na definição da liquidez de mercado, algo inédito em termos históricos. A utilização desta métrica se aplica não apenas ao BTC, mas também às melhores criptomoedas do mercado.
Esse aperto de oferta ajudou a sustentar a valorização recente, com o BTC atingindo novas máximas acima de US$ 120 mil em julho. Embora a relação entre supply ilíquido e preço não seja imediata, o padrão observado é que menos liquidez ofertada por holders com convicção amplia o impacto de fluxos de compra.
Grandes carteiras seguem reforçando o saldo ilíquido, comportamento que historicamente antecede tendências prolongadas. Notícias recentes mostraram a conquista dos 14 milhões de BTC como símbolo do apetite por hold, destacando também o maior incremento mensal do ciclo atual.
No entanto, supply ilíquido não é sinônimo de oferta permanentemente indisponível e não garante alta linear. Eventos macro, mudanças regulatórias ou movimentos coordenados de realização de lucro podem devolver parte dessas moedas ao mercado.
Além disso, nem todo BTC fora das exchanges está em autocustódia de longo prazo. Afinal, movimentações podem refletir reorganizações de custodiantes, operações OTC ou estratégias de derivativos. Outra consequência de um mercado mais ilíquido é a maior sensibilidade a ordens pontuais e notícias, potencializando oscilações quando a liquidez é baixa.
BTC tem liquidações em cascata
Isso se soma ao risco de liquidações em cascata no mercado de derivativos quando há alavancagem elevada. Do ponto de vista estratégico, o aumento contínuo do supply ilíquido reforça a tese de escassez programada do Bitcoin. Nela, o ritmo de circulação depende cada vez mais do comportamento dos detentores antigos. Especialmente, em um cenário com menor emissão e maior participação de investidores institucionais.
Para o investidor, a tendência de alta nessa métrica é positiva para o longo prazo, pois indica que mais participantes estão mantendo suas posições mesmo diante de volatilidade. Ao mesmo tempo, quedas ou estabilizações na oferta ilíquida podem sinalizar redistribuição. Portanto, exigem mais atenção.
Embora parte da narrativa em redes sociais destaque que ‘ninguém está vendendo’, a interpretação correta é que há uma redução estrutural na rotação de moedas, o que limita a oferta disponível e pode favorecer novos ralis caso a demanda continue crescendo.
No atual ciclo, a fotografia é de um Bitcoin mais escasso no free float, com um perfil de investidor mais paciente e um sistema de incentivos que aperta cada vez mais a oferta. Enquanto o fluxo comprador se mantiver, o supply ilíquido atua como uma barreira invisível que facilita a escalada de preços. Desse modo, torna a disputa por cada BTC disponível mais intensa a cada mês.
Separando a análise da narrativa
Por isso, mais do que nunca, especialistas recomendam separar narrativas de fatos. A participação dos holders aumentou e a rotatividade do estoque caiu, reduzindo a liquidez disponível.
Isso não impede correções, mas melhora o balanço de risco para quem pensa em meses e anos, especialmente em um contexto de demanda institucional ainda robusta e de redução de novos BTC entrando no mercado. Em mercados como o atual, essas assimetrias tendem a recompensar paciência e disciplina. Também elevam o custo de oportunidade de ficar de fora quando a corrida reaquece.
No agregado, a fotografia de 2025 mostra um Bitcoin mais escasso do que nunca no free float, um investidor médio mais propenso ao hold e um sistema de incentivos que empurra o ativo para dinâmicas de oferta cada vez mais rígidas. Enquanto os fluxos de compra se mantiverem, o supply ilíquido age como uma barreira invisível que empurra o preço para cima com mais facilidade do que em ciclos passados.
Se e quando essa barreira ceder — por realização de lucros dos detentores antigos ou choques externos — a volatilidade deve reaparecer com força. Até lá, dados on-chain como os da Glassnode seguem oferecendo uma direção clara e sólida. Quando o estoque disponível some, cada nova unidade comprada precisa disputar espaço num mercado cada vez mais apertado.
Disclaimer: Coinspeaker está comprometido em fornecer reportagens imparciais e transparentes. Este artigo tem como objetivo fornecer informações precisas e oportunas. Mas não deve ser considerado como conselho financeiro ou de investimento. Como as condições do mercado podem mudar rapidamente, recomendamos que você verifique as informações por conta própria. E consulte um profissional antes de tomar qualquer decisão com base neste conteúdo.
Marta Barbosa Stephens é escritora e jornalista formada pela Universidade Católica de Pernambuco, com mestrado na PUC São Paulo e pós-graduação em edição na Universidade de Barcelona.
Trabalhou em diversas redações de jornais e revistas no Brasil. Foi repórter de economia no Jornal da Tarde, do grupo O Estado de São Paulo e editora-adjunta de finanças pessoais na revista IstoÉ Dinheiro. Atuou no mercado de edição de livros de finanças em São Paulo e foi, por seis anos, redatora-chefe da revista Prazeres da Mesa (https://www.prazeresdamesa.com.br/), antes de se mudar para Inglaterra.
No Reino Unido, foi editora do jornal Notícias em Português, voltado à comunidade lusófona na Inglaterra.
Escreve e edita sobre o mercado de criptomoedas e tecnologia blockchain desde 2022.
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