Ex-CEO da FTX US anuncia nova empresa cripto

A operação em Bermuda permite à plataforma operar sob regime regulatório mais leve nas fases iniciais.

Leonardo Cavalcanti By Leonardo Cavalcanti Flavio Aguilar Edited by Flavio Aguilar Atualizado em 5 mins read
Ex-CEO da FTX US anuncia nova empresa cripto

Resumo da notícia

  • Brett Harrison, que em 2022 deixou a presidência da FTX US após o colapso da empresa, anunciou uma plataforma de perpétuos.
  • A plataforma recebeu a aprovação da Bermuda Monetary Authority para operar como uma entidade regulada fora dos EUA.
  • O ambiente regulatório e geopolítico também favorece esse movimento.

Brett Harrison, que em 2022 deixou a presidência da FTX US após o colapso da empresa, dá agora um passo audacioso de retorno ao mercado financeiro ao fundar a startup Architect Financial Technologies, sediada em Chicago.

A empresa terá o objetivo de oferecer uma nova plataforma de ‘perps’ (contratos perpétuos) focada em ações, câmbio, juros, commodities e outros ativos tradicionais. A ideia é que a plataforma funcione 24/7 e aceite tanto moedas fiduciárias como stablecoins como margem.

A plataforma, que recebeu aprovação da Bermuda Monetary Authority para operar como entidade regulada fora dos EUA, será conhecida como ‘AX’. De acordo com Harrison:

É o momento perfeito para levar esse tipo de inovação aos mercados tradicionais.

Ex-FTX US aposta em contratos perpétuos

O modelo de negócio espelha o que vem revolucionando o mercado, com as melhores criptomoedas prevalecendo.

Contratos perpétuos que não têm vencimento permitem alavancagem e funcionam com mecanismo de funding rate para equilibrar longos e curtos. Mas ainda são aplicados a mercados que até agora dependem de liquidações tradicionais, horários fixos e infraestrutura bancária.

Segundo Harrison:

Estamos trazendo o que fez o crescimento explosivo das perps no cripto para ações, FX, juros e commodities.

Para o ecossistema cripto e TradFi, a iniciativa sinaliza vários pontos de convergência.

Em primeiro lugar, o fato de um executivo ligado ao colapso da FTX dirigir agora uma plataforma de derivativos para ativos tradicionais reforça a narrativa de que o know-how cripto está migrando para o mercado financeiro convencional. Se é para o melhor ou para o pior, depende do ponto de vista regulatório.

Além disso, o uso de stablecoins como margem reforça a crescente integração entre lógicas de liquidação cripto e mercados estruturados. Harrison confirmou que tanto moedas fiat quanto stablecoins serão aceitos como colateral.

O ambiente regulatório e geopolítico também favorece esse movimento. Harrison afirmou que, com a política norte-americana mais permissiva para cripto e inovação de mercado, esta é ‘uma janela de oportunidade para trazer novidade aos mercados tradicionais’.

Regulação e riscos sistêmicos

A operação em Bermuda permite à plataforma operar sob um regime regulatório mais leve nas fases iniciais. Por outro lado, a futura expansão poderá levar a estrutura para os EUA ou outros centros.

Essa tentativa de bridge entre derivativos cripto e mercados tradicionais pode ter profundas implicações em termos de liquidez, risco e governança. Por exemplo, contratos perpétuos se destacam no universo cripto pelos volumes elevados, superiores a US$ 6 trilhões mensais em 2025.

Aplicar esse modelo a ações, câmbio e commodities potencialmente eleva o risco de alavancagem. Para traders, significa acesso 24 h por dia a mercados antes restritos a horários, com possibilidade de especulação elevada. Por outro lado, para os reguladores, representa um aumento do desafio de supervisão, margens, mecanismos de falha e impacto cross-asset.

Do lado dos investidores e das plataformas, a proposta é atraente. Acesso contínuo, margem via stablecoins (que permitem liquidação mais ágil), menor dependência de horas tradicionais de mercado e interoperabilidade global.

A experiência cripto em liquidação ágil e infraestrutura digital pode reduzir a ‘fricção’ do mercado tradicional. No entanto, as feridas da FTX ainda geram desconfiança.

Quem é Brett Harrison

Harrison foi presidente da FTX US, entidade regulada que foi encerrada após a falência do grupo FTX em 2022. Alguns analistas frisam que, embora a FTX Global tenha oferecido perps com alavancagem até 100×, a FTX US não operava esse tipo de produto.

Além disso, a reputação de Harrison e a sombra da FTX podem pesar. Mesmo que a FTX US operasse separadamente, o legado do colapso e da confiança abalada no ecossistema cripto persiste. Esse histórico exigirá da Architect transparência, compliance robusto, seguro de custódia e clara segregação de ativos para ganhar credibilidade.

Em termos de cronograma, a plataforma AX pretende levantar uma Série A adicional, já tendo captado cerca de US$ 17 milhões de investidores como Coinbase Ventures, Circle Ventures e SALT Fund). Também planeja expandir de ações e FX para outros mercados emergentes, como economia-IA, metais raros, energia renovável e custos de data center.

Essa extensão para mercados de ‘novos ativos’ mostra a ambição de ir além dos produtos tradicionais. Mas também acarreta risco de complexidade e supervisão maior.

Tecnicamente, o modelo de perps utilizado no cripto inclui funding rate, liquidação contínua e outros elementos que exigem robustez de infraestrutura. Por exemplo, será necessário ter gestão de risco em tempo real e alto nível tecnológico para evitar ‘margin calls’ em cascata ou falhas sistêmicas.

A Architect promete operar 24/7, aceitar stablecoins e fiat e oferecer liquidação global, uma proposta atrativa, mas de execução delicada.

Disclaimer: Coinspeaker está comprometido em fornecer reportagens imparciais e transparentes. Este artigo tem como objetivo fornecer informações precisas e oportunas. Mas não deve ser considerado como conselho financeiro ou de investimento. Como as condições do mercado podem mudar rapidamente, recomendamos que você verifique as informações por conta própria. E consulte um profissional antes de tomar qualquer decisão com base neste conteúdo.

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Leonardo Cavalcanti

Leonardo Cavalcanti é jornalista especializado em criptomoedas, blockchain e finanças digitais. Além de tocar projetos próprios como o podcast BlockHistory. Também trabalha em desenvolvimento de negócios no ecossistema cripto como parceiro comercial Azify, com foco em parcerias estratégicas, tokenização e soluções de infraestrutura financeira.