Google e Coinbase podem deixar APIs de pagamento obsoletas

O Google anunciou a integração de stablecoins ao protocolo x402 em parceria com a Coinbase, inaugurando uma nova era de automação econômica entre sistemas, serviços e dispositivos digitais.

Marta Stephens By Marta Stephens Flavio Aguilar Edited by Flavio Aguilar Atualizado em 6 mins read
Google e Coinbase podem deixar APIs de pagamento obsoletas

Resumo da notícia

  • Google lança protocolo x402 para automatizar pagamentos entre sistemas e máquinas.
  • Parceria com a Coinbase garante liquidez, compliance e suporte a stablecoins.
  • Solução tem foco inicial em USDC e USDT, com potencial de expansão para outros ativos.
  • Potenciais usos incluem e-commerce, IoT, gaming, energia e mobilidade.

O Google anunciou uma parceria estratégica com a Coinbase para integrar pagamentos em stablecoins ao x402, seu novo protocolo voltado para automação econômica entre sistemas, máquinas e serviços digitais. A novidade diz respeito a agentes de inteligência artificial, ou agentes de IA.

O lançamento, divulgado na terça-feira (16/9), representa um marco na convergência entre a infraestrutura de grandes empresas de tecnologia e o universo das criptomoedas.

A iniciativa busca permitir que desenvolvedores e empresas criem soluções mais eficientes para pagamentos, liquidação e incentivos. No caso, a novidade seria o uso de stablecoins em ecossistemas nativos da nuvem Google Cloud.

O que está por trás da novidade da Coinbase com a Google

A lógica por trás do x402 é simples, mas poderosa: oferecer um padrão de interoperabilidade para que diferentes aplicações possam não apenas trocar informações, mas também realizar pagamentos e transferências de valor em tempo real.

A integração com a Coinbase garante que esse padrão venha acompanhado de infraestrutura cripto robusta, com suporte inicial a stablecoins listadas na exchange.

Isso coloca a Coinbase como o backbone financeiro da nova camada tecnológica criada pelo Google. Além disso, abre espaço para que bilhões de usuários potenciais tenham acesso indireto a criptoativos no cotidiano. Ou seja, permite que a rede seja a casa das melhores criptomoedas que podem estar por vir.

Por que isso importa?

Até agora, a maioria dos sistemas digitais integrava apenas dados e APIs, mas não transações financeiras automatizadas de forma nativa.

Com o x402, um software de gerenciamento de frotas poderá pagar automaticamente taxas de pedágio em stablecoins. Além disso, uma rede de dispositivos IoT poderá remunerar provedores de energia em tempo real. Por fim, marketplaces digitais poderão liquidar pagamentos globais em segundos, sem fricção cambial.

O ponto central está na eficiência. Enquanto sistemas bancários tradicionais exigem múltiplos intermediários e processos manuais, o x402 promete transações instantâneas, auditáveis e de baixo custo, usando blockchain.

Ao conectar a infraestrutura da Coinbase, o Google garante que o processo esteja protegido por camadas de compliance e custódia já consolidadas.

Google abraça a blockchain

O anúncio não é isolado. O Google Cloud já vinha se aproximando do ecossistema blockchain nos últimos anos.

Em 2022, a empresa fechou uma parceria com a Coinbase para aceitar pagamentos em criptomoedas de alguns clientes de nuvem. Em 2023, lançou o Blockchain Node Engine, permitindo que desenvolvedores hospedassem nós de Ethereum com suporte da própria infraestrutura do Google.

Agora, com o x402, a empresa avança em um território ainda mais estratégico. Afinal, transforma a blockchain em motor financeiro invisível de suas aplicações. Isso significa que, em vez de apenas aceitar pagamentos em BTC ou ETH, o Google está propondo que o fluxo de valor seja parte da lógica operacional de qualquer aplicação conectada.

Para analistas de mercado, esse é o passo mais próximo que o Google já deu rumo a uma tokenização completa da sua infraestrutura digital.

Combinado a projetos de inteligência artificial, isso pode gerar modelos de negócio onde agentes autônomos, como bots ou algoritmos de recomendação, tenham não apenas capacidade de decidir, mas também de gastar, investir e distribuir recursos.

Coinbase como pilar da integração

A escolha da Coinbase não surpreende. A exchange é hoje uma das mais regulamentadas e auditadas dos EUA, listada na Nasdaq e com histórico de parcerias institucionais. Para o Google, a prioridade era encontrar um player capaz de fornecer liquidez confiável e compliance regulatório em grande escala.

Com essa integração, desenvolvedores terão acesso direto ao Coinbase Prime e ao Coinbase Wallet SDK dentro do ambiente Google Cloud. Isso simplifica a adoção de stablecoins e de outros ativos digitais como método de pagamento, além de reduzir custos operacionais para empresas que antes precisavam contratar provedores de terceiros para oferecer a mesma funcionalidade.

Brian Armstrong, CEO da Coinbase, comemorou a novidade no X, dizendo que:

A automação econômica será o próximo capítulo da internet (…) [o x402] traz essa visão para a realidade, com segurança e escala global.

O foco inicial no uso de stablecoins é estratégico. Enquanto criptomoedas como Bitcoin e Ethereum ainda sofrem com volatilidade, stablecoins oferecem previsibilidade. E essa característica é essencial para pagamentos de rotina.

Além disso, seu uso vem crescendo exponencialmente: segundo dados da Circle, mais de US$ 1,5 trilhão em stablecoins circularam em blockchains públicas apenas em 2024.

Para o Google, é mais fácil convencer empresas a adotarem um sistema em que os pagamentos são feitos em USDC ou USDT do que diretamente em BTC.

Ao mesmo tempo, o uso de stablecoins abre espaço para experimentos mais ousados no futuro, como contratos inteligentes que automatizam não apenas pagamentos, mas também garantias, seguros e créditos.

Repercussão no mercado

O anúncio foi bem-recebido pela comunidade cripto, com muitos comparando o x402 à criação do protocolo TCP/IP para a internet.

Se a internet conectou computadores e a web conectou informações, o x402 promete conectar valor econômico de forma nativa. Analistas também destacaram que o movimento pressiona concorrentes como Amazon Web Services (AWS) e Microsoft Azure a acelerarem suas próprias iniciativas em blockchain.

Até agora, nenhuma dessas gigantes apresentou um protocolo tão diretamente voltado para a integração de pagamentos em cripto.

No mercado de ações, a notícia refletiu positivamente: as ações da Coinbase subiram 7% no pregão do anúncio, enquanto analistas projetam que o Google poderá abrir uma nova frente de receitas com taxas sobre transações processadas pelo x402.

Desafios pela frente

Apesar do entusiasmo, o x402 enfrenta obstáculos. O primeiro é regulatório: ainda não está claro como diferentes jurisdições tratarão pagamentos entre máquinas com stablecoins. Aliás, a legislação de alguns países sequer reconhece esses ativos como meios de pagamento legítimos.

Outro desafio é a segurança. Quanto maior a automação, maior a superfície de ataque para hackers. Será necessário garantir que agentes autônomos não sejam manipulados ou usados para desviar fundos. O Google afirma que o protocolo nascerá com camadas avançadas de criptografia e auditoria. Mas especialistas alertam que testes em larga escala são essenciais.

Perspectivas de longo prazo

Se bem-sucedido, o x402 pode abrir caminho para uma nova economia digital em que pagamentos se tornam tão invisíveis quanto o tráfego de dados. O modelo favorece a emergência de uma ‘internet do valor’, onde cada interação pode carregar consigo uma transação econômica embutida.

Nesse cenário, stablecoins podem ser apenas o primeiro passo. Nada impede que, no futuro, o protocolo também suporte ativos tokenizados, desde títulos e commodities até créditos de carbono e pontos de fidelidade. O x402 poderia se tornar a camada financeira universal da infraestrutura Google Cloud.

Para a Coinbase, a parceria é uma oportunidade de ampliar seu alcance de uma maneira sem precedentes, integrando-se de forma invisível ao funcionamento de aplicativos globais. Isso consolida sua posição como fornecedor de infraestrutura cripto-institucional. Portanto, trata-se de um mercado potencialmente maior do que o varejo de criptomoedas.

Disclaimer: Coinspeaker está comprometido em fornecer reportagens imparciais e transparentes. Este artigo tem como objetivo fornecer informações precisas e oportunas. Mas não deve ser considerado como conselho financeiro ou de investimento. Como as condições do mercado podem mudar rapidamente, recomendamos que você verifique as informações por conta própria. E consulte um profissional antes de tomar qualquer decisão com base neste conteúdo.

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Marta Stephens

Marta Barbosa Stephens é escritora e jornalista formada pela Universidade Católica de Pernambuco, com mestrado na PUC São Paulo e pós-graduação em edição na Universidade de Barcelona. Trabalhou em diversas redações de jornais e revistas no Brasil. Foi repórter de economia no Jornal da Tarde, do grupo O Estado de São Paulo e editora-adjunta de finanças pessoais na revista IstoÉ Dinheiro. Atuou no mercado de edição de livros de finanças em São Paulo e foi, por seis anos, redatora-chefe da revista Prazeres da Mesa (https://www.prazeresdamesa.com.br/), antes de se mudar para Inglaterra. No Reino Unido, foi editora do jornal Notícias em Português, voltado à comunidade lusófona na Inglaterra. Escreve e edita sobre o mercado de criptomoedas e tecnologia blockchain desde 2022.