Segundo André Franco, CEO da Boost Research, os números divulgados nesta semana reforçam o cenário de liquidez global. Movimento de alívio ainda é contido pela força do dólar e pela crescente incerteza política em Washington. Para analistas, a paralisia que já dura 36 dias, afeta a confiança institucional.
O mercado global iniciou esta quinta-feira (6/11) em clima de recuperação após uma sequência de quedas e liquidações observadas no início da semana.
Os investidores reagiram positivamente à divulgação de dados econômicos mais fortes nos Estados Unidos e o movimento do dólar, que indicaram resiliência da atividade e do emprego, reacendendo o apetite por risco em bolsas asiáticas e europeias.
No entanto, o movimento de alívio ainda é contido pela força do dólar e pela crescente incerteza política em Washington, marcada pela paralisação recorde do governo americano.
Para analistas, a paralisia que já dura 36 dias, afeta a confiança institucional. Além disso, atrasa parte das agendas legislativas e regulatórias.
Aumento da liquidez global
Segundo André Franco, CEO da Boost Research, os números divulgados nesta semana reforçam o cenário de liquidez global.
Contudo, também alimentam uma leitura de que a economia norte-americana segue aquecida o bastante para adiar o ciclo de cortes de juros esperados para dezembro.
Dados do setor de serviços dos EUA mostraram a maior expansão em oito meses, enquanto o relatório de empregos privados superou as projeções do mercado. O efeito imediato foi uma queda nas apostas de que o Federal Reserve cortará juros ainda este ano.
As probabilidades caíram de 70% para cerca de 60%.
O dólar manteve-se próximo da máxima em cinco meses, e os rendimentos dos Treasuries voltaram a subir, impondo um freio ao otimismo dos ativos de risco.
O Bitcoin, após a liquidação que derrubou o preço no início da semana, voltou a se estabilizar, sendo negociado em torno de US$ 103,5 mil. Para Franco, o cenário de curto prazo é ‘neutro a levemente positivo’.
Ele observa que o fortalecimento dos dados econômicos reaquece o apetite global por ativos alternativos como as criptomoedas mais promissoras, mas o dólar forte ainda limita uma alta mais robusta.
A expectativa é de que o BTC permaneça oscilando entre US$ 100 mil e US$ 106 mil, com chance de avanço caso a moeda americana recue ou surjam novas surpresas macroeconômicas favoráveis.
Ambiente macroeconômico impacta BTC
Por outro lado, se o dólar seguir se valorizando ou o sentimento de risco arrefecer, a criptomoeda pode testar novamente suportes próximos de US$ 98 mil a US$ 100 mil.
O analista destaca que o comportamento atual da criptomoeda reflete um equilíbrio delicado.
O ativo ainda se beneficia de um cenário de liquidez ampla e busca por diversificação, mas o ambiente macroeconômico não oferece espaço para movimentos explosivos.
‘O mercado está tentando entender se os dados fortes são um sinal de saúde econômica, o que favorece o risco. Ou se significam uma postura mais dura do Fed, o que favorece o dólar e limita as cripto’, explica.
Em paralelo, a política interna dos Estados Unidos adiciona uma camada extra de incerteza.
A paralisação do governo americano, que já se estende por mais de um mês, afeta o funcionamento de agências públicas e paralisa discussões críticas sobre orçamento, dívida e estrutura de mercado.
Sistemas centralizados trazem riscos sistêmicos
Para Gracy Chen, CEO da Bitget, o episódio funciona como um lembrete de que a dependência de sistemas centralizados traz riscos sistêmicos e reforça o valor de estruturas descentralizadas, como as que sustentam o ecossistema cripto.
Em comunicado nesta quinta-feira, Chen avaliou o impasse como um ‘revés temporário que, paradoxalmente, reforça a resiliência e a relevância dos sistemas descentralizados’.
Segundo ela, a suspensão de serviços e a lentidão na tramitação de leis, incluindo aquelas voltadas à regulação de ativos digitais, evidenciam a vulnerabilidade dos mecanismos de governança tradicional.
Esse vácuo regulatório, em sua visão, pode impulsionar novas discussões bipartidárias sobre uma estrutura clara para o mercado cripto assim que o Congresso retomar as atividades normais.
Embora a executiva reconheça que o clima de incerteza política possa afetar o sentimento dos investidores no curto prazo, ela argumenta que o resultado de médio prazo tende a ser positivo para o setor.
Paralisia do governo dos EUA expõe ineficiência
A paralisia do governo, afirma Chen, expõe ‘as ineficiências dos sistemas financeiros centralizados’. Ademais, ela fortalece a percepção de que as redes blockchain oferecem continuidade, previsibilidade e segurança, mesmo diante de choques políticos.
A partir dessa ótica, o evento pode funcionar como um catalisador para reformas estruturais e para a consolidação de marcos regulatórios mais robustos e orientados à inovação.
A análise de Chen encontra eco entre observadores de mercado. A prolongada paralisação dos EUA já afeta a publicação de dados macroeconômicos e os trabalhos de agências ligadas ao Tesouro e à Comissão de Valores Mobiliários (SEC).
Portanto, é algo que aumenta a opacidade de curto prazo para decisões de investimento.
Esse hiato institucional amplia o apelo das soluções descentralizadas. Em particular, de stablecoins e protocolos de infraestrutura financeira que funcionam independentemente da máquina estatal.
Assim, o mercado cripto se vê diante de um quadro paradoxal: dados econômicos fortes trazem liquidez, mas o dólar e a incerteza política freiam o impulso. O resultado é um Bitcoin em zona de consolidação, testando níveis de suporte e resistência sem tendência definida.
O movimento lateralizado não significa estagnação — e sim uma fase de acomodação após meses de valorização intensa. O volume diário permanece elevado, sustentado por fluxos institucionais e reequilíbrio de carteiras.
Nos próximos dias, os investidores acompanharão com atenção a evolução dos rendimentos dos Treasuries e o comportamento do dólar. Uma desaceleração desses indicadores pode destravar o próximo rali de alta.
Em contrapartida, uma nova rodada de valorização da moeda americana tende a pressionar novamente o Bitcoin e os demais criptomoedas, devolvendo parte dos ganhos recentes.
Mercado ainda tenta precificar FED
Em relação à macroeconomia, a leitura de Franco é que o mercado ainda tenta precificar a real disposição do Federal Reserve em iniciar cortes de juros diante de dados tão resilientes.
O Fed tem reforçado a mensagem de ‘paciência’, buscando evitar novos ciclos inflacionários. Para o setor cripto, isso significa que a liquidez permanece.
Entretanto, o custo do dinheiro continua alto, o que retarda fluxos mais agressivos para ativos alternativos.
Na outra ponta, a visão de Chen adiciona um elemento estrutural à discussão. Ela entende que crises políticas e paradas institucionais, como o atual shutdown, acabam alimentando o argumento a favor da autonomia tecnológica e financeira, conceitos intrínsecos à criptoeconomia.
Em suas palavras, cada episódio de fragilidade governamental ‘fortalece a confiança na confiabilidade do blockchain e na eficiência dos sistemas descentralizados’.
Combinando os dois diagnósticos, o quadro atual do mercado pode ser resumido em três forças que se equilibram. Liquidez em expansão, dólar dominante e descentralização em alta como tendência de longo prazo.
O Bitcoin se mantém resiliente nesse contexto, negociando entre US$ 100 mil e US$ 106 mil, com suporte firme em torno de US$ 98 mil. Mesmo sem um gatilho imediato de valorização, o ativo preserva fundamentos sólidos.
É sustentado por fluxo institucional e pela crescente percepção de que sua natureza descentralizada o torna menos exposto a riscos políticos e regulatórios.
Disclaimer: Coinspeaker está comprometido em fornecer reportagens imparciais e transparentes. Este artigo tem como objetivo fornecer informações precisas e oportunas. Mas não deve ser considerado como conselho financeiro ou de investimento. Como as condições do mercado podem mudar rapidamente, recomendamos que você verifique as informações por conta própria. E consulte um profissional antes de tomar qualquer decisão com base neste conteúdo.
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