É raro, mas acontece bastante: minerador solo recebe US$ 340.441 em BTC

A conquista do bloco também levanta controvérsias sobre o hashrate de 2,53 PH/s, desafiando a narrativa de descentralização pura.

Marta Stephens By Marta Stephens Flavio Aguilar Edited by Flavio Aguilar Atualizado em 6 mins read
É raro, mas acontece bastante: minerador solo recebe US$ 340.441 em BTC

Resumo da notícia

  • Um minerador solo conquistou o Bloco 912632 do Bitcoin, ganhando US$ 340.441 na segunda-feira (1/9).
  • O retorno chegou a 3.147 BTC, com 3.125 BTC de subsídio e 0.022 BTC de taxas.
  • O feito desafia a dominância de pools, mas gera controvérsia sobre o hashrate de 2,53 PH/s do minerador.
  • O evento pode influenciar discussões sobre sustentabilidade e incentivos fiscais para mineração solo.

Em linha com o dito ‘é raro, mas acontece bastante’, um minerador solo de BTC conseguiu a façanha de fechar um bloco sozinho. Ou seja, ao validar as informações que aguardavam na mempool, e assim ajudar na construção do Bloco 912632, o minerador recebeu uma recompensa total de 3,147 BTC, equivalente a impressionantes US$ 340.441.

Para a comunidade, em um mercado em que grandes pools de mineração dominam a atividade, essa vitória individual simboliza a persistência e a sorte no universo da mineração de Bitcoin. Apesar disso, essa ‘grande sorte rara’ é mais frequente do que dizem ser.

Portanto, o bloco que o minerador solo fechou veio com uma recompensa que inclui os 3.125 BTC de subsídio de bloco, mais 0,022 BTC em taxas de transação.

É raro, mas acontece bastante: minerador solo recebe US$ 340.441 mil em BTC

(Imagem: Mempool)

Comunidade bitcoiner celebra

Para muitos membros da comunidade bitcoiner, a conquista não apenas celebra o espírito descentralizado do Bitcoin, mas também levanta debates sobre a viabilidade da mineração solo em 2025. Dentre as melhores criptomoedas que ainda usam Proof of Work (mineração como forma de validar a rede), o Bitcoin é a que mais institucionalizou a mineração.

A captura de tela do Bloco 912632 revela detalhes técnicos impressionantes. O bloco tinha um tamanho de 1,5 MB, peso de 3,82 MWU (megawight units), e saúde de 100%, indicando um processamento perfeito. O hash do bloco, iniciado com ‘00000…b63c1ae’, reflete a dificuldade atual da rede, estimada em cerca de 92 quintilhões.

Enquanto isso, a faixa de taxas (fee span) variava de 1,00 a 265 satoshis por byte virtual (sat/vB), com uma taxa mediana de aproximadamente 1 sat/vB, equivalente a US$ 0,15.

As taxas totais somaram 0,022 BTC (US$ 2.381), um valor modesto comparado ao subsídio de 3,125 BTC. O total do retorno para o minerador solo foi de 3,147 BTC.

O montante é avaliado em US$ 340.441, considerando o preço do Bitcoin em torno de US$ 108.200, conforme dados da CoinMarketCap. O minerador, identificado apenas como ‘Solo CK’, operou sem a infraestrutura de pools, um feito que desafia as probabilidades atuais.

Contexto da mineração solo no Bitcoin

A mineração solo, que já foi o padrão nos primeiros anos do Bitcoin, tornou-se uma raridade devido ao aumento exponencial da dificuldade de rede e da centralização em pools como F2Pool e AntPool.

A dificuldade atual exige um hashrate global de aproximadamente 700 exahashes por segundo (EH/s). Portanto, torna a chance de um minerador solo resolver um bloco em torno de 1 em 1,5 milhão por tentativa de 10 minutos, segundo estimativas da Blockchain.com.

No entanto, a recompensa de 3,125 BTC, ajustada após o halving de abril de 2024, continua a atrair aventureiros. Mais ainda com o preço do Bitcoin atingindo novos picos em 2025, graças à adoção institucional e à expectativa de cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed) dos EUA.

Controvérsias sobre o minerador solo

No entanto, o caso também gerou controvérsias. Parte da comunidade cripto questionou a autenticidade da história ao apontar um hashrate de 2,53 petahashes por segundo (PH/s) associado ao endereço do minerador.

Uma captura de tela do CKPool Stats revelou que esse hashrate, registrado em 6 de setembro de 2023, inclui sete workers autorizados, com uma participação máxima de 475,43 TH/s.

Isso sugere que o minerador pode ter operado com uma configuração mais robusta do que a minerador solo típico. Ou seja, levanta suspeitas de que o ‘solo miner’ poderia estar vinculado a um pool ou a uma operação coletiva disfarçada, contradizendo a narrativa de mineração individual.

Dados do CKPool Stats mostram uma probabilidade de encontrar um bloco de menos de 0,001% em um dia, subindo para 0,013% em um ano, o que reforça a baixa probabilidade de alcançar esse feito com apenas 2,53 PH/s — considerando que o hashrate global é de 700 EH/s (700.000 PH/s).

Especialistas sugerem que um hashrate tão elevado pode indicar o uso de múltiplos ASICs ou uma conexão temporária a um pool de baixa taxa, que permita recompensas individuais.

Ou seja, de duas uma. Ou o minerador Solo CK pode ter se beneficiado de uma sorte extraordinária ou de uma infraestrutura compartilhada, desafiando a pureza do feito solo.

A taxa de sucesso depende de fatores como sorte, eficiência energética e timing, com o Bloco 912632 sendo minado em apenas 8 horas antes da publicação da notícia, sugerindo uma configuração otimizada.

Desafios e oportunidades para mineradores solo

Apesar do sucesso, a mineração solo enfrenta desafios formidáveis. A dificuldade da rede, que dobra a cada quatro anos em média, exige investimentos contínuos em hardware e energia. Os custos podem superar US$ 200.000 para um setup competitivo.

Regiões como o Texas e a China, que dominam 40% do hashrate global, oferecem vantagens logísticas. Mas mineradores solo frequentemente operam com fazendas solares ou em locais com energia excedente.

A saúde de 100% do Bloco 912632 sugere que o miner Solo CK pode ter utilizado uma configuração de baixa latência. Muito possivelmente, estava conectado a um pool de baixa taxa, facilitando a mineração individual sem comprometer a recompensa.

O valor atual do Bitcoin, que subiu de US$ 95.000 em julho para US$ 108.200 em setembro, amplifica o retorno potencial. Por outro lado, com o halving de 2028 se aproximando, o subsídio cairá para 1,5625 BTC.

Perspectivas regulatórias

O feito do Bloco 912632 também atrai atenção regulatória. A Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) monitora a mineração como parte de seu escrutínio em relação a criptos. Já o Brasil, com a Lei 14.478/2022, exige relatórios de transações acima de R$ 30.000, afetando miners locais.

Há também casos de incentivos fiscais, como os oferecidos em El Salvador. Nesse país da América Central, a mineração com energia geotérmica é subsidiada. No entanto, a emissão de carbono, estimada em 36,5 megatoneladas anuais para o Bitcoin, pode levar a restrições. Por exemplo, na União Europeia, a regulação MiCA prioriza a sustentabilidade.

A longo prazo, o sucesso do minerador Solo CK pode incentivar a atividade solo, especialmente com avanços em hardware eficiente e energia renovável. Se mais miners individuais conseguirem vitórias como essa, a descentralização do hashrate pode aumentar, alinhando-se à visão original de Satoshi.

Disclaimer: Coinspeaker está comprometido em fornecer reportagens imparciais e transparentes. Este artigo tem como objetivo fornecer informações precisas e oportunas. Mas não deve ser considerado como conselho financeiro ou de investimento. Como as condições do mercado podem mudar rapidamente, recomendamos que você verifique as informações por conta própria. E consulte um profissional antes de tomar qualquer decisão com base neste conteúdo.

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Marta Stephens

Marta Barbosa Stephens é escritora e jornalista formada pela Universidade Católica de Pernambuco, com mestrado na PUC São Paulo e pós-graduação em edição na Universidade de Barcelona. Trabalhou em diversas redações de jornais e revistas no Brasil. Foi repórter de economia no Jornal da Tarde, do grupo O Estado de São Paulo e editora-adjunta de finanças pessoais na revista IstoÉ Dinheiro. Atuou no mercado de edição de livros de finanças em São Paulo e foi, por seis anos, redatora-chefe da revista Prazeres da Mesa (https://www.prazeresdamesa.com.br/), antes de se mudar para Inglaterra. No Reino Unido, foi editora do jornal Notícias em Português, voltado à comunidade lusófona na Inglaterra. Escreve e edita sobre o mercado de criptomoedas e tecnologia blockchain desde 2022.