Empresas já somam US$ 107,5 bilhões em BTC em caixa

Movimento reforça a tendência de institucionalização do Bitcoin como ativo de tesouraria.

Marta Stephens By Marta Stephens Flavio Aguilar Edited by Flavio Aguilar Atualizado em 6 mins read
Empresas já somam US$ 107,5 bilhões em BTC em caixa

Resumo da notícia

  • Holdings corporativas de Bitcoin chegam a 989 mil BTC, quase 5% da oferta total.
  • Valor é estimado em US$ 107,5 bilhões ao preço atual de US$ 108.748 por BTC.
  • Strategy lidera com mais de 632 mil BTC em tesouraria.
  • Adoção corporativa acelera, mas especialistas alertam para riscos de centralização e volatilidade.

Um novo marco foi alcançado no mercado cripto. As empresas públicas ao redor do mundo agora detêm 989.926 BTC, ou cerca de US$ 107,5 bilhões na moeda em caixa. É um volume nunca antes visto, conforme dados atualizados do panorama global de holdings corporativas que a Bitwise divulgou em relatório.

O salto reflete uma tendência emergente: a tesouraria corporativa com BTC. Há meses, muitas empresas vêm seguindo o que a Strategy faz desde 2020, que é transformar o BTC em ativo estratégico de suas tesourarias.

No Brasil, existe a Méliuz (CASH3), que é a empresa com mais BTC em caixa na América Latina. A empresa de cashback detém 596 BTC desde junho. Aliás, já ultrapassou o Mercado Livre nesse quesito, que compra a moeda desde 2021.

Crescimento explosivo de Bitcoin corporativo

O gráfico destaca o crescimento explosivo dos últimos trimestres, quase como uma corrida ao ouro. Mas o ouro é digital, e a corrida é corporativa e mais elaborada. No Q4 de 2023, as entidades corporativas mantinham cerca de 262.635 BTC. Esse número mais que triplicou, atingindo quase 1 milhão.

Empresas já somam US$ 107,5 bilhões em Bitcoin no caixa

(Fonte: Bitwise)

Os volumes cresceram exponencialmente. Por exemplo, em Q1 2024, as empresas detinham 279.639 BTC. Entre Q1 e Q2 de 2025, houve um aumento de mais de 180 mil BTC, número que ecoa uma adoção institucional acelerada.

Investidores institucionais, como fundos de pensão e gestoras, ainda representam uma parcela minoritária do mercado criptográfico. Mas esse movimento corporativo sinaliza que os ativos digitais vêm ganhando terreno como reserva de valor e diversificação.

Além disso, vale lembrar que agora existem empresas que também testam tesourarias com outras das melhores criptomoedas do mercado. A SharpLink, por exemplo, tornou-se recentemente a maior detentora pública de Ethereum.

Quem lidera a corrida?

Na liderança, está a Strategy, empresa antes conhecida como MicroStrategy, que detém aproximadamente 632.457 BTC. Ou seja, responde por quase dois terços de toda a participação corporativa.

Na sequência, instituições como MARA Holdings (50.639 BTC), XXI Capital, Trump Media e Riot Platforms compõem a lista dos principais detentores. Um total de 35 empresas de capital aberto já detém pelo menos 1.000 BTC. Apesar de não ser tanto quanto a Strategy, elas vêm ajudando a gerar um significativo aumento na demanda pela moeda em poucos meses.

Essa configuração criou uma concentração inédita de BTC em mãos corporativas. Como aponta uma análise da Ainvest, esse nível de acúmulo reajusta a dinâmica de mercado. Portanto, puxa a liquidez do varejo e reduz a oferta em exchanges, o que favorece a valorização do Bitcoin.

Indicadores on-chain corroboram essa visão. Afinal, 68% do BTC circulante está com holders de longo prazo. Por outro lado, cerca de 2,05 milhões de BTC permanecem em exchanges. Esse é o nível mais baixo em sete anos. Portanto, mostra que o ativo está passando de layer especulativa para reserva institucional.

Implicações para o preço e para o mercado

Com cerca de 4,66% da oferta total de BTC em mãos de empresas de capital aberto, avaliadas entre US$ 110 bilhões e US$ 111 bilhões, a percepção de escassez também cresce. E essa preponderância empurra o BTC a máximas históricas, fazendo o preço ultrapassar US$ 124 mil em agosto de 2025.

Essa pressão compradora corporativa está alinhada a fatores macro como inflação global, expansão de liquidez pelos bancos centrais e busca por proteção financeira. Por isso, o BTC torna-se um hedge contra diluição monetária e incertezas econômicas, uma alternativa ao tradicional cash institucional.

Para investidores individuais e analistas, esse movimento sinaliza que muitas corporações já consideram o Bitcoin uma extensão natural dos ativos de tesouraria — e não apenas uma forma de especulação.

Riscos e críticas: visão cética sobre Bitcoin treasury companies

Nem tudo é brilho no novo modelo de gestão corporativa. O Financial Times alerta sobre o risco de bolhas em empresas que adotam BTC como reserva de valor, vinculando seus fundamentos ao preço contínuo da criptomoeda.

Essas empresas precisam de valorização para sustentar dívidas, emitir ações ou converter dívida conversível. Muitos analistas acreditam que esse é um cenário frágil, e há o risco de o mercado virar.

A estrutura de financiamento baseada em emissões contínuas de ações e dívida cria vulnerabilidades. Por exemplo, caso o BTC caia, os títulos podem se tornar ‘out-of-the-money’ e pressionar a liquidez da empresa.

Críticos também alertam para um risco de centralização. Quando poucas empresas controlam grandes fatias da oferta, perde-se uma camada fundamental ao ethos do Bitcoin: a descentralização. Se muitas corporações decidirem vender no mesmo momento, o mercado pode sofrer quedas amplificadas.

Cenário regulatório e institucionalização

A adoção crescente também catalisa o reconhecimento institucional. Com empresas colocando Bitcoin em balanço e alguns países planejando reservas estratégicas de BTC, como os EUA, o ativo se consolida como componente legítimo da política fiscal e monetária.

Também atrai novos produtos financeiros, como ETFs, derivativos institucionalizados e debêntures vinculadas ao BTC.

O debate está sendo internalizado nos conselhos administrativos dessas empresas, enquanto os investidores sofisticados demandam transparência, auditoria e controle de risco operacionais.

Adoção institucional veio para ficar

O gráfico de adoção corporativa mostra que o mundo está entrando no que pode ser chamado de era das tesourarias em Bitcoin. Empresas públicas já controlam quase 1 milhão de BTC, ou cerca de 5% da oferta total, e isso está comprimindo a liquidez em exchanges, além de moldar o preço de maneira estrutural.

Ao mesmo tempo, o fenômeno carrega riscos: concentração, alavancagem corporativa e vulnerabilidade a choques de preço. O modelo de ‘Bitcoin as treasury reserve’ é inovador, mas sua sustentabilidade depende da saúde dos mercados, estabilidade regulatória e disciplina financeira.

Para o investidor, observador ou parte interessada no futuro das finanças, o fenômeno simboliza a transição do Bitcoin: de ativo de nicho para protagonista da estratégia corporativa global.

Disclaimer: Coinspeaker está comprometido em fornecer reportagens imparciais e transparentes. Este artigo tem como objetivo fornecer informações precisas e oportunas. Mas não deve ser considerado como conselho financeiro ou de investimento. Como as condições do mercado podem mudar rapidamente, recomendamos que você verifique as informações por conta própria. E consulte um profissional antes de tomar qualquer decisão com base neste conteúdo.

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Marta Stephens

Marta Barbosa Stephens é escritora e jornalista formada pela Universidade Católica de Pernambuco, com mestrado na PUC São Paulo e pós-graduação em edição na Universidade de Barcelona. Trabalhou em diversas redações de jornais e revistas no Brasil. Foi repórter de economia no Jornal da Tarde, do grupo O Estado de São Paulo e editora-adjunta de finanças pessoais na revista IstoÉ Dinheiro. Atuou no mercado de edição de livros de finanças em São Paulo e foi, por seis anos, redatora-chefe da revista Prazeres da Mesa (https://www.prazeresdamesa.com.br/), antes de se mudar para Inglaterra. No Reino Unido, foi editora do jornal Notícias em Português, voltado à comunidade lusófona na Inglaterra. Escreve e edita sobre o mercado de criptomoedas e tecnologia blockchain desde 2022.