Metaplanet quer comprar 210.000 BTC até 2027

Empresa japonesa protocolou registro para captar até ¥555 bilhões (US$ 3,6 bilhões) com foco em aquisição agressiva de BTC.

Flavio Aguilar By Flavio Aguilar Marta Stephens Edited by Marta Stephens Atualizado em 6 mins read
Metaplanet quer comprar 210.000 BTC até 2027

Resumo da notícia

  • A Metaplanet protocolou registro para captar até ¥555 bilhões (US$ 3,6 bilhões) com emissão de ações preferenciais perpétuas voltadas à compra de Bitcoin.
  • O plano visa adquirir até 210.000 BTC até 2027, o que tornaria a empresa uma das maiores detentoras corporativas do mundo.
  • A emissão ainda precisa ser aprovada por acionistas e autoridades regulatórias, e pode servir de modelo para outras empresas no Japão e globalmente.
  • No Brasil, a Méliuz (CASH3) também aloca Bitcoin como parte de sua estratégia de reserva de valor de longo prazo.

A Metaplanet Inc., empresa japonesa listada na Bolsa de Tóquio (TSE: 3350), deu um mais um passo significativo na direção de se tornar uma das maiores detentoras institucionais de BTC do mundo.

Nesta sexta-feira (01/08), a companhia protocolou um pedido de registro de prateleira para emissão de ações preferenciais perpétuas das classes A e B, com a intenção de captar até ¥555 bilhões. Ou equivalente a cerca de US$ 3,6 bilhões.

Segundo documentos oficiais, os recursos visam financiar a aquisição progressiva de até 210.000 BTC até o ano de 2027.

O anúncio foi feito por meio de um comunicado endereçado ao mercado e aos acionistas, informando que o plano será discutido em uma Assembleia Geral Extraordinária marcada para 1º de setembro.

O movimento, ainda em fase preparatória, é considerado uma ‘emenda parcial’ ao estatuto da empresa. Ou seja, a emissão das ações preferenciais ainda não está confirmada, e depende da aprovação dos acionistas e das autoridades regulatórias japonesas.

A narrativa de empresas com tesouraria em BTC, ou em inglês Bitcoin Treasury Companies, intensifica-se com grandes empresas anunciando aquisição da criptomoeda. Após facilitações regulatórias, como a possibilidade de reportar lucros não realizados com BTC pela FASB, cada vez mais empresas adotam a estratégia.

Metaplanet escala tesouraria em BTC

No entanto, o simbolismo da decisão é claro: a Metaplanet quer escalar sua exposição ao Bitcoin de forma agressiva e estratégica, inspirando-se em cases como o da norte-americana MicroStrategy.

A empresa já vinha comprando BTC desde abril deste ano com recursos próprios e agora projeta acelerar o processo com capital adicional obtido via mercado. Com o plano atual, a Metaplanet sinaliza que não apenas vê o Bitcoin como ativo estratégico, mas como núcleo de sua tese corporativa.

A proposta envolve a emissão de ações preferenciais perpétuas, um tipo de papel que, embora ofereça dividendos, não concede direito a voto e não possui data de vencimento. Essa estrutura permite à companhia captar grandes volumes sem diluir o controle acionário da administração atual.

O formato, comum em bancos e holdings internacionais, está sendo adaptado pela Metaplanet para uma finalidade inovadora: a compra de criptomoedas promissoras.

Segundo o comunicado assinado pelo diretor de relações com investidores, Miki Nakagawa, e o CEO Simon Gerovich, o registro de prateleira visa ‘aumentar a flexibilidade da empresa para futuras opções de financiamento’ e ‘assegurar a transparência junto aos investidores’.

O texto também deixa claro que ‘nenhuma decisão foi tomada até o momento’ sobre a efetiva emissão dos papéis, e que ‘discussões adicionais’ com reguladores, bolsas e investidores institucionais ainda serão conduzidas.

Meta impressionante de 210 mil BTC

Ainda assim, a meta declarada de adquirir 210.000 BTC até 2027 impressiona o mercado. Aos preços atuais de mercado (em torno de US$ 62.000 por unidade), a estratégia demandaria algo em torno de US$ 13 bilhões.

Portanto, mais do que três vezes o valor que se pretende captar agora. Isso indica que a Metaplanet pode utilizar alavancagem, compras programadas, derivativos ou mesmo novas rodadas de emissão ao longo do tempo.

Desse modo, caso atinja esse objetivo, a Metaplanet se tornaria a maior detentora de Bitcoin entre empresas públicas em todo o mundo. A atual líder, MicroStrategy, detém aproximadamente 226.331 BTC adquiridos ao longo de mais de cinco anos.

A Metaplanet, por sua vez, busca atingir um patamar semelhante em menos da metade desse tempo — e com uma abordagem ainda mais direta ao mercado de capitais.

Além da Metaplanet, outras empresas ao redor do mundo têm aderido à estratégia de incorporar Bitcoin em seus balanços. No Brasil, a Méliuz (CASH3), empresa de cashback e serviços financeiros, também já declarou alocações em BTC.

Em suas demonstrações contábeis mais recentes, a companhia destacou que a criptomoeda faz parte de sua reserva de valor de longo prazo, reforçando a tese de que mesmo empresas do setor varejista e digital estão reconhecendo o papel estratégico dos criptoativos em suas estruturas patrimoniais.

Riscos e desafios

Ainda assim, a emissão de ações preferenciais perpétuas exige revisão técnica rigorosa por parte das bolsas japonesas, e a empresa admite que tais análises ainda não foram iniciadas. Existe, portanto, o risco de que os papéis não sejam aprovados.

O movimento também acontece em um momento de ‘hype’ dos institucional por ativos digitais. Críticos defendem que esse ‘hype’ pode levar a cenários de ruína para a maioria das empresas durante um período de baixa da criptomoeda.

O mercado aguarda com curiosidade o comportamento destas empresas diante de um cenário macroeconômico marcado por incertezas geopolíticas, inflação persistente, juros reais negativos e crescente desconfiança em moedas fiduciárias.

O Bitcoin, com seu fornecimento limitado a 21 milhões de unidades e política monetária imutável, tem sido cada vez mais visto como uma alternativa de reserva de valor global, ainda mais no contexto de investidores institucionais. Contudo, sua volatilidade pode ser prejudicial para uma estratégia convencional de tesouraria, que consiste em preservar valor de uma empresa.

Para a Metaplanet, esse contexto é uma oportunidade. A empresa pretende se posicionar como ‘precursora asiática’ de uma tendência que já ganhou corpo no Ocidente e agora começa a ecoar em outras regiões.

Em entrevistas anteriores, executivos da companhia já haviam sugerido que o objetivo é ‘converter caixa ocioso em valor resiliente’, mirando o longo prazo. A nova emissão sinaliza que esse plano ganhou fôlego e escala.

Outras ‘Metaplanets’ poderão surgir

A emissão de ações preferenciais com foco explícito em criptoativos também pode inaugurar uma era de estruturas financeiras híbridas no Japão.

Analistas apontam que o modelo adotado pela Metaplanet pode ser replicado por outras empresas que desejam se expor a ativos digitais sem comprometer sua estrutura de capital ou governança. É uma forma de capturar valor em uma classe de ativos emergente sem incorrer nos riscos regulatórios de tokenização direta.

Do ponto de vista técnico, o modelo adotado é conhecido como ‘shelf registration’, ou registro de prateleira. O modelo em questão permite à empresa emitir os papéis de forma escalonada ao longo do tempo, conforme a demanda e as condições de mercado.

Isso confere agilidade à estratégia e permite que a Metaplanet ajuste sua execução conforme o comportamento do mercado de Bitcoin.

O comunicado também informa que, além da emissão, está sendo considerada a listagem dessas ações preferenciais em bolsas. Desse modo, adicionaria liquidez aos papéis e atratividade para investidores institucionais. No entanto, a empresa reconhece que essa etapa também ainda depende de consultas com as bolsas e autoridades reguladoras, e que ainda não começou nenhuma avaliação formal para tal.

Disclaimer: Coinspeaker está comprometido em fornecer reportagens imparciais e transparentes. Este artigo tem como objetivo fornecer informações precisas e oportunas. Mas não deve ser considerado como conselho financeiro ou de investimento. Como as condições do mercado podem mudar rapidamente, recomendamos que você verifique as informações por conta própria. E consulte um profissional antes de tomar qualquer decisão com base neste conteúdo.

Notícias de Bitcoin
Flavio Aguilar

Flavio Aguilar é jornalista e economista formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atua há mais de 15 anos como repórter e editor em jornais e portais de notícias no Brasil. No momento, está cursando o mestrado em estudos literários da Universidade do Porto.