A SEC está revisando o Post-Quantum Financial Infrastructure Framework (PQFI) para proteger criptomoedas de ameaças quânticas.
O documento sugere parceria com a indústria para desenvolver algoritmos pós-quânticos e mitigar riscos como a estratégia HNDL.
A iniciativa pode influenciar padrões globais, mas enfrenta críticas sobre jurisdição e custos.
Segundo divulgação da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC), a entidade está revisando uma proposta inovadora intitulada Post-Quantum Financial Infrastructure Framework (PQFI), que visa proteger as criptomoedas da computação quântica
O documento oficial foi endereçado à U.S. Crypto Assets Task Force da SEC, destacando uma iniciativa estratégica para proteger o ecossistema de ativos digitais contra as ameaças emergentes da nova tecnologia.
O plano para neutralizar ataques quânticos
Publicando na quarta-feira (3/9), o documento apresenta um plano técnico e estratégico para neutralizar os riscos de um computador quântico criptograficamente relevante (CRQC).
Segundo a proposta, a tecnologia quântica poderia comprometer a segurança de trilhões de dólares em ativos, incluindo Bitcoin (BTC), Ethereum (ETH) e outras das melhores criptomoedas do mercado.
(Imagem: SEC)
Essa revisão ocorre em um momento crítico, enquanto o mercado cripto global atinge US$ 2,7 trilhões, segundo o CoinMarketCap. Além disso, reflete a preocupação comum entre os participantes e investidores do mercado de preparar a infraestrutura financeira para a era pós-quântica.
O documento PQFI é um ‘ponto de partida’ para futuras diretrizes e regulamentações. Portanto, serve para orientar líderes seniores e formuladores de políticas da SEC.
A imagem compartilhada mostra a capa do documento, com um resumo executivo que alerta sobre o ‘risco iminente’ representado pelo avanço da computação quântica.
O texto enfatiza que o ecossistema de ativos digitais dos EUA, baseado nos padrões criptográficos atuais, enfrenta uma ameaça existencial. Afinal, um CRQC poderia quebrar a segurança fundamental que protege milhões de transações e investimentos.
A proposta destaca a estratégia ‘Harvest Now, Decrypt Later’ (HNDL), com a qual seria possível coletar dados criptografados hoje para descriptografá-los com máquinas quânticas no futuro.
Por isso, a proposta exige ‘ações preparatórias imediatas para mitigar perdas catastróficas e a erosão da confiança no mercado.’
Contexto da ameaça quântica e necessidade do PQFI
A computação quântica, que utiliza qubits para processar informações de maneiras que superam os computadores clássicos, representa um avanço revolucionário, mas também um risco significativo para a criptografia atual.
Algoritmos como o desenvolvido por Peter Shor em 1994 podem quebrar sistemas baseados em fatoração de inteiros e logaritmos discretos, os pilares da segurança de Bitcoin, Ethereum e outras criptomoedas, em minutos, se executados em um CRQC suficientemente poderoso.
Especialistas como os do National Institute of Standards and Technology (NIST) estimam que um computador quântico com essa capacidade pode surgir até 2028. Esse prazo impulsiona a urgência da proposta PQFI.
O documento alerta que, sem uma transição para criptografia pós-quântica, o sistema financeiro digital dos EUA enfrentaria riscos sistêmicos. Isso incluiria perdas de investidores e colapso da confiança.
O PQFI propõe um roteiro estruturado que inclui a avaliação de vulnerabilidades atuais, o desenvolvimento de algoritmos resistentes a quânticos e a colaboração da indústria para implementar mudanças.
A iniciativa segue os esforços da NIST, que em agosto de 2024 finalizou os primeiros padrões de criptografia pós-quântica (FIPS 203, 204 e 205), baseados em esquemas como CRYSTALS-Dilithium e SPHINCS+.
A SEC, sob a liderança da Crypto Assets Task Force, criada em janeiro de 2025 sob a administração Trump, vê o PQFI como uma oportunidade de alinhar regulamentação e inovação, especialmente após promessas de fazer dos EUA a ‘capital cripto do mundo’.
Potencial da proposta e desafios
A iniciativa pode estimular a inovação, com empresas como QANplatform e Qubit já desenvolvendo ferramentas quântico-seguras. Isso incluiria wallets e oracles.
No entanto, a implementação do PQFI enfrenta desafios técnicos significativos. A substituição de algoritmos como ECDSA, usados no Bitcoin, por esquemas pós-quânticos como ML-DSA exige atualizações em toda a infraestrutura blockchain. Esse é um processo complexo que pode levar até 10 anos, segundo a NIST.
A estratégia HNDL adiciona urgência, pois dados criptografados hoje, como chaves privadas, podem ser alvo de adversários estatais ou hackers.
A HIVE Digital Technologies, com seu projeto Yguazú no Paraguai (18 EH/s), já explora energia renovável para mineração. Mas pode precisar integrar criptografia quântico-segura em seus rigs, aumentando custos operacionais.
Do ponto de vista regulatório, a SEC deve coordenar com outras agências, como a CFTC, que regula derivativos cripto, e a NSA, que monitora a segurança nacional. Além disso, a Lei 14.478/2022 no Brasil, exigindo relatórios de transações acima de R$ 30.000, e o MiCA na UE, focado em sustentabilidade, podem influenciar padrões globais e vice-e-versa.
Disclaimer: Coinspeaker está comprometido em fornecer reportagens imparciais e transparentes. Este artigo tem como objetivo fornecer informações precisas e oportunas. Mas não deve ser considerado como conselho financeiro ou de investimento. Como as condições do mercado podem mudar rapidamente, recomendamos que você verifique as informações por conta própria. E consulte um profissional antes de tomar qualquer decisão com base neste conteúdo.
Marta Barbosa Stephens é escritora e jornalista formada pela Universidade Católica de Pernambuco, com mestrado na PUC São Paulo e pós-graduação em edição na Universidade de Barcelona.
Trabalhou em diversas redações de jornais e revistas no Brasil. Foi repórter de economia no Jornal da Tarde, do grupo O Estado de São Paulo e editora-adjunta de finanças pessoais na revista IstoÉ Dinheiro. Atuou no mercado de edição de livros de finanças em São Paulo e foi, por seis anos, redatora-chefe da revista Prazeres da Mesa (https://www.prazeresdamesa.com.br/), antes de se mudar para Inglaterra.
No Reino Unido, foi editora do jornal Notícias em Português, voltado à comunidade lusófona na Inglaterra.
Escreve e edita sobre o mercado de criptomoedas e tecnologia blockchain desde 2022.
We use cookies to ensure that we give you the best experience on our website. If you continue to use this site we will assume that you are happy with it.Ok