Shrimps compraram 17.000 BTC em um mês, superando os 13.850 BTC emitidos.
Acúmulo reflete maior confiança dos pequenos investidores no BTC.
Adoção crescente pulveriza a base de holders e fortalece a descentralização.
Mineradores perdem protagonismo diante da nova onda de demanda.
As chamadas carteiras ‘shrimp’ — que detêm até 1 BTC — acumularam mais de 17.000 BTC no último mês. Com isso, elas superaram a emissão mensal da rede pelos mineradores, que ficou em 13.850 BTC. Os dados foram publicados nesta quinta-feira (⅞) pela plataforma de análise on-chain Glassnode.
O número reforça uma tendência crescente entre pequenos investidores: a busca por soberania financeira, reserva digital de valor e proteção patrimonial diante da instabilidade global. Esses dados mostram que mesmo com a dominância de instituições, ETFs e baleias, os pequenos continuam acumulando silenciosamente e de forma consistente — chegando a ultrapassar a quantidade de BTC emitido pela rede.
A comparação entre a emissão de novos bitcoins e o comportamento de compra das carteiras menores é relevante porque mostra que há mais demanda do que oferta, mesmo sem considerar os grandes players. O fenômeno, conhecido como supply squeeze, tende a fortalecer o preço do ativo no longo prazo, uma vez que o estoque disponível nos mercados se torna cada vez mais escasso.
No gráfico da Glassnode, o saldo líquido mensal das carteiras shrimp (≤1 BTC) aparece em roxo. Por outro lado, o de carteiras fish (1–10 BTC) está em verde. A linha azul representa a emissão mensal de BTC pela mineração, e a linha preta é o preço.
É possível observar que tanto shrimps quanto fish aumentaram o ritmo de acúmulo a partir da segunda quinzena de julho, possivelmente influenciados por movimentos macroeconômicos e pela expectativa de queda nos juros nos Estados Unidos. O mercado enxerga os cortes de juros com otimismo, e as melhores criptomoedas tendem a performar bem.
(Fonte: Glassnode)
A volta dos pequenos
O comportamento das carteiras shrimp e fish é muitas vezes considerado um bom termômetro do sentimento de mercado entre investidores de varejo. Quando esses endereços começam a acumular com frequência, mesmo com preços elevados, isso indica confiança estrutural no ativo — algo que costuma antecipar ciclos de valorização sustentados.
De acordo com estudos anteriores da própria Glassnode, esse padrão se repete desde 2017, com maior intensidade após eventos macroeconômicos relevantes, como o colapso de bancos nos EUA em 2023 e a crise de confiança nas stablecoins em 2024. Agora, com o BTC acima dos 110 mil dólares, a continuidade do acúmulo por pequenos investidores reforça o caráter antifrágil da tese do Bitcoin.
Além disso, dados do Coin Metrics mostram que o número de carteiras com saldo inferior a 1 BTC nunca esteve tão alto. Já são mais de 35 milhões de endereços ativos. Essa pulverização da base de detentores é vista por analistas como um sinal de maturidade da rede, tornando o Bitcoin mais descentralizado e resiliente a ataques externos.
Halving afetou a taxa de recompensa da mineração
A emissão mensal de bitcoins atualmente gira em torno de 13.850 unidades, reflexo da taxa de recompensa pós-halving. Esse número tende a cair a cada quatro anos, com o próximo halving previsto para 2028. Quando o número de novos bitcoins comprados por investidores excede a emissão, como é o caso atual, a pressão de venda dos mineradores passa a ter menos impacto no preço.
Ou seja, os mineradores não conseguem mais despejar no mercado uma quantidade superior àquela que está sendo absorvida. Isso reduz a oferta líquida e ajuda a sustentar a valorização.
Isso é especialmente importante quando se considera que os mineradores historicamente foram os maiores vendedores líquidos de BTC no mercado spot. Ao perderem esse protagonismo frente à demanda de shrimps, fish, ETFs e empresas públicas, o jogo de forças do mercado começa a mudar.
Narrativa de escassez ganha força
A lógica por trás do Bitcoin como reserva de valor é sustentada por seu modelo de escassez absoluta — haverá no máximo 21 milhões de unidades da moeda. Quando os dados mostram que carteiras menores estão retirando BTC do mercado e segurando em wallets privadas, o estoque circulante de fato diminui, e isso alimenta a narrativa da escassez.
Essa narrativa, por sua vez, atrai novos compradores, aumenta a confiança institucional e leva a uma reprecificação do ativo em momentos de baixa liquidez. Isso se observa agora em diversas corretoras globais.
Analistas do JPMorgan, por exemplo, já haviam alertado em relatório recente que o acúmulo de BTC por pequenos investidores era subestimado pelo mercado. Eles chamam atenção para o fato de que essa base de usuários costuma manter suas moedas por longos períodos, contribuindo para o chamado supply inativo.
Impulsionadores recentes
Alguns fatores recentes ajudam a explicar o comportamento dos shrimps. Entre eles, a expectativa de corte de juros nos EUA em setembro, que aumentou para mais de 70%, segundo dados da Polymarket, reacendeu o apetite por ativos escassos. Além disso, a entrada de empresas públicas como Metaplanet e Méliuz no mercado de BTC reforçou a tese de que o ativo pode ser uma reserva institucional.
Outros elementos relevantes incluem:
Aumento da integração entre carteiras de autocustódia e exchanges (facilitando a compra e retirada);
Crescimento da educação financeira voltada para cripto em países emergentes;
Reforço na tese de soberania individual, impulsionada por políticas inflacionárias ou instabilidade monetária em diversas regiões.
Contexto global favorece os pequenos
Portanto, o acúmulo recorde ocorre em um momento em que os mineradores enfrentam queda na lucratividade, especialmente os de menor porte. Com custos elevados e receitas pressionadas pelo halving recente, parte dos mineradores vem reduzindo seu poder computacional ou vendendo ativos para manter a operação.
Isso reduz ainda mais a pressão de venda, criando uma janela favorável para que shrimps e fish entrem no mercado sem enfrentar concorrência direta dos mineradores. É um movimento raro e potencialmente explosivo para o preço.
A ultrapassagem da emissão por parte das carteiras shrimp no último mês é um marco importante para o Bitcoin. Afinal, mostra que a base de investidores de varejo continua ativa, resiliente e estrategicamente posicionada. Mesmo com a entrada de instituições e fundos bilionários, os pequenos seguem sendo um importante vetor de sustentação do preço.
Portanto, se essa tendência continuar, aliada a um contexto macroeconômico favorável, o mercado pode testemunhar uma nova corrida de valorização liderada de baixo para cima — com as carteiras de até 1 BTC fazendo o que as baleias não conseguiram. Ou seja, podem tornar o Bitcoin verdadeiramente escasso.
Disclaimer: Coinspeaker está comprometido em fornecer reportagens imparciais e transparentes. Este artigo tem como objetivo fornecer informações precisas e oportunas. Mas não deve ser considerado como conselho financeiro ou de investimento. Como as condições do mercado podem mudar rapidamente, recomendamos que você verifique as informações por conta própria. E consulte um profissional antes de tomar qualquer decisão com base neste conteúdo.
Marta Barbosa Stephens é escritora e jornalista formada pela Universidade Católica de Pernambuco, com mestrado na PUC São Paulo e pós-graduação em edição na Universidade de Barcelona.
Trabalhou em diversas redações de jornais e revistas no Brasil. Foi repórter de economia no Jornal da Tarde, do grupo O Estado de São Paulo e editora-adjunta de finanças pessoais na revista IstoÉ Dinheiro. Atuou no mercado de edição de livros de finanças em São Paulo e foi, por seis anos, redatora-chefe da revista Prazeres da Mesa (https://www.prazeresdamesa.com.br/), antes de se mudar para Inglaterra.
No Reino Unido, foi editora do jornal Notícias em Português, voltado à comunidade lusófona na Inglaterra.
Escreve e edita sobre o mercado de criptomoedas e tecnologia blockchain desde 2022.
We use cookies to ensure that we give you the best experience on our website. If you continue to use this site we will assume that you are happy with it.Ok