Scott Bessent sugere um corte de 50 bps nos juros dos EUA em setembro.
A possibilidade agita o mercado cripto, que já vê altas nos preços dos principais ativos.
As taxas foram mantidas em 4,25%-4,50% em julho, com divisões internas por incertezas sobre tarifas e inflação.
No cenário econômico global, a possibilidade de um corte de juros nos EUA, liderado pelo Federal Reserve (Fed), está gerando ondas de otimismo. Isso ocorre também no mercado de criptomoedas, setor que atrai liquidez em tempos de juros baixos.
A probabilidade de um corte de juros já era bastante alta, mas uma declaração recente mostra que o corte pode estar mais perto do que muitos imaginavam.
A declaração ocorreu na última quarta-feira (13/8), de ninguém mais, ninguém menos, que o próprio secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent. Ele sugeriu uma redução de 50 pontos-base (bps) nas taxas de juros em setembro.
O contexto do corte de juros
Portanto, a notícia reforça especulações sobre um possível rali no preço do Bitcoin e das melhores criptomoedas.
O Fed tem mantido as taxas de juros na faixa de 4,25% a 4,50%, refletindo uma postura cautelosa diante de incertezas econômicas. A avaliação leva em conta os possíveis impactos das tarifas comerciais impostas pela administração Trump e os dados recentes do mercado de trabalho.
No entanto, as declarações de Bessent, que indicam uma política monetária potencialmente menos restritiva, têm outro tom. Segundo o CME FedWatch, a probabilidade de um corte de 25 bps em setembro já supera 94%, com especulações crescentes sobre uma redução mais agressiva de 50 bps, como sugerido por Bessent.
Essa mudança de direção ocorre em um momento em que o mercado interpreta sinais de enfraquecimento econômico, como dados de emprego mais fracos e pressões inflacionárias que podem estar se estabilizando.
O Secretário do Tesouro dos EUA argumentou que as taxas atuais são ‘excessivamente restritivas’, alinhando-se a uma visão de que cortes graduais podem estimular o crescimento econômico.
Para o mercado de criptomoedas, essa perspectiva é vista como um catalisador em potencial. Afinal, há um histórico de correlação entre políticas monetárias mais frouxas e o desempenho de ativos de risco.
Por que os cortes de juros podem impulsionar as criptomoedas?
Os cortes de juros têm impacto direto sobre a liquidez do mercado e apetite por risco, dois fatores que historicamente beneficiaram as criptomoedas, especialmente o Bitcoin.
Quando o Fed reduz as taxas de juros, o custo de empréstimos diminui, injetando mais capital nos mercados financeiros. Essa liquidez adicional frequentemente flui para ativos de maior risco, como ações de tecnologia e criptomoedas.
De acordo com análises da Forbes e do CoinLedger, ambientes de taxas baixas tendem a aumentar a disponibilidade de capital para investimentos especulativos. Portanto, são favoráveis ao Bitcoin e às altcoins.
Além disso, o apetite por risco também costuma crescer em cenários de juros mais baixos.
Com rendimentos mais baixos em instrumentos tradicionais, como títulos do Tesouro e contas de poupança, investidores buscam retornos mais altos em ativos voláteis.
O Bitcoin, frequentemente apelidado de ‘ouro digital’, além de altcoins como Ethereum e Solana, tornam-se atraentes nesse cenário. O analista Nic Puckrin, do ‘Coin Bureau’, destacou na Forbes que um corte de juros em setembro, combinado com clareza nas políticas comerciais, poderia desencadear um rali no Bitcoin, potencialmente superando suas máximas históricas.
Fraqueza do dólar
A fraqueza do dólar americano também é um fator de peso para um cenário de alta das criptomoedas em um cenário de juros baixos.
Isso porque, os cortes de juros dos EUA tendem a enfraquecer o dólar. Desse modo, tornam ativos denominados em outras moedas ou descentralizados, como criptomoedas, mais atrativos para investidores globais.
Por exemplo, um dólar mais fraco pode aumentar a demanda por Bitcoin como uma reserva de valor, especialmente em mercados emergentes onde as moedas locais enfrentam depreciação.
Por fim, ambientes de taxas baixas incentivam investimentos de venture capital em startups de blockchain e projetos DeFi (finanças descentralizadas). A criação de um fundo de US$ 515 milhões pela Andreessen Horowitz em abril de 2020, logo após cortes de juros em resposta à pandemia, ilustra como esse capital pode impulsionar inovações no setor.
Ciclo pós-pandemia é referência
O impacto dos cortes de juros no mercado de criptomoedas não é novidade. Em 2020, quando o Fed cortou as taxas em resposta à crise do COVID-19, o Bitcoin experimentou uma correção inicial de 60%, seguida por um aumento de 1.600% ao longo do ano, alcançando um pico de US$ 69.000 em novembro de 2021.
Outro precedente ocorreu em setembro de 2024, quando o Fed anunciou seu primeiro corte desde a pandemia, reduzindo a taxa para 4,75%-5%. O Bitcoin respondeu com um salto de US$ 60.000 para US$ 64.000 em poucos dias.
Esses episódios sugerem que, embora reações iniciais possam ser voláteis, o efeito a médio e longo prazo tende a ser positivo, especialmente se os cortes forem acompanhados por otimismo macroeconômico.
Análises de especialistas e expectativas de preço
Os analistas estão divididos sobre a magnitude do impacto, mas muitos veem um potencial significativo. Nic Puckrin, CEO da The Coin Bureau, prevê um período de negociação lateral nas próximas semanas Mass sugere que um corte de juros em setembro, combinado com clareza nas políticas comerciais, poderia empurrar o Bitcoin acima de sua máxima histórica de US$ 124.000.
Para as altcoins, o impacto pode ser ainda mais pronunciado. O Nasdaq destaca que, em ambientes de taxas baixas, ativos de risco como Ethereum e altcoins menores tendem a se beneficiar de um ‘DeFi Summer’ especulativo. Algo semelhante ocorreu em 2020-2021.
E no Brasil?
No Brasil, onde o mercado cripto tem crescido rapidamente, um corte de juros nos EUA pode ter um efeito indireto. Com o real frequentemente pressionado por fatores externos, um dólar mais fraco poderia aliviar a demanda por criptomoedas como hedge. No entanto, também atrairia mais investidores brasileiros para o mercado global.
A adoção de stablecoins como USDT já é significativa no país. E um ambiente de liquidez global pode acelerar projetos locais de blockchain, como os apoiados por startups emergentes.
O corte de juros proposto por Scott Bessent representa um ponto de inflexão potencial para o mercado de criptomoedas.
Com a liquidez aumentando, o apetite por risco crescendo e o dólar possivelmente enfraquecendo, o Bitcoin e outras criptomoedas estão bem posicionados para um rali. E esse efeito tende a ser sentido globalmente, não apenas nos EUA.
O que falta para decolar?
No entanto, o sucesso dependerá de fatores como a magnitude dos cortes, a resposta do mercado de ações e a evolução das políticas regulatórias.
Para investidores, o momento exige cautela e pesquisa. Será crucial acompanhar os dados de inflação dos EUA, as reuniões do comitê do Fed e os movimentos de grandes players institucionais.
Se o Fed seguir o caminho traçado por Bessent, 2025 pode ser lembrado como o ano em que as criptomoedas consolidaram seu lugar no cenário financeiro global.
Disclaimer: Coinspeaker está comprometido em fornecer reportagens imparciais e transparentes. Este artigo tem como objetivo fornecer informações precisas e oportunas. Mas não deve ser considerado como conselho financeiro ou de investimento. Como as condições do mercado podem mudar rapidamente, recomendamos que você verifique as informações por conta própria. E consulte um profissional antes de tomar qualquer decisão com base neste conteúdo.
Marta Barbosa Stephens é escritora e jornalista formada pela Universidade Católica de Pernambuco, com mestrado na PUC São Paulo e pós-graduação em edição na Universidade de Barcelona.
Trabalhou em diversas redações de jornais e revistas no Brasil. Foi repórter de economia no Jornal da Tarde, do grupo O Estado de São Paulo e editora-adjunta de finanças pessoais na revista IstoÉ Dinheiro. Atuou no mercado de edição de livros de finanças em São Paulo e foi, por seis anos, redatora-chefe da revista Prazeres da Mesa (https://www.prazeresdamesa.com.br/), antes de se mudar para Inglaterra.
No Reino Unido, foi editora do jornal Notícias em Português, voltado à comunidade lusófona na Inglaterra.
Escreve e edita sobre o mercado de criptomoedas e tecnologia blockchain desde 2022.
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