Para Caio Barbosa, CEO da Lumx, a aprovação do Genius Act nos Estados Unidos também pode beneficiar os negócios que envolvem stablecoins no Brasil.
A Lumx tem notado um crescimento constante no uso de stablecoins para finalidades comerciais.
O USDC tem se destacado como a stablecoin mais aceita entre Brasil e EUA.
Empresas tradicionais também têm adotado pagamentos com stablecoins.
A Lumx estuda formas de automatizar lançamentos contábeis com base em transações on-chain.
Em meio ao calor do Blockchain Rio 2025, uma conversa chamou atenção nos bastidores do evento: a visão de Caio Barbosa, CEO da Lumx, sobre o impacto da regulação norte-americana para empresas brasileiras que atuam com criptoativos.
Em entrevista, Barbosa foi direto ao apontar como a aprovação do Genius Act nos Estados Unidos pode mudar, de forma prática, a operação de negócios que envolvem stablecoins, transferências internacionais e integrações bancárias.
O Genius Act (Guaranteed Essential National Infrastructure for USD-backed Stablecoins Act) é uma proposta legislativa que dá estrutura legal clara para stablecoins lastreadas em dólar nos EUA.
Portanto, com esse marco, emissores como Circle e Paxos podem operar com regras bem definidas. A lei prevê reservas formadas na sua totalidade por ativos seguros, além de integração com o sistema bancário.
Para Barbosa, essa clareza regulatória beneficia empresas como a Lumx, que operam com stablecoins para transações internacionais, conectando o mercado brasileiro à infraestrutura financeira global.
Segundo o executivo, os efeitos já começam a ser sentidos. A principal consequência do Genius Act, diz ele, é o aumento da aceitação bancária de stablecoins nos EUA. E isso tem efeito direto no Brasil, de acordo com Barbosa:
Hoje, vários bancos norte-americanos que antes travavam operações com USDC ou USDP passaram a integrar esse tipo de liquidez nas suas plataformas. Isso muda o jogo para empresas brasileiras que precisam mandar ou receber valores via stablecoins, sem passar por processos arcaicos do SWIFT.
Crescimento no uso de stablecoins
A Lumx, que oferece soluções de pagamentos e infraestrutura blockchain para empresas, tem notado um crescimento constante no uso de stablecoins para finalidades comerciais, especialmente em importação e exportação.
Barbosa explica que, para muitos clientes, fazer um pagamento em USDC é muito mais rápido e barato do que usar ordens de pagamento tradicionais. ‘Estamos falando de D+0 contra D+2 ou D+3 de um banco. E com taxas muito menores’, reforça.
No cenário de negócios entre Brasil e Estados Unidos, o USDC tem se destacado como a stablecoin mais aceita. E, com o novo marco regulatório americano, a tendência é que a aceitação aumente ainda mais. Para a Lumx, isso representa uma oportunidade estratégica. A empresa vem desenvolvendo soluções de onboarding e liquidez para clientes que precisam operar com stablecoins de forma regulada, usando contratos inteligentes e compliance automatizado.
No entanto, Barbosa alerta que a regulação brasileira também precisa avançar:
O Brasil tem feito um bom trabalho, mas ainda precisa esclarecer pontos como o uso de stablecoins para pagamentos de importação, contabilização e tributação dessas operações.
Ele vê com bons olhos os avanços liderados pelo Banco Central e pela Receita Federal. No entanto, acredita que ainda há uma lacuna entre o uso técnico e o entendimento regulatório completo dessas ferramentas.
Casos reais já existem
Durante a entrevista, o CEO da Lumx comentou que, apesar das dificuldades iniciais, já existem casos concretos de empresas brasileiras que fazem todo o ciclo de pagamento usando stablecoins.
Ele cita o exemplo de clientes que importam máquinas da Ásia ou software dos EUA e preferem liquidar a operação via USDC. Portanto, nesse modelo, o comprador envia stablecoins diretamente ao fornecedor, que recebe em dólar ou converte localmente — tudo em poucas horas.
Além do fator agilidade, Barbosa destaca outro benefício essencial: a rastreabilidade e transparência:
Quando você faz um pagamento on-chain, tudo fica registrado de forma imutável. Isso é muito valioso do ponto de vista contábil e de auditoria. Empresas que antes tinham medo de cripto agora começam a entender que o blockchain traz muito mais segurança e controle do que os sistemas bancários convencionais.
Empresas tradicionais também buscam inovação
Outro ponto levantado na entrevista foi a mudança no perfil dos clientes que buscam soluções em cripto. Segundo o CEO, antes os early adopters eram startups e fintechs mais ousadas, mas hoje o interesse parte de companhias tradicionais, muitas delas com décadas de mercado.
A Lumx já atende grupos de logística, comércio exterior, tecnologia e até indústria pesada:
Essas empresas estão cansadas de pagar caro para bancos por serviços ineficientes. Elas querem inovação que funcione e que seja segura. É exatamente aí que a gente entra.
Sobre o Blockchain Rio, Barbosa foi categórico ao dizer que a edição de 2025 marcou um divisor de águas. A presença de autoridades reguladoras, como o presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, e representantes da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), mostrou que o ecossistema cripto brasileiro não é mais um experimento isolado, mas sim parte da agenda econômica do país:
Essa aproximação entre setor público e setor privado é fundamental. Sem diálogo, a regulação trava. Com diálogo, a inovação prospera.
Stablecoins como hedge cambial
Ainda no contexto internacional, Barbosa comentou sobre o crescimento do uso de stablecoins em regiões da África, América Latina e Sudeste Asiático.
Países com moeda local fraca ou forte dependência do dólar têm adotado soluções baseadas em USDC e USDT para se proteger de volatilidade cambial e burocracia bancária. Segundo Barbosa, o Brasil tem características semelhantes e pode se beneficiar do mesmo movimento. Mas, para isso, precisa atualizar sua regulação com foco em interoperabilidade e segurança jurídica.
Outro ponto discutido na entrevista foi o papel das blockchains públicas. Para Barbosa, redes como Ethereum e Polygon ainda são as mais utilizadas para operações com stablecoins, devido à liquidez e à compatibilidade com carteiras e plataformas institucionais.
A Lumx opera de forma agnóstica quanto à infraestrutura, mas tem preferência por redes que ofereçam escalabilidade e segurança sem comprometer a descentralização.
Além disso, o CEO apontou que a próxima etapa de maturidade será a integração de stablecoins com sistemas ERP e ferramentas de contabilidade tradicionais.
Lums estuda automação
A Lumx já estuda formas de automatizar lançamentos contábeis com base em transações on-chain, facilitando a vida do setor financeiro das empresas. Segundo Barbosa:
A integração com o mundo real é o que vai destravar o mercado. Hoje, ainda tem muito copy/paste entre wallet e planilha. Isso precisa acabar.
Por fim, ele fez uma provocação otimista:
Quem ainda acha que stablecoin é só para especulação está perdendo o bonde. O que estamos vendo é o nascimento de uma nova infraestrutura para o comércio global — mais barata, mais rápida, e mais transparente.
Nesse cenário em transformação, o Brasil pode — e deve — ocupar uma posição de destaque. Para o CEO da Lumx, com a regulação certa, integração com a infraestrutura global e ferramentas que simplifiquem a adoção, o país pode se tornar referência mundial no uso corporativo de ativos digitais.
Disclaimer: Coinspeaker está comprometido em fornecer reportagens imparciais e transparentes. Este artigo tem como objetivo fornecer informações precisas e oportunas. Mas não deve ser considerado como conselho financeiro ou de investimento. Como as condições do mercado podem mudar rapidamente, recomendamos que você verifique as informações por conta própria. E consulte um profissional antes de tomar qualquer decisão com base neste conteúdo.
Marta Barbosa Stephens é escritora e jornalista formada pela Universidade Católica de Pernambuco, com mestrado na PUC São Paulo e pós-graduação em edição na Universidade de Barcelona.
Trabalhou em diversas redações de jornais e revistas no Brasil. Foi repórter de economia no Jornal da Tarde, do grupo O Estado de São Paulo e editora-adjunta de finanças pessoais na revista IstoÉ Dinheiro. Atuou no mercado de edição de livros de finanças em São Paulo e foi, por seis anos, redatora-chefe da revista Prazeres da Mesa (https://www.prazeresdamesa.com.br/), antes de se mudar para Inglaterra.
No Reino Unido, foi editora do jornal Notícias em Português, voltado à comunidade lusófona na Inglaterra.
Escreve e edita sobre o mercado de criptomoedas e tecnologia blockchain desde 2022.
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