Caio Leta, do Explica Bitcoin, vê adoção institucional como etapa inevitável para a expansão do Bitcoin.
Afirma que 'a realidade é melhor que a utopia' e que bancos e fundos sempre fariam parte da hiperbitcoinização.
Cita o plano 21-21 de Michael Saylor como marco de um novo ciclo de liderança institucional.
Defende que Brasil e América Latina estão mais preparados por já viverem com inflação e volatilidade cambial.
Durante a Satsconference 2025, evento que reuniu milhares de entusiastas e desenvolvedores de Bitcoin em São Paulo, o criador do projeto Explica Bitcoin, Caio Leta, compartilhou sua visão sobre o avanço da adoção institucional do ativo digital e o papel estratégico da América Latina nesse processo com empresas como Méliuz e OranjeBTC à Coinspeaker.
Em meio a um mercado ainda volátil, Leta destacou que o ciclo atual representa mais maturidade do que euforia — e que o Bitcoin deixou de ser apenas um movimento cultural de nicho para se tornar parte estrutural da economia global.
Leta iniciou a conversa com uma reflexão sobre o que ele chama de ‘dois lados’ de sua própria visão sobre o Bitcoin. ‘Existe o Leta bitcoiner e o Leta pragmático’, brincou.
O bitcoiner maximalista, com aquele ethos libertário, se ressente um pouco de ver esse movimento institucional acontecendo. Mas, o Leta pragmático entende que nunca existiria um cenário em que o Bitcoin deixasse de ser uma coisa de nicho e, ainda assim, alcançasse adoção global. É óbvio que, se sonhávamos com hiperbitcoinização, a BlackRock, o Itaú e o JP Morgan estariam envolvidos. Eles trabalham com capital, era inevitável.
Para o criador do Explica Bitcoin, o processo de institucionalização não é um desvio do ideal, mas o caminho natural para que o ativo conquiste escala global. ‘Eu sou muito otimista do ponto de vista pragmático. Essa tendência veio para ficar’, afirmou.
O início das BTC Treasuries
Ele relembrou que já via sinais dessa transição desde 2021, com a estratégia de Michael Saylor à frente da MicroStrategy.
Na época, achei que o superciclo viria em 2020, que o Saylor iniciaria um contágio social e as empresas começariam a comprar. Não aconteceu naquele momento, mas desde novembro do ano passado isso vem ganhando força.
Nesse sentido, Leta cita o plano anunciado por Saylor em 2024, batizado de 21-21, como um marco do novo ciclo entre o Bitcoin, e as melhores criptomoedas no mercado.
‘Ele anunciou que vai captar 21 bilhões de dólares emitindo dívida e mais 21 bilhões vendendo ações. É uma sinalização muito clara. Ele entendeu que não precisava só educar ou falar, precisava liderar pelo exemplo. E é isso que ele está fazendo’, destacou.
Esse próximo ciclo vai ser incrível nesse sentido. Talvez o bitcoiner idealista não fique tão feliz, mas o pragmático sabe que a adoção institucional é inevitável. Não serão apenas os cypherpunks fazendo OPSEC aqui na SatsConf que vão levar o Bitcoin para oito bilhões de pessoas. Isso nunca faria sentido. A realidade é melhor do que a utopia, porque ela existe.
América Latina no radar global
Além disso, quando questionado sobre o potencial da América Latina e, em especial, do Brasil, para liderar uma revolução corporativa de tesouraria em Bitcoin, Leta foi enfático: o continente está em posição privilegiada.
‘Há uma fonte de debate enorme entre mim e meus amigos sobre isso, e eu realmente acredito que a região tem muito potencial. O brasileiro viveu décadas de inflação, desvalorização e instabilidade. Isso cria uma percepção muito mais aguda sobre o valor de uma moeda que é imune à manipulação’, disse.
Apesar disso, Leta reconhece obstáculos locais, principalmente ligados à estrutura macroeconômica e às altas taxas de juros.
O custo de oportunidade no Brasil é alto, com juros de 15%. Isso pesa. Mas, do ponto de vista global, há um movimento de enfraquecimento dos juros americanos. E quando isso acontece, os investidores buscam mercados emergentes.
Nesse cenário, o Brasil se torna uma vitrine natural. Leta cita o caso de empresas locais que já adotaram o Bitcoin como reserva de tesouraria, como a OranjeBTC e a Méliuz, e afirma que esses exemplos podem atrair fluxo institucional estrangeiro.
Você tem uma narrativa muito bonita: uma treasury company de mercado emergente, com operação sólida, e só existem duas na América Latina inteira. Isso pode atrair muito capital institucional americano.
Ele destacou o caráter internacional da OranjeBTC, que já conta com conselheiros e executivos estrangeiros. ‘Eles têm o Sam Callahan como head of research. É uma empresa com um pé no Brasil e outro lá fora. Isso torna o pitch muito mais interessante para investidores internacionais.’
Entre o realismo e o entusiasmo
Durante a conversa, Leta ponderou que o entusiasmo com o preço do Bitcoin não é o principal motor do evento. mas sim a consolidação de uma comunidade mais madura.
‘Acho que isso aqui é uma celebração ao Bitcoin, não ao preço. O clima é leve, mesmo com o mercado lateralizado’, disse.
Ele relembrou o contraste entre o momento atual e o da primeira edição da conferência, em 2023, quando o setor ainda vivia sob o impacto do colapso da FTX.
Na primeira SatsConf, eu estava mediando um painel de mineração com o Ray Nasser, o RudáPellini e o Filipe Zulino. Descemos do palco e soubemos que a FTX quase tinha sido comprada pela Binance. O Bitcoin estava em 16 mil dólares, e ninguém estava abalado. O clima era ótimo. Essa resiliência continua. Hoje a gente brinca dizendo que o Bitcoin colapsou para 100 mil dólares. Dois anos atrás, se alguém falasse isso, ninguém acreditaria.
Leta também ironizou o excesso de otimismo de parte do público que se aventurou em projetos alternativos ou se expôs demais a empresas de tesouraria.
Tem muita gente que estava exposta a shitcoins e acabou sofrendo. E também tem muito bitcoiner que caiu no canto da sereia das treasury companies, achando que era uma forma de se alavancar. Muitos tomaram prejuízo pesado. O mercado ficou lateralizado, mas essas empresas desvalorizaram 80% ou 90% do pico.
Mesmo assim, ele acredita que o amadurecimento do ecossistema é inegável.
‘O que estamos vendo é um mercado mais consciente. O preço oscila, mas a mentalidade mudou. A gente saiu do ciclo da especulação pura e entrou no ciclo da compreensão. O Bitcoin virou assunto de sala de conselho, de macroeconomia, de política monetária. Isso é o que realmente importa’, disse.
Drex e o contraponto do Estado
Ao comentar o fim do projeto Drex, anunciado pouco antes da conferência, Leta foi direto: a decisão apenas confirmou o que a comunidade bitcoiner já esperava.
‘Todo mundo sabia que o Drex nunca teria uma blockchain de verdade, porque ele nunca seria transparente e verificável. Era história para boi dormir’, afirmou.
Ou seja, para ele a extinção do projeto representa o reconhecimento de que uma moeda digital de Estado não pode reproduzir as propriedades fundamentais do Bitcoin.
Portanto, Leta acredita que a verdadeira inovação está no modelo aberto e descentralizado do Bitcoin, que já provou sua resiliência.
O Bitcoin é o oposto de um experimento de controle. Ele é o experimento da liberdade.
Um novo ciclo de aprendizado
Fechando a conversa, Leta relatou um episódio pessoal que simboliza o poder do Bitcoin em inspirar novos interessados.
‘Em 2023, na primeira SatsConf, eu levei minha namorada, que hoje é minha esposa. Ela nunca tinha se interessado muito pelo tema. Eu passei R$50 em Bitcoin para ela durante a conferência, e no ano seguinte esse valor já tinha virado quase R$200. Foi isso que fez ela começar a se informar e investir também’, contou, rindo.
Por fim, para o criador do Explica Bitcoin, esse tipo de experiência resume o verdadeiro impacto da tecnologia: o de criar curiosidade, educação e liberdade financeira.
‘O Bitcoin continua sendo sobre pessoas. E a melhor prova disso é que, mesmo depois de anos, o entusiasmo segue o mesmo — só que agora com muito mais consciência e base técnica’, concluiu.
Disclaimer: Coinspeaker está comprometido em fornecer reportagens imparciais e transparentes. Este artigo tem como objetivo fornecer informações precisas e oportunas. Mas não deve ser considerado como conselho financeiro ou de investimento. Como as condições do mercado podem mudar rapidamente, recomendamos que você verifique as informações por conta própria. E consulte um profissional antes de tomar qualquer decisão com base neste conteúdo.
Leonardo Cavalcanti é jornalista especializado em criptomoedas, blockchain e finanças digitais. Além de tocar projetos próprios como o podcast BlockHistory. Também trabalha em desenvolvimento de negócios no ecossistema cripto como parceiro comercial Azify, com foco em parcerias estratégicas, tokenização e soluções de infraestrutura financeira.
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