Tesouro brasileiro pagando 37,5% na blockchain? Entenda

Token visa permitir que investidores alavanquem posições em títulos do Tesouro Nacional.

Leonardo Cavalcanti By Leonardo Cavalcanti Flavio Aguilar Edited by Flavio Aguilar Atualizado em 6 mins read
Tesouro brasileiro pagando 37,5% na blockchain? Entenda

Resumo da notícia

  • TESOURO é um stablebond tokenizado pelo Etherfuse, lastreado em títulos do Tesouro Nacional do Brasil.
  • A integração com Loopscale permite 'loop' com até 37,5 % por ano ou uso do TESOURO como garantia para empréstimos.
  • A moeda-base do token é o real brasileiro (BRL).

O ecossistema DeFi brasileiro acaba de registrar um marco significativo com a chegada dos chamados ‘stablebondstokenizados de títulos públicos nacionais. O protocolo Loopscale anunciou que incorporou o token TESOURO, criado pela plataforma Etherfuse. Trata-se de uma representação digital da dívida pública brasileira, mas com sistema de alavancagem.

Portanto, o token visa permitir que investidores alavanquem posições em títulos do Tesouro Nacional com rendimento de até 37,5% ao ano ou utilizem esses ativos como colateral para empréstimos. A novidade abre caminho para a exposição on-chain à dívida soberana brasileira, mesclando finanças descentralizadas e instrumentos tradicionais de renda fixa.

Por meio dessa integração, usuários podem converter títulos públicos emitidos pelo governo brasileiro em tokens digitais negociáveis nos mercados DeFi, mantendo a paridade 1:1 com o ativo subjacente.

A Etherfuse descreve TESOURO justamente como parte de sua linha ‘stablebonds’. Ou seja, são produtos financeiros respaldados por títulos públicos e operados na blockchain. O nome deriva de stablecoins, que são ativos estáveis com paridade com moedas fiduciárias como o dólar.

Como funciona o TESOURO tokenizado

No site da Etherfuse, o token TESOURO já está listado com informações de emissão, liquidez, vencimento e rendimento de base. A plataforma mostra o preço por token (em BRL), a liquidez disponível e a próxima data de vencimento.

Além disso, há a indicação de rendimento base (13% por ano). No entanto, por meio de estratégias alavancadas da Loopscale, esse rendimento pode ser elevado até 37,5%. Isso significa que, além do yield direto dos títulos públicos, o investidor tem exposição ao protocolo DeFi para amplificar ganhos, com risco adicional.

É importante destacar que o rendimento real percebido em dólar ou nas melhores criptomoedas dependerá também da variação cambial entre o real (BRL) e o dólar (USD).

A Loopscale afirmou que a moeda-base do TESOURO é o real. Os juros compostos aumentam se o BRL se valorizar e podem diminuir caso ele se enfraqueça.

Ou seja, quem investir via DeFi nessa estratégia assume também um risco cambial. Além disso, a performance global depende tanto do rendimento nominal quanto da movimentação da moeda brasileira.

Potencial do token e apelo para investidores

A integração do TESOURO com Loopscale amplia o universo de investidores que podem acessar títulos públicos sem sair do ecossistema cripto.

Tradicionalmente, o stake em renda fixa brasileira exige uma conta em uma corretora local, ambiente regulado e intermediários.

Por outro lado, via tokenização, esses títulos ficam acessíveis por meio de carteiras cripto, contratos inteligentes e sem a necessidade de infraestrutura tradicional intermediária.

Para investidores com perfil moderado, esse modelo oferece atrativo misto: exposição a renda fixa soberana (risco de crédito relativamente baixo) com eficiência de blockchain, liquidez on-chain e possibilidade de uso como colateral, algo raro em mercados tradicionais.

É um movimento que aproxima DeFi e finanças tradicionais (TradFi), reduzindo barreiras de entrada e fortalecendo o ecossistema local.

Além disso, a estratégia de permitir posições alavancadas (‘loop’) com rendimentos elevados pode atrair investidores mais agressivos em busca de yield.

No anúncio, foi destacada ainda uma funcionalidade com a qual os investidores podem ‘loopar’ TESOURO para maximizar retorno — assumindo, claro, um risco crescente.

Também foi divulgado que quem construir posições alavancadas acumulará pontos, havendo possivelmente uma distribuição futura via airdrop pela Loopscale.

Riscos e limitações a considerar

Embora a proposta seja inovadora, também tem riscos inerentes. Em primeiro lugar, o uso de alavancagem em ativos supostamente mais seguros pode acarretar liquidações bruscas em cenários adversos. Por exemplo, isso pode ocorrer se houver uma queda nos preços dos tokens ou uma flutuação cambial desfavorável. Ou seja, a volatilidade do par BRL/USD pode corroer ganhos expressivos.

Também existe risco regulatório. A tokenização de títulos públicos nacionais pode chamar a atenção de autoridades do mercado financeiro brasileiro, da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e do Banco Central (BC).

As autarquias podem exigir clareza regulatória sobre custódia, compliance e classificação legal desses tokens como valores mobiliários ou instrumentos financeiros. Se as regras forem alteradas, o funcionamento do protocolo pode ser afetado.

A própria credibilidade da Etherfuse e da Loopscale será testada. Para que investidores confiem em rendimentos e liquidez, os protocolos precisarão demonstrar transparência total. Isso incluiria auditoria independente (proof-of-reserves), mecanismos anti-liquidação justos, governança sólida, robustez contra ataques cibernéticos e controle de risco técnico.

Há também risco de adoção. Ou seja, se o interesse de investidores fora do universo cripto for baixo, a liquidez do TESOURO pode não se materializar como esperado, limitando o uso prático desses tokens.

RWA é tendência global

O que Etherfuse faz com TESOURO está alinhado com uma tendência crescente: a tokenização de RWA (Real-World Assets). Além disso, a Tether faz esse movimento desde cedo ao comprar títulos públicos norte-americanos para manter o lastro de sua stablecoin USDT. No entanto, a empresa não precisa repassar os rendimentos, o que gera uma receita notável à emissora.

Outros projetos no exterior já tokenizam títulos do Tesouro dos EUA e de outros mercados desenvolvidos por meio de plataformas como Ondo, Backed e PV01. A diferença nos mercados emergentes é que o risco e o yield são mais altos, o que torna o caso brasileiro mais interessante para quem busca retorno.

Em seu anúncio de investimento, a Etherfuse destaca que o modelo tokeniza títulos emergentes com paridade 1:1 com o título original, com custódia própria e sem depender de intermediários tradicionais. Isso permite que usuários acessem rendimentos reais de dívida soberana emergente dentro de DeFi, com maior eficiência de mercado, transparência e acessibilidade.

Implicações para o mercado cripto brasileiro e latino-americano

Para o Brasil, esse movimento representa uma forma inédita de mesclar renda fixa soberana e DeFi localmente. Investidores brasileiros que já operam cripto podem alocar parte do capital em títulos nacionais tokenizados, sem sair da carteira cripto nem pagar taxas pesadas ou trâmites burocráticos em corretoras tradicionais. Isso pode gerar um novo fluxo de capital para o ecossistema DeFi nacional.

Além disso, a existência de blocos tokenizados de dívida pode estimular a inovação. Isso levaria ao surgimento de derivativos e mercados de crédito sobre esses tokens. Também poderia incluir seguros on-chain contra risco de crédito ou de liquidação, entre outras novas aplicações DeFi que usem esses ativos como colateral ou meio de pagamento.

Para outras jurisdições da América Latina, o modelo pode servir de benchmark. A centralização de títulos nacionais via blockchain permite que países com mercados emergentes parcialmente ilíquidos ganhem visibilidade global e atrai capital externo em forma de tokens respeitáveis.

Disclaimer: Coinspeaker está comprometido em fornecer reportagens imparciais e transparentes. Este artigo tem como objetivo fornecer informações precisas e oportunas. Mas não deve ser considerado como conselho financeiro ou de investimento. Como as condições do mercado podem mudar rapidamente, recomendamos que você verifique as informações por conta própria. E consulte um profissional antes de tomar qualquer decisão com base neste conteúdo.

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Leonardo Cavalcanti

Leonardo Cavalcanti é jornalista especializado em criptomoedas, blockchain e finanças digitais. Além de tocar projetos próprios como o podcast BlockHistory. Também trabalha em desenvolvimento de negócios no ecossistema cripto como parceiro comercial Azify, com foco em parcerias estratégicas, tokenização e soluções de infraestrutura financeira.