Mineração de Bitcoin no Brasil ganha força com energia renovável
O Brasil emerge como novo polo da mineração de Bitcoin, com empresas internacionais aproveitando excedentes de energia renovável para reduzir custos e impulsionar operações.
Mineradoras de Bitcoin buscam excedente de energia renovável no Brasil.
Projetos como o da Renova Energia visam transformar energia ociosa em receita.
Tether e Adecoagro firmaram parceria para mineração com fontes limpas.
Atividade pode ajudar a absorver excedentes e gerar empregos locais.
O Brasil está se consolidando como um dos destinos mais atraentes para mineração de Bitcoin , com empresas interessadas em reduzir custos energéticos e associar sua atividade à transição verde.
De acordo com reportagem recente da Reuters, o país tem se tornado foco de empresas que enxergam na abundância de energia limpa desperdiçada uma oportunidade única para transformar eletricidade ociosa em receita digital.
Empresas de mineração de criptomoedas estão negociando ativamente contratos com fornecedores de eletricidade brasileiros, como a Renova Energia (RNEW3.SA), segundo o veículo.
O atrativo está no contexto brasileiro. O país possui uma matriz elétrica predominantemente renovável, baseada em fontes hídricas, eólicas e solares. Em diversos momentos do ano, sobretudo em regiões como o Nordeste, há mais geração de energia do que capacidade de transmissão.
Esse excesso, que não consegue ser escoado para os grandes centros consumidores por falta de infraestrutura adequada, abre espaço para mineradoras de Bitcoin e outras criptomoedas que buscam eletricidade abundante e barata para viabilizar suas operações.
Mineração de Bitcoin no Brasil ganha tração
O movimento não se restringe a players locais. No início de setembro, a Tether, emissora da maior stablecoin do mundo, anunciou uma parceria com a Adecoagro, multinacional do setor agroenergético, para instalar operações de mineração de Bitcoin utilizando energia renovável produzida no Brasil.
A iniciativa demonstra como o país tem sido visto como peça estratégica em um cenário internacional que busca associar mineração das melhores criptomoedas à sustentabilidade. Especialistas apontam que a mineração de Bitcoin pode atuar com demanda flexível no setor elétrico brasileiro.
Diferentemente de consumidores convencionais, as mineradoras podem ligar e desligar suas operações conforme a disponibilidade de energia, ajudando a absorver excedentes sem pressionar a rede em momentos de escassez. Essa característica é considerada valiosa em um sistema com alta participação de fontes intermitentes, como a eólica e a solar.
Apesar do otimismo, desafios relevantes permanecem. Um dos principais entraves é a deficiência na infraestrutura de transmissão.
Estados do Nordeste, que concentram grande parte da expansão eólica e solar, ainda enfrentam gargalos para levar essa energia a mercados como o Sudeste. Nesse contexto, mineradoras podem ser vistas como solução de curto prazo para absorver o excedente, mas o problema estrutural de transmissão continua sendo um ponto sensível.
Risco hídrico
Além disso, existe o risco hídrico. Embora a energia renovável no Brasil seja abundante, secas prolongadas podem afetar a geração hidrelétrica, elevando o custo marginal da energia e pressionando o sistema.
Em situações como essa, a percepção pública sobre mineradoras competindo com consumidores residenciais e industriais por eletricidade pode se tornar um fator político delicado.
Ainda assim, analistas enxergam no Brasil um dos polos mais promissores para mineração sustentável em escala global.
Ao contrário de países como Cazaquistão e China, que chegaram a concentrar grande parte da mineração mundial, mas enfrentaram crises energéticas e restrições governamentais, o Brasil oferece estabilidade institucional e uma matriz já dominada por fontes limpas.
Esse perfil reforça a narrativa de que o país pode atrair mineradoras interessadas em alinhar suas operações às demandas ESG (ambiental, social e governança), cada vez mais relevantes para investidores institucionais.
Impactos positivos em economias locais
A chegada de mineradoras também pode gerar efeitos positivos para a economia local. Em regiões afastadas dos grandes centros urbanos, investimentos em data centers e infraestrutura de suporte podem impulsionar a geração de empregos e receitas tributárias.
Além disso, contratos de longo prazo com geradoras de energia renovável ajudam a financiar novos projetos, acelerando a expansão da matriz limpa.
No entanto, críticos alertam para os riscos. Alguns especialistas do setor elétrico questionam se o uso de excedentes por mineradoras realmente representa a melhor alocação de recursos. Afinal, argumentam que esses volumes poderiam ser melhor direcionados a projetos de industrialização verde ou exportação de energia via hidrogênio verde.
Para o setor cripto, o Brasil representa não apenas uma nova fronteira geográfica, mas também um laboratório de integração entre energia limpa e blockchain.
A possibilidade de atrelar a mineração de Bitcoin a certificados de energia renovável, por exemplo, pode criar modelos inovadores de financiamento e transparência. Essa integração reforça o argumento de que a mineração pode ser parte da solução para o setor elétrico, e não apenas um problema.
O crescimento dessa tendência também pode influenciar o debate regulatório global. À medida que países desenvolvidos intensificam discussões sobre restrições à mineração intensiva em carbono, a busca por jurisdições com energia limpa abundante tende a se intensificar.
Nesse cenário, o Brasil surge como um dos candidatos naturais a se consolidar como hub de mineração verde. Especialmente se conseguir avançar em marcos regulatórios claros e infraestrutura robusta.
Brasil entra em competição acirrada
Mineradoras que se anteciparem, garantindo contratos de energia renovável de baixo custo em locais estratégicos, terão vantagem competitiva significativa.
O Brasil, com sua combinação de excedentes energéticos e ambiente institucional relativamente estável, aparece como uma das apostas mais fortes nesse horizonte.
A Reuters destaca que os próximos meses serão decisivos para consolidar os primeiros grandes projetos de mineração com energia renovável no Brasil.
Portanto, se as negociações avançarem, o país pode inaugurar uma nova fase em que sua vocação energética ganhará um novo impulso por um mercado digital em expansão global.
Em síntese, a chegada de mineradoras de criptomoedas ao Brasil pode ser vista como uma convergência entre desafios e oportunidades.
Por um lado, há riscos relacionados à regulação, à infraestrutura e à aceitação social. Por outro lado, há a chance de transformar um problema recorrente de excedente energético em fonte de crescimento econômico, inovação e posicionamento estratégico no setor cripto global.
Disclaimer: Coinspeaker está comprometido em fornecer reportagens imparciais e transparentes. Este artigo tem como objetivo fornecer informações precisas e oportunas. Mas não deve ser considerado como conselho financeiro ou de investimento. Como as condições do mercado podem mudar rapidamente, recomendamos que você verifique as informações por conta própria. E consulte um profissional antes de tomar qualquer decisão com base neste conteúdo.
Leonardo Cavalcanti é jornalista especializado em criptomoedas, blockchain e finanças digitais. Além de tocar projetos próprios como o podcast BlockHistory. Também trabalha em desenvolvimento de negócios no ecossistema cripto como parceiro comercial Azify, com foco em parcerias estratégicas, tokenização e soluções de infraestrutura financeira.
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