Safra lança stablecoin própria para dolarização de patrimônio

Emitida em blockchain privada, a moeda digital busca simplificar a dolarização do patrimônio dos clientes brasileiros.

Marta Stephens By Marta Stephens Flavio Aguilar Edited by Flavio Aguilar Atualizado em 6 mins read
Safra lança stablecoin própria para dolarização de patrimônio

Resumo da notícia

  • O Banco Safra lançou a stablecoin Safra Dólar, pareada ao dólar na proporção 1:1.
  • Ela terá aplicação mínima de R$ 1.000, liquidez D+1 e isenção de IOF.
  • A emissão ocorrerá em blockchain privada, sob custódia do próprio banco.
  • Produto amplia acesso à dolarização sem conta internacional e reforça institucionalização das stablecoins no Brasil.

O Banco Safra anunciou o lançamento do Safra Dólar, sua própria stablecoin lastreada em dólar americano, criada para permitir que clientes pessoa física e jurídica dolarizem parte do patrimônio sem a necessidade de abrir uma conta internacional.

O produto chega com aplicação mínima de R$ 1.000, liquidez em D+1, isenção de IOF e registro em blockchain privada administrada pelo próprio banco. A novidade representa um marco na aproximação entre bancos tradicionais e ativos digitais no Brasil.

O Safra Dólar foi desenvolvido em parceria com a Hamsa, empresa sediada na Califórnia, especializada em tokenização de dados. A moeda será emitida em uma rede blockchain permissionada, o que garante rastreabilidade e controle por parte do banco.

Como funciona o Safra Dólar?

Segundo a instituição, cada unidade da stablecoin terá lastro em dólar na proporção de 1:1, assegurado por operações no mercado de câmbio de curto prazo. A proposta é simplificar o acesso ao dólar e oferecer previsibilidade ao investidor brasileiro.

O produto se diferencia pela conveniência. Com contratação feita diretamente pelo aplicativo móvel ou pelo internet banking do banco, clientes poderão adquirir o Safra Dólar e acompanhar sua posição na carteira como qualquer outro investimento.

A liquidação em D+1 garante agilidade, e a isenção de IOF elimina um dos custos mais recorrentes para quem busca proteção cambial via remessa internacional. Para investidores que querem dolarizar patrimônio sem complexidade, o novo instrumento reduz barreiras e traz a segurança de uma marca tradicional do sistema financeiro.

Apesar da inovação, o Safra Dólar não oferece rentabilidade por si só. O retorno do investimento depende exclusivamente da variação cambial do dólar em relação ao real. Ou seja, em momentos de valorização da moeda americana, o investidor se beneficia. Por outro lado, caso o real ganhe força, o resultado pode ser negativo em termos relativos.

Além disso, o banco confirma que haverá cobrança de taxa de corretagem nas operações de compra e venda, embora não haja taxa de administração anunciada. A transparência sobre custos será decisiva para a adoção em larga escala em meio a outras criptomoedas novas.

Stablecoin usa blockchain privada

Outro ponto relevante é que a stablecoin é registrada em uma blockchain privada, diferentemente de outras stablecoins globais, como USDT e USDC, que utilizam redes públicas como Ethereum ou Tron.

Essa escolha reforça a segurança e o controle por parte do Safra, mas pode reduzir a interoperabilidade com outros ecossistemas digitais.

Ainda assim, para o público-alvo, que são clientes em busca de soluções simples para dolarização, o novo produto pode ser um diferencial em segurança e conformidade regulatória.

O lançamento ocorre em um momento no qual as stablecoins ganham força globalmente e os bancos tradicionais passam a enxergar nelas um instrumento legítimo de inovação.

O Safra segue o movimento iniciado por outros players no Brasil, como o BTG Pactual, que lançou em 2023 sua própria stablecoin, o BTG Dol.

A chegada de mais uma instituição com stablecoin própria reforça a tendência de institucionalização das moedas digitais estáveis no país.

De acordo com o banco, o Safra Dólar é uma resposta direta à demanda crescente por alternativas de proteção cambial em meio às incertezas macroeconômicas e à volatilidade do real.

A inflação global, a oscilação das taxas de juros e o aumento da busca por diversificação de portfólio levam investidores brasileiros a procurar exposição a moedas fortes.

Nesse contexto, uma stablecoin emitida por um banco de grande porte pode se tornar uma solução atraente. Além disso, o Safra Dólar insere o banco no ecossistema de ativos digitais de forma mais incisiva.

Por outro lado, a novidade vem após um esfriamento do Drex, o ‘real digital’. Afinal, o projeto acabou esvaziado em partes pelo Banco Central.

Safra já flertava com setor cripto

Antes do lançamento, a instituição já havia criado fundos com exposição a criptomoedas, como o Safra Cripto Selection. Também oferecia acesso indireto a Bitcoin via ETFs estrangeiros. No entanto, a nova iniciativa é a primeira em que o Safra assume diretamente a emissão de um ativo digital, ampliando seu papel no setor.

Para os investidores, o produto oferece vantagens práticas, mas também limitações que devem ser consideradas.

Além da ausência de rentabilidade fixa, o ativo está sujeito a riscos cambiais e regulatórios. Mudanças na legislação podem afetar a estrutura de stablecoins no Brasil, que ainda carece de regulamentação específica.

Embora a Lei 14.478 já traga diretrizes para prestadores de serviço, stablecoins emitidas por instituições financeiras tradicionais poderão ser alvo de regras adicionais do Banco Central no futuro. Isso pode gerar obrigações extras de compliance, auditorias regulares e custos adicionais.

O impacto esperado no mercado cripto do Brasil é significativo. O Safra Dólar pode atrair clientes que até então evitavam ativos digitais pela falta de respaldo institucional, ajudando a reduzir a percepção de risco.

Também deve aumentar a concorrência entre bancos e fintechs que já oferecem stablecoins ou produtos similares, acelerando o ritmo de inovação. Para o ecossistema como um todo, a entrada de um banco do porte do Safra legitima o uso de stablecoins como ferramenta de investimento e proteção cambial.

Regulação internacional

Internacionalmente, o movimento se alinha a uma tendência de bancos tradicionais que passaram a lançar suas próprias moedas digitais estáveis.

Nos EUA, os projetos de stablecoins já enfrentam pressão regulatória para garantir uma maior transparência e auditorias periódicas.

Na Europa e em mercados como Suíça e Singapura, a emissão de stablecoins também ocorre por instituições financeiras de renome. O Brasil, com o Safra Dólar e o BTG Dol, posiciona-se como um dos pioneiros da América Latina nesse segmento.

Mas o sucesso do produto dependerá da execução. Liquidez, clareza nos custos, segurança tecnológica e confiança regulatória serão elementos centrais para a aceitação do Safra Dólar pelo público.

Para quem já buscava formas simples de dolarizar parte do patrimônio, a novidade representa uma alternativa prática e digital. Além disso, a stablecoin de um banco centenário pode inaugurar uma nova fase de institucionalização e acelerar a integração entre o sistema financeiro tradicional e os ativos digitais.

Safra pode impulsionar educação do setor

O lançamento do Safra Dólar simboliza também um passo importante para a educação dos investidores. Muitas pessoas ainda confundem stablecoins com criptomoedas voláteis, sem compreender a lógica de lastro e a função de proteção cambial.

A iniciativa do Safra tende a estimular discussões sobre diferenças entre tokens estáveis, ativos digitais e instrumentos tradicionais, criando espaço para uma maior maturidade do mercado local.

Em última análise, o Safra Dólar reforça uma mensagem clara de que as stablecoins estão deixando de ser apenas um produto de exchanges ou startups e passando a integrar o portfólio de grandes bancos.

Disclaimer: Coinspeaker está comprometido em fornecer reportagens imparciais e transparentes. Este artigo tem como objetivo fornecer informações precisas e oportunas. Mas não deve ser considerado como conselho financeiro ou de investimento. Como as condições do mercado podem mudar rapidamente, recomendamos que você verifique as informações por conta própria. E consulte um profissional antes de tomar qualquer decisão com base neste conteúdo.

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Marta Stephens

Marta Barbosa Stephens é escritora e jornalista formada pela Universidade Católica de Pernambuco, com mestrado na PUC São Paulo e pós-graduação em edição na Universidade de Barcelona. Trabalhou em diversas redações de jornais e revistas no Brasil. Foi repórter de economia no Jornal da Tarde, do grupo O Estado de São Paulo e editora-adjunta de finanças pessoais na revista IstoÉ Dinheiro. Atuou no mercado de edição de livros de finanças em São Paulo e foi, por seis anos, redatora-chefe da revista Prazeres da Mesa (https://www.prazeresdamesa.com.br/), antes de se mudar para Inglaterra. No Reino Unido, foi editora do jornal Notícias em Português, voltado à comunidade lusófona na Inglaterra. Escreve e edita sobre o mercado de criptomoedas e tecnologia blockchain desde 2022.