IOF sobre stablecoins de real não faz sentido, diz executivo

Para Rocelo Lopes, essa categorização não faria sentido econômico nem prático.

Leonardo Cavalcanti By Leonardo Cavalcanti Flavio Aguilar Edited by Flavio Aguilar Atualizado em 5 mins read
IOF sobre stablecoins de real não faz sentido, diz executivo

Resumo da notícia

  • A medida surge como um complemento à recente regulação conduzida pelo Banco Central do Brasil (BCB).
  • Para Rocelo Lopes, CEO da SmartPay, a cobrança sobre stablecoins pareadas em real não faria sentido econômico nem prático.
  • A preocupação é que uma carga tributária excessiva sobre stablecoins torne inviável sua adoção.

A apresentação de uma proposta de tributação específica para cripto e stablecoins pela equipe econômica do governo já está gerando repercussão.

A medida surge como um complemento à recente regulação conduzida pelo Banco Central do Brasil (BCB). Ela é vista pelo setor como essencial para dar segurança jurídica e permitir que as stablecoins atreladas ao real — e outras soluções cripto nacionais — escalem com previsibilidade.

Para Rocelo Lopes, CEO da SmartPay (atualmente parte do Rezolve AI Group), o anúncio de tributação não surpreende:

Sabíamos que em algum momento viria tanto a regulamentação perante o Banco Central quanto uma definição da equipe econômica sobre impostos.

No entanto, ele alerta que há ‘pontos quentes’. Especialmente, no que se refere à tributação de stablecoins nacionais pareadas ao real.

IOF e stablecoins: cuidado com distorções

O principal receio dos agentes do mercado é que stablecoins 1:1 com o real sejam tratadas como operações cambiais sujeitas ao Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Para Lopes, essa categorização não faria sentido econômico nem prático:

Seria o equivalente a cobrar IOF sobre transferências via Pix.

Afinal, se a stablecoin tem paridade garantida com o real, não há conversão cambial real nem ganho de capital — trata-se apenas de uma representação digital do mesmo valor fiduciário. Então, seria diferente de ativos voláteis, como as melhores criptomoedas.

A preocupação é que uma carga tributária excessiva sobre a entrada e saída de stablecoins torne inviável sua adoção para pagamentos, transferências e demais usos cotidianos. Segundo Lopes:

Se a paridade é um para um com o real, não há lógica em criar uma tributação adicional.

O executivo acredita que uma definição mal calibrada pode sufocar a inovação e fazer com que o Brasil se torne, mais uma vez, mero espectador de tecnologias que poderiam liderar o mercado global.

Incentivo à indústria nacional, mas com regras claras

Por outro lado, Lopes vê potencial positivo numa tributação bem estruturada. Na sua visão, com regras claras e justas, o Brasil poderia impulsionar o desenvolvimento de soluções próprias, fortalecendo empresas nacionais e oferecendo alternativas competitivas no mercado cripto global:

Essa definição pode incentivar a indústria nacional e beneficiar quem está construindo novos modelos de economia com o real como referência.

Ou seja, a regulamentação com tributação adequada poderia aumentar a credibilidade das plataformas domésticas frente a bancos, investidores estrangeiros e reguladores — um movimento essencial para atrair capital e consolidar o ecossistema no país.

Do risco à segurança jurídica

A recente regulação promovida pelo Banco Central trouxe avanços importantes. Por exemplo, o órgão definiu regras para prestadores de serviços de ativos virtuais, exigiu controles AML/KYC e permitiu que instituições financeiras atuem em conjunto com os players de cripto.

Para Lopes, a tributação é a peça que faltava para tornar o ambiente realmente seguro e sustentável. Afinal:

Não é mais como antes, quando bancos encerravam contas por falta de regras. Hoje eles vendem criptomoedas justamente porque existe regulamentação.

A adoção de uma política fiscal transparente e consistente permitirá que empresas operem com maior previsibilidade. Ou seja, reduziria a aversão das instituições tradicionais e fomentaria novas parcerias.

Isso, segundo ele, pode destravar investimentos em infraestrutura e inovação, além de ampliar a oferta de serviços como wallets, stablecoins nacionais e soluções de pagamento integradas.

Questões técnicas que ainda exigem resposta

Apesar do consenso quanto à necessidade de definição tributária, ainda há detalhes nebulosos. Entre os principais:

  • Qual será a base de cálculo do imposto? Ela levará em conta apenas operações com potencial de ganho ou também transferências e conversões de stablecoins?
  • A tributação incidirá sobre entrada e saída ou apenas sobre ‘lucro’ ou rendimento (quando aplicável)?
  • Como será tratada a conversão entre criptoativos ‘hard money’ (como Bitcoin) e stablecoins lastreadas no real?
  • Haverá distinção entre stablecoins lastreadas em real emitidas por entidades autorizadas e ativos digitais de projetos privados sem lastro real?

O temor é que uma regulamentação genérica acabe punindo erroneamente stablecoins reais com o mesmo rigor de criptomoedas voláteis. Portanto, inviabilizaria seu uso como meio de pagamento ou reserva de valor estável.

Um momento decisivo para o mercado cripto brasileiro

A expectativa pela proposta tributária chega em um momento crítico de maturação do mercado. O ecossistema viu nos últimos anos o surgimento de exchanges reguladas, soluções de custódia, stablecoins lastreadas em real e serviços integrados com o sistema financeiro tradicional.

Nesse contexto, uma definição clara de impostos pode acelerar a adoção por usuários, empresas e investidores — especialmente aqueles que buscam compliance e segurança jurídica.

Por fim, para a SmartPay/Rezolve AI Group, o desafio agora é garantir que a tributação promova o crescimento e não seja barreira. Como afirma Lopes:

É preciso definir qual será o valor do imposto para não matar essa economia.

O ideal, segundo ele, é que stablecoins pareadas ao real sejam vistas como uma extensão digital da moeda fiduciária. Não como um ativo especulativo ou cambial.

Disclaimer: Coinspeaker está comprometido em fornecer reportagens imparciais e transparentes. Este artigo tem como objetivo fornecer informações precisas e oportunas. Mas não deve ser considerado como conselho financeiro ou de investimento. Como as condições do mercado podem mudar rapidamente, recomendamos que você verifique as informações por conta própria. E consulte um profissional antes de tomar qualquer decisão com base neste conteúdo.

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Leonardo Cavalcanti

Leonardo Cavalcanti é jornalista especializado em criptomoedas, blockchain e finanças digitais. Além de tocar projetos próprios como o podcast BlockHistory. Também trabalha em desenvolvimento de negócios no ecossistema cripto como parceiro comercial Azify, com foco em parcerias estratégicas, tokenização e soluções de infraestrutura financeira.