EUA e Reino Unido preparam um anúncio inédito para a cooperação regulatória em cripto e stablecoins.
Objetivo é harmonizar regras, criar sandboxes conjuntos e facilitar acesso transatlântico a mercados.
Pacto pode atrair capital, estimular inovação e reposicionar Londres como hub competitivo.
Desafios incluem diferenças regulatórias históricas e risco de supervisão sufocar startups.
Estados Unidos e Reino Unido estão prestes a anunciar um acordo inédito de cooperação regulatória no setor de criptomoedas, stablecoins e ativos digitais, conforme noticiou o Financial Times na terça-feira (16/09).
A decisão foi costurada durante a visita oficial do presidente Donald Trump a Londres e reflete uma aproximação diplomática entre as duas maiores praças financeiras do Ocidente. Além disso, mostra uma resposta coordenada à crescente pressão por clareza regulatória e competitividade no mercado global de criptoativos.
O anúncio, segundo informações do Financial Times, deve ocorrer após reuniões entre a chanceler britânica Rachel Reeves e o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, que contaram também com a presença de representantes de grandes bancos, como Barclays, Citi e Bank of America, além de líderes da indústria cripto como Coinbase, Circle e Ripple.
Acordo entre EUA e Reino Unido mira em stablecoins
O objetivo central do acordo entre EUA e Reino Unido é harmonizar regras em torno de stablecoins e criar um ambiente mais previsível para empresas operarem em ambos os lados do Atlântico. Ao mesmo tempo, fortalece o acesso de startups britânicas ao mercado norte-americano.
O foco está em abrir espaço de clareza regulatória para que as melhores criptomoedas entrem sem problemas no ecossistema tradicional. E o contexto que motiva essa aliança é claro.
De um lado, o Reino Unido enfrenta preocupações crescentes sobre a fuga de empresas de criptoativos para jurisdições mais favoráveis. Um destino frequente é os Estados Unidos, que têm sinalizado maior abertura à inovação financeira digital.
Do outro lado, os americanos buscam consolidar regras mais transparentes e previsíveis para stablecoins e ativos digitais, após anos de críticas a uma postura marcada pela chamada ‘regulação via enforcement’.
No Reino Unido, o governo já vinha esboçando propostas para trazer exchanges e intermediários cripto sob supervisão financeira, bem como para regular stablecoins em moldes similares às normas bancárias.
Ainda assim, o setor reclamava da falta de clareza e de medidas mais concretas para garantir competitividade frente à União Europeia e aos Estados Unidos.
Já em Washington, avanços como o GENIUS Act, recentemente aprovado para estruturar o mercado de stablecoins, mostraram disposição em dar respostas institucionais mais robustas ao setor.
O que diz o acordo
O acordo entre EUA e Reino Unido deve incluir cláusulas como a criação de sandboxes regulatórios conjuntos para testes de novas tecnologias e aplicações de blockchain, além de padrões alinhados para auditoria, reservas e transparência de stablecoins.
Segundo o Financial Times, outra frente deve ser o reconhecimento mútuo de algumas licenças e autorizações. Portanto, facilitaria o acesso de empresas britânicas ao mercado americano e vice-versa. Também ajudaria a reduzir custos operacionais e burocráticos para companhias que desejam atuar de forma transnacional.
Além disso, há a intenção de proteger Londres da perda de relevância como centro global de inovação financeira. Afinal, várias startups cripto haviam começado a migrar para Nova York ou até para mercados asiáticos em busca de regras mais claras.
Os possíveis benefícios desse acordo são numerosos. Para empresas de cripto e fintechs, a maior clareza regulatória significará menos incertezas jurídicas e custos mais previsíveis. Investidores institucionais podem se sentir mais confiantes em alocar recursos em projetos digitais com um arcabouço jurídico robusto por trás.
Movimento pode atrair capital
O alinhamento regulatório também deve atrair capital e inovação, acelerando o desenvolvimento de produtos financeiros tokenizados, protocolos de DeFi e soluções de blockchain em escala global.
Do lado britânico, o país poderá se reposicionar como hub competitivo, após críticas de que estava ficando atrás da União Europeia e dos Estados Unidos na corrida regulatória.
Para os consumidores, regras coordenadas prometem maior proteção contra fraudes, golpes e riscos de manipulação de mercado, um problema que ainda pesa sobre a reputação do setor.
Mas o caminho não está livre de desafios. Historicamente, Estados Unidos e Reino Unido têm abordagens diferentes na supervisão de mercados financeiros, na proteção ao investidor e na estabilidade monetária.
Harmonizar essas diferenças exigirá tempo, negociação política e ajustes burocráticos. Além disso, há o risco de supervisão excessiva sufocar a inovação. Inclusive para startups menores que não possuem a mesma capacidade de lidar com custos de compliance que grandes players globais.
Compatibilidade técnica também é desafio
Outro ponto sensível será a compatibilidade técnica entre diferentes normas, principalmente em áreas como transferência de dados, auditorias internacionais, responsabilidade em casos de fraudes cross-border e regime tributário de transações envolvendo criptoativos.
Os impactos do acordo no mercado cripto podem ser profundos. Empresas britânicas de cripto, como exchanges, provedores de infraestrutura e projetos de tokenização, terão melhores condições para acessar o mercado norte-americano, hoje considerado o mais relevante para investidores institucionais.
Já as stablecoins, foco central da cooperação, podem se beneficiar de regras claras de reserva, auditoria e transparência. Isso deve aumentar a confiança de usuários e reguladores. Em contrapartida, stablecoins emitidas em jurisdições menos rígidas podem perder espaço.
O setor de finanças descentralizadas e tokenização deve ganhar novo fôlego, com menos barreiras para lançar produtos cross-border. Em termos globais, o acordo pode estimular outros países e blocos, como a União Europeia e algumas nações asiáticas, a acelerar regulações próprias para não perder espaço no mercado internacional de criptoativos.
Exemplos recentes ajudam a entender a importância do movimento. Em abril de 2025, o Reino Unido apresentou um projeto para regular exchanges e intermediários de cripto, alinhando-se parcialmente ao modelo dos EUA. Também ventilou a possibilidade de isentar emissores estrangeiros de stablecoins de algumas regras, facilitando a atração de emissores globais.
Do lado americano, medidas como a aprovação do GENIUS Act demonstraram disposição em estruturar uma base regulatória mais estável.
Agora, a cooperação transatlântica pode representar o passo necessário para transformar intenções em práticas concretas. No entanto, ainda existem muitas questões em aberto.
Marco histórico
O anúncio de uma cooperação regulatória entre EUA e Reino Unido marca um passo histórico na institucionalização do mercado de criptoativos. Se bem implementado, o acordo pode inaugurar uma nova fase de maturidade para o setor, oferecendo legitimidade, clareza e previsibilidade sem sufocar a inovação.
Para investidores, startups e instituições financeiras, o pacto sinaliza que a indústria cripto deixou de ser marginal. Em vez disso, ocupa agora um espaço central nas estratégias de política econômica e financeira global.
Por outro lado, o sucesso dependerá de como reguladores e legisladores equilibrarão segurança com liberdade inovadora, evitando tanto a inércia quanto o excesso.
De qualquer forma, o recado é claro: o eixo transatlântico está determinado a assumir a liderança na construção de regras para o futuro das finanças digitais.
Disclaimer: Coinspeaker está comprometido em fornecer reportagens imparciais e transparentes. Este artigo tem como objetivo fornecer informações precisas e oportunas. Mas não deve ser considerado como conselho financeiro ou de investimento. Como as condições do mercado podem mudar rapidamente, recomendamos que você verifique as informações por conta própria. E consulte um profissional antes de tomar qualquer decisão com base neste conteúdo.
Marta Barbosa Stephens é escritora e jornalista formada pela Universidade Católica de Pernambuco, com mestrado na PUC São Paulo e pós-graduação em edição na Universidade de Barcelona.
Trabalhou em diversas redações de jornais e revistas no Brasil. Foi repórter de economia no Jornal da Tarde, do grupo O Estado de São Paulo e editora-adjunta de finanças pessoais na revista IstoÉ Dinheiro. Atuou no mercado de edição de livros de finanças em São Paulo e foi, por seis anos, redatora-chefe da revista Prazeres da Mesa (https://www.prazeresdamesa.com.br/), antes de se mudar para Inglaterra.
No Reino Unido, foi editora do jornal Notícias em Português, voltado à comunidade lusófona na Inglaterra.
Escreve e edita sobre o mercado de criptomoedas e tecnologia blockchain desde 2022.
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